Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

TERENCE BLANCHARD - SALA CECÍLIA MEIRELLES - 14/09/09

17 setembro 2009

Cheguei à castigada sala de concertos no Rio para ver o quinteto de Terence Blanchard tendo deixado para trás um maravilhoso embate - a final do US Open de Tênis, entre o veterano recordista e multi-campeão Roger Federer e o jovem argentino Juan Martin Del Potro, força em ascensão no panorama atual. Como não sou um grande apreciador do estilo musical de Blanchard, a quem já vira em diversas oportunidades anteriores, compareci muito mais pela abstinência forçada de jazz ao vivo no Rio, associado ao empenho dos confrades do CJUB em estarem juntos, para ouvir e depois comentar o concerto, prática histórica e sempre muito agradável de convivência entre nós.

Logo ao entrar, a alegria de encontrar com Mestre Llulla - o bom - e poder abraçá-lo depois de tanto tempo. Sua presença era como uma chancela ao que estava por vir, em termos musicais, um certificado de garantia quanto à qualidade do jazz a iniciar-se em poucos minutos.

E bastou o concerto ter início, civilizadamente às 21:00 hrs em ponto, com a intervenção em solo do jovem baixista africano (Olatuja) por alguns vários minutos, seguido do também jovem pianista cubano (Almazan) e do baterista afrodescendente norte-americano (Scott), para que eu percebesse, mesmo antes da entrada dos sopros - o líder Blanchard no trompete e o arizoniano Winston no tenor - que presenciaríamos mais uma noite de muitas idéias, climas, virtuosismo e técnica mas, provavelmente, de escasso prazer, para não dizer algum "sofrimento".

Explico: para um interessado por jazz como eu, que iniciei muito jovem, antes dos 12 anos, minhas audições ouvindo majoritariamente a Dave Brubeck, a Bud Powell, aos Heath Brothers, a Gerry Mulligan, a Gene Ammons, a Stan Getz, ao Nat King Cole Trio, a Sir Roland Hanna, a Erroll Garner, a Billie Holiday e Ella Fitzgerald, a Chet Baker, a Sonny Rollins e a Bill Evans e fui me acostumando a essa vertente do jazz mais "macio", inflacionado de lirismo (em contraponto a fraseados tão mirabolantes quanto agudos e até certo ponto agressivos ao ouvido mediano), o que se prenunciava ali já se poderia considerar como a uma experiência "esotérica".

Pois que os compositores da atualidade, já tendo estudado todo o passado dos grandes mestres do jazz de trás pra frente e de cabeça para baixo, acham que tem de compor e executar "suites" tão geniais e intrincadas que deixem a todos - neófitos, velhófitos e bestófilos - embasbacados. Tanto por sua maestria na composição quanto na execução.

Na verdade, ficamos entalados com tantas idéias e notas e com o interplay em altíssima velocidade, que nem mesmo conseguimos perceber o swing, o beat. O quais, pelo menos, nos levariam a participar da alegria das interpretações que nos acostumamos a ouvir e a chamar de jazz. Algo com a exposição do tema central, sobre o qual os músicos apoiavam suas razões momentaneas, improvisadas, mas que podíamos, no mais das vezes, acompanhar - ao menos no ritmo - sacando que ia pelo meio e nos preparando para o fim. Jazz mesmo, tinha pé e cabeça.

O que se viu na noite de segunda feira - sem entrar no mérito da reprodução de vozes/depoimentos impertinentes, aos quais fomos obrigados, por educação, a aturar -, foi um desfiar de idéias musicais de vanguarda, em uma sequencia de climas mais apropriados a trilhas sonoras - o que parece ser, majoritariamente, o métier principal de Terence Blanchard nos últimos anos - todas muito bem executadas pelo quinteto, porém com arranjos bem distintos do que se poderia desejar para um concerto de jazz.

Mudou o conceito ou teríamos, Mestre Llulla e eu estacionado no tempo? É uma questão de gosto pessaol, mais uma vez.

Gostei de ter estado lá, ouvi belas passagens construídas com esmero e técnica mas que não me empolgaram como jazz, necessariamente. Faltou swing, balanço, malemolência, sensualidade, malandragem, contraponto. Pode ter sido até rotulado como jazz, mas para o jazz que eu aprecio, mesmo, como o tipo de música que mais me dá prazer em ouvir, faltou molho.

Enquanto isso, em Flushing Meadows, a potencia, a velocidade, a juventude e a impetuosidade de Del Potro arrasaram com a classe e o estilo clássico de Roger Federer.

Minha cotação: @@@

8 comentários:

Andre Tandeta disse...

Por US$ 50 , preço aproximado do ingresso para a apresentação de Terence Blanchard na Cecilia Meirelles, seria possivel conseguir um bom lugar ,pelo menos razoavel,para assistir a final do US Open ?
Entendi bem sua opinião ,meu caro Pres. Mas não deveria ser motivo de surpresa o conteudo musical apresentado ,Blanchard tem inumeros discos ,possibilitando conferir a sua concepção musical.
Ou seria como em 1974 quando Miles esteve aqui e alguns queriam ouvir "My Funny Valentine' ,que ele ja não tocava ha pelo menos uns 10 anos. La como ca era só dar uma ouvida nos ultimos discos. Pagando 100 reais por cabeça pra ver o concerto seria bom ter pelo menos uma ideia do que iria ser apresentado,o que hoje em dia com a internet é muito facil.
Sugiro que numa proxima oportunidade voce dê uma "fuçada" antes.
Abraço

MauNah disse...

Combativo parceiro,
conheço razoavelmente mas nem sempre gosto do trabalho do Blanchard. Foi questão de momento, maré, sindrome de abstinência, chame do que quiser, o fato de eu ter ido até lá gastando essa nota.
Mas como lhe disse, aproveitei várias partes do concerto, sim.

A atuação do baterista Kendrick Scott, por exemplo, como já se mencionou aqui, foi sensacional, tendo ganhado do próprio Terence um elogio estelar, algo como "o melhor, mais criativo baterista com quem já pude trabalhar, além de um excelente compositor", etc etc. De fato o segundo tema apresentado, intrincadíssimo, era da autoria de Scott, que sobrou em seu instrumento.

O saxofonista do Arizona (Tulsa), coisa que poderia parecer algo não recomendável à primeira vista, teve ótima participação, tanto em uníssono com Blanchard como em solo, e apresentou idéias e execução de alto nível.

O jovem pianista cubano, no entanto, embora dotado de capacitação técnica plena, preferiu voar controlado, criando filigranas - até interessantes - apenas no centro do teclado, ou um palmo para cada lado, repetindo patterns com pequenas variações quase que imperceptíveis em tempo e variedade, parecia estar tecendo uma renda delicada, o que o afasta totalmente da exuberante escola cubana de piano, representada tão alegremente pelos Valdez e por Rubalcaba, para ficar em tres nomes. Para mim ele estava criando climas e não tocando jazz, se me entende...

O conjunto foi harmonioso e profissa, como já disse. Mas está longe de me empolgar, pelo meu passado de experiências auditivas, como algo a que eu rotularia dentro da minha cabeça como prazeroso JAZZ.

Abs.

Andre Tandeta disse...

Obrigado pela atenção ,carissimo Pres.
Espero que de uma outra vez voce tenha mais sorte.
De todo modo esse concerto deu uma acendida em nosso blog que teve tres resenhas postadas por ninguem menos que Lula,Bene-x e o nosso Pres.
E mesmo sabendo da sua agenda sempre apertada gostaria de ler mais posts escritos por voce, tanto pela forma quanto pelo conteudo,clareza de pontos de vista e sempre simples e despretencioso ,qualidades das mais apreciaveis.
Abraço

Mau Nah disse...

Tenecio,
estou devendo, particularmente, ao "BigLeone"(prometi e não cumpri ainda, o que me leva a possibilidade de ser acorrentado a um rochedo tendo meu fígado - que, gostaria de propor, fosse o estômago, por razões óbvias - devorado todos os dias por um abutre) a resenha do disco de vocês com a Jane.
Seu comentário "polemico" em outro post, outro dia, pegou-me em cheio.
Isso é o que dá, assumir coisas para fazer que demandem tempo sem dispor necessariamente da largueza para fazer como é devido.
Vou cumprir, sim, pode me aguardar.

Agora, só falta tirar o CD do carro, levar para casa, botar o headphone, me deixar levar, e consignar os detalhes - diz-se que o Diabo ali habita - sem os quais uma resenha sobre material tão importante e rico, sob tantos aspectos poderia passar por leve ou mesmo leviana.

Mas promessa é dívida e vou cumprir.

Quajnto ao outro CD, o do Tom, teremos que pedir a outro Cjubiano que a ele se dedique.

Abraçaço e inté!

Bene-X disse...

V. tem ótimo ouvido, MauNah, sempre disse isto. Daí a sensibilidade de descrever, com admirável empirismo, "como" e o "quanto" gostou, ou não, de determinada sessão ou concerto.

Além disto, escreve muito bem e de modo bastante direto, quase tão direto quanto o jazz que lhe apraz.

E nisto nenhum defeito vai. O problema é o que o jazz, há muito, desde o bebop eu diria, culturalmente ultrapassou a barreira da música, na acepção isolada de "arte". E este fenômeno, fazer jazz para além da música, torná-lo uma provocação para o espírito, foi entendido apenas pelos artistas intelectualmente privilegiados. Mas nem sempre eles foram ou são bem sucedidos (para o grande público) neste esforço de "transcender" (e o caso, até hoje, de Ornette). Por outro lado, nem todos "querem" que, sempre, o jazz "transcenda". Nem eu quero o tempo todo, pelo contrário.

Mas uma coisa é certa: o concerto de Blanchard nada teve, em seus objetivos, a ver com vertente de compositor de trilhas. O único ponto possível de interceção, seria, no máximo, a convição que ele, seja como jazzman seja como trilheiro, tem acerca do impacto tanto do jazz como do cinema, para bem longe apenas de olhos e ouvidos, na reflexão, no espírito, na comoção.

Congrats pelo post e

Abs.,

Mau Nah disse...

Data venia, bom camarada, eu consegui me transportar durante o bis, pela composicao belissima que Blanchard fez (autoralmente, e todos eles, no palco) - ate a devastada New Orleans, berco tanto do jazz quanto de Terence.

Se estive la por 2 vezes antes da tragedia, o que ouvi aqui na SCM foi a traducao perfeita - quase um filme em forma de musica - do desencanto de um morador com a devastacao, transmitida de maneira grave e desesperancada mas, com uma beleza e um sentimento que emocionou a todos, acho.

A parte final, principalmente, que sugeriu movimentos na direcao da reconstrucao e da recuperacao dos sonhos de uma Norleans "as was", ficaram guardados nestes ouvidos a que vc. se refere, como o ponto alto do concerto.

Qualificar aquela bela suite como o JAZZ de que mais gosto de ouvir, e que me "traz para cima" (se italiano fosse, diria tirami su), seria o mesmo que dizer que eh JAZZ a uma interpretacao do tema principal de "Cinema Paradiso", apenas porque interpretado em quinteto por um dos magnificos trompetistas italianos, Rava, Bosso, Fresu, etc etc etc.

Talvez agora tenha ficado mais patente a minha opiniao sobre o que faz Blanchard, pelo menos para os meus ouvidos.

Grande abraco.

Tenencio(Andre Tandeta) disse...

Carissimo Pres.,
desejo que voce passe bons momentos ouvindo tanto um CD quanto o outro.
Se isso acontecer nos ,os musicos,teremos alcançado nosso maior objetivo.
Divirta-se.
Abraço

Bene-X disse...

Entendi, perfeitamente, Pres, o que v. quis dizer e apenas lancei singelo comentários, com justiça elogiosos a suas tão bem lançadas linhas.

Só não compartilho muito desse conceito, dessa noção, de um jazz "que traz para cima", em oposiução, suponho, a outro, que "traria para baixo", ou ainda um outro, "que nenhum efeito traria", imagino.

A música, como disse antes, tanto como no cinema e seja para a alegria ou para a tristeza, diz com "comoção", essa é a melhor palavra que consegui encontrar, ao menos até agora.

Abs.,