Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

13 janeiro 2010

RETRATOS 13 = ERROLL GARNER
Um Panorama de 88 Teclas Mágicas

(H) MINI-BIOGRAFIA - 3ª PARTE

Em 1970 Garner excursiona pela América do Sul: apresenta-se no Rio de Janeiro a 10 de julho, no Teatro Municipal (era então Administrador do teatro o Comendador Pedro Lauria, avô paterno de Pedro Cardoso), seguindo no dia seguinte para São Paulo, onde realizou 03 apresentações de 12 a 15 de julho.
Então ainda se comemorava a conquista da IX Copa do Mundo de Futebol no México, no dia 21 de junho (Brasil 4 x Itália 1).
Em 1972 vai à Austrália e ao Oriente. Sempre platéias lotadas, exigentes e plenas de expectativa, ás quais Garner sempre soube retribuir e encantar com apresentações de gala, permanentemente sentado em grossa lista telefônica (de preferência a de Manhattan) e, como exigência desde 1957, recebendo a luz cor-de-rosa dos projetores, sobre sua figura imaculadamente vestida e seu penteado com brilhantina.
A crítica, sempre a crítica, nessa fase, é que Garner sacrificava parte de sua arte pelo espetáculo, repetindo-se desde meados dos anos 50, buscando acima de tudo agradar ao público(parece que a crítica esquecia o que então eram as apresentações de Louis Armstrong). Mas Erroll Garner não era apenas “espetáculo” (como se isso fosse um mal em si, sabendo-se que seus espetáculos, muito acima e além da crítica, eram exibições de beleza e de técnica, o mais das vezes incompreensíveis para essa crítica, ou seja lá a alcunha que se lhe dê).
Em março de 1968 volta a gravar com sucesso e arte, registrando para a etiqueta MGM o album “Up In Erroll’s Room”, com arranjos de Don Sebesky e, à frente de Pepper Adams, Jimmy Cleveland, Bernie Glow, Don Butterfield e Jerome Richardson, desfila as faixas “I Got Rhythm”(cuja introdução é mais uma pérola de Garner), “Watermelon Man” e outras.
Em 1971 e como indicado na “Filmografia” adiante, Garner é o autor da trilha sonora do primeiro filme dirigido por Clint Eastwood, “Play Misty For Me”.
Em 1972 Erroll Garner é a figura de maior destaque no festival “Pescara Jazz”, na Itália.
Em outubro de 1973 Garner grava pela última vez, em New York, formando quarteto com Bob Cranshaw, Graddy Tate e o percussionista José Mangual.
Em fevereiro de 1975 e no “Kelly’s” de Chicago, Garner faz sua derradeira apresentação em público.
Em 1976 e por ocasião de seu 55º aniversário, Garner é homenageado pela Câmara dos Representantes do Congresso americano. Em tradução livre e na sessão de 15 de junho de 1976, conforme o número 92 do volume 122 do “Congressional Record”, extraímos o seguinte texto, sob o título “Errol Garner, Feliz Aniversário”.

- Locutor da Câmara dos Representantes = Mediante prévia autorização da Câmara, o cavalheiro da Pensilvânia, sr. Moorhead, tem a palavra por 05 minutos”
- Moorhead = Sr. Locutor, hoje, Erroll Garner, natural de Pittsburgh e um dos músicos mais populares em todo o mundo, celebra seu natalício. Aproveito esta oportunidade para saudar esse gigante musical e lembrar para meus colegas da Câmara dos Representantes alguns dos feitos e das contribuições desse pianista e compositor.
Começando muito cedo na Pensilvânica, esse homem ganhou aclamação mundial e brindou alegria e grande compreensão com sua música única e inovadora, para os povos de todas as partes do mundo.
É particularmente oportuno saudar Garner nesse Ano do Bicentenário (Moorhead referia-se ao bicentenário da Declaração da Independência dos U.S.A., que seria comemorado em 04 de julho de 1976), dado que ele é um artista profundamente enraizado no cenário americano. Uma lenda viva desde o início da década de 20, Garner nasceu com um grande e natural dom para a música. Auto-didata, iniciou-se no piano com 03 anos de idade, atuando profissionalmente em Pittsburgh quando tinha 07 anos, na rádio KDKA e em teatros locais. O auto-desenvolvimento de seu talento poude ser apreciado desde os “Riverboats” do Rio Allegheny, até seus desempenhos nas maiores salas de concerto da América e do mundo.
Garner é um artista original, inovador e acatado como uma das mais destacadas vozes musicais do século. Nos 25 anos mais recentes ele vem sendo reconhecido como uma das influências mais importantes do piano contemporâneo.
Em 1950 Garner estreava em concerto de piano-solo; mais tarde, em 1957, ele era solista convidado de orquestras sinfônicas por todos os U.S.A. Foi um pioneiro que abriu portas para outros artistas em salas de concerto, emissoras de televisão, colégios, feiras e congressos, teatros e hotéis. Permanentemente atuou para melhorar seu desempenho e ampliar as condições para suas audiências, resistindo com consistência às ofertas para situações de segregação, em qualquer parte do mundo.
Garner é o único artista com idioma do JAZZ, a excursionar para temporadas sob os auspícios do veterano empresário de música clássica, S. Hurok.
Garner tem sido honrado e aclamado internacionalmente. Ele foi agraciado com as chaves de numerosas cidades americanas, incluindo Pittsburgh, Omaha, Indianápolis, Kansas City e Boston, assim como foi homenageado por Governadores de diversos Estados.
Um dos prêmios internacionais favoritos de Garner é o Grand Prix du Disque da Academia Francesa de Artes. Seu trabalho está devidamente registrado e enterrado no Teatro da Comédia Francesa, em uma “cápsula do tempo”. Os críticos franceses chamam Garner de “Homem com 40 Dedos” e o “Picasso do Piano”. A República de Mali emitiu selo postal homenageando Garner (nota: também o Gabão e os U.S.A. emitiram selos com a efígie de Garner) e ele foi convidado para atuar nos “Command Performances” por toda a Europa.
O trabalho de Garner como compositor é bem significativo. São muitas as composições de sua autoria, incluindo-se aí a mais famosa - Misty - que lhe aumentou o reconhecimento como compositor. “Misty” foi gravada por muitos e muitos artistas e em todos os gêneros - sinfonias, pop, rock, soul e, mais recentemente, no campo da música “country and western”, voltando a ganhar o pódio da ASCAP. Essa canção também foi o tema do filme “Play Misty For Me”, assim como permaneceu por mais de uma década como tema musical do “Today Show” da televisão NBC.
Por uma única gravação Garner tem sido premiado em todo o mundo: seu álbum “Concert By The Sea” é considerado um marco como “bestseller” em disco por muitos anos. No ano passado Garner foi homenageado no “Catálogo do 25º Aniversário da Enciclopédia Musical Schwann” como um dos 03 músicos de JAZZ que tiveram gravações incluídas durante todos os 25 anos da “Schwann”.
O “Clube do Livro do Mês” desse ano editou uma coleção especial com 03 albuns de Garner, sob o título de “O Erroll Garner Essencial”.
A “Rede Nacional de Educação Pública” produziu meia hora de um especial sobre Garner para televisão, frequantemente exibido aqui e no exterior.
Por sua vida de trabalho criativo e inovador, esse homem é bem-vindo como artista e merece as maiores honras e o nosso respeito: soube cunhar seu desempenho no País e internacionalmente, além fronteiras, fazendo crescer amizades e os melhores sentimentos nas mais híbridas audiências, em todas as culturas e idades.
Por tudo isso é um prazer celebrar o aniversário de Erroll Garner, e estou certo que a Câmara dos Representantes lhe deseja muitos anos mais de trabalho pleno e atividade criativa.”

Ainda no final desse ano de 1976 Garner foi internado no “Memorial Hospital” de Chicago com diagnóstico de pneumonia virótica mas, na realidade, foi detectado um câncer pulmonar. Seus últimos meses foram carinhosamente acompanhados por sua última companheira, Rosalyn Noisette (e Garner sempre manteve sua vida particular afastada do público e dos meios de comunicação, sabendo-se somente que gostava de cozinhar, de assistir boxe, de jogar golfe e de seu cão de estimação) e por sua empresária Martha Glaser, que o assistiu em seu momento derradeiro, vítima de ataque cardíaco: 55 anos, dia 02 de janeiro de 1977.
É Martha Glaser que assume o material discográfico de Erroll Garner (parte dele inédito), passando a editá-lo pela etiqueta TELARC (originalmente esse material pertencia ao selo OCTAVE Records, de propriedade de Garner).
O funeral de Erroll Garner foi realizado em sua terra natal, na Catedral de Pittsburgh, em 07 de janeiro, ao qual comparecem centenas de personalidades, entre as quais o Presidente dos U.S.A., Jimmy Carter.
A missa do funeral foi encerrada com a saída do cortejo da Catedral, ao som das notas de “Misty”.
Segue em
(I) BIBLIOGRAFIA e (J) FILMOGRAFIA

3 comentários:

MARIO JORGE JACQUES disse...

Grande Apóstolo, enorme sua resenha e melhor cada vez mais, com preciosas informações. Estava eu, lá no Teatro Municipal, noite memorável, mas.... há de se registrar a total falta de tudo, do venerado Errol, educação, sensibilidade com o público, agradecimento sei lá o que mais. Após o encerramento com o teatro cheio,não lotado mas bem cheio, os merecidos aplausos, muitos,muitos e fortes ,assobios, gritos. A luz acende, a luz apaga e nada de Mr Errol. Se não estivesse bem, ou sem saco de tocar mais, ou com dor de barriga, caramba pelo menos uma chegada ao palco e um adeusinho, mas nada, nadinha... creio que foram cerca de 10-12minutos até todos se convencerem de que o homem não estava a fim e fomos embora. Nunca ví nada parecido, nem no teclado nem na atitude,but nobody is perfect.
Um grande abraço

Érico Cordeiro disse...

Caro Apóstolo,
De volta ao batente, com as baterias recarregadas, e em grande estilo.
Belíssimo trabalho - Garner merece!
Pena que, conforme o MaJor relatou, ele não tenha sido muito simpático em sua apresentação no Municipal.
Não obstante, deu ao mundo Misty - e creio que isso o absolve.
Grande abraço!
PS.: Estamos com saudades de você no jazz + bossa - e de você também, meu caro MaJor (preparei um post sobre o Ray Drapper e as informações sobre a tuba foram tiradas "d'A Bíblia" (o apelido carinhoso que pus no Glossário).

APÓSTOLO disse...

Estimado MÁRIO:
É importante assinalar com insistência que o que estou postando sobre ERROLL GARNER é trabalho conjunto com Mestre LULA (com quem tive o prazer de estar no sábado 09/janeiro, mais que saboreando um belo risoto de camarão em Charitas, aproveitando algumas horas na residência dele e no "Fort Knox", que você tão bem conhece, com prateleiras mil abarrotadas de "matéria").
Sobre a apresentação de GARNER no Municipal os capítulos finais esclarecem bem o que pudemos presenciar.

Prezado ÉRICO:
Como estive fora de meu cubículo em SAMPA, atrasei-me com postagens e "presença" nos espaços importantes, sendo o seu, o do prezado JOHN LESTER e o do FLÁVIO, os que realmente qualificam a convivência virtual em alto nivel.
Mas logo logo estarei "assinando ponto", claro que com a cerveja por minha conta....