Após Crazy Blues, houve uma grande corrida das gravadoras atrás das cantoras negras e de músicos negros para acompanhá-las, dado agora ao grande negócio ― "classical blues singers" como registravam os catálogos racistas "race records". Antes de Mamie não existiam cantoras de Blues propriamente, embora nos teatros números de Blues eram executados por vezes.
Mamie nasceu em Cincinnati, Ohio, a 26/maio/1883 cujo nome de batismo era Mamie Robinson, depois casando-se com o tenor William Smith passou a ser conhecida como Mamie Smith. Iniciou aos 10 anos no vaudeville atuando junto ao conjunto menestrel Four Dancing Mitchells e mais tarde excurcionando como estrela do Salem Tutt Whitney and Homer Tutt's Show. Mamie foi para New York em 1913 com The Smart Set Show. Depois, seguiu para o Harlem cantando em casas noturnas como o Baron Wilkin's Little Savoy Club, Leroy's, Edmunds, Percy Brown's and Banks' Place.
O pianista e compositor Perry Bradford, autor da canção Crazy Blues foi também autor da proeza de convencer os produtores da OKeh Records em New York a gravarem uma negra cantando o que até aquela época era tido nas grandes cidades como música chula de negros e sem nenhum potencial comercial. Em 1920 a Okeh já havia gravado algumas canções populares com artistas negros, mas Bradford conseguiu que uma cantora executasse apenas Blues junto a músicos de Jazz, os quais foram selecionados por Bradford sendo liderados pelo cornetista Johnny Dunn e nomeados de Jazz Hounds (hound no sentido de maníaco como gíria).
Mamie continuou gravando para a Okeh até 1923 inclusive com o Harlem Trio composto pelo clarinetista Sidney Bechet, o pianista Clarence Williams e o banjoísta Buddy Christian. Nos anos 30 participou do grupo do pianista e arranjador Fats Pichon e desde então até o início dos 40 manteve uma carreira de sucessos cantando, gravando e aparecendo nos filmes: Jail House Blues (1929), Othelo (Paradise) in Harlem (1939) produzido pelo segundo marido Jack Goldberg, e ainda Mystery in Swing, Sunday Sinners (1940), Stolen Paradise (1941), Murder on Lenox Avenue (1941) e Because I Love You (1943).
Devido à grande significância histórica Crazy Blues foi incluído no Grammy Hall of Fame em 1994 e em 2005 foi selecionado como de preservação permanente no National Recording Registry da Library of Congress.
Mamie foi o padrão para as cantoras de Blues que seguiram seus passos. Além de cantora, foi pianista, compositora, dançarina e atriz. Faleceu a 30/out/1946 em New York city deixando um legado de 49 registros fonográficos.
Historicamente o Museu não poderia deixar de apresentar Crazy Blues e selecionamos ainda uma de suas magníficas atuações em Goin' Crazy With The Blues onde mostra sua excelente voz alegre de contralto.
CRAZY BLUES (Perry Bradford)
Mamie Smith and her Jazz Hounds: Mamie Smith (vcl), Johnny Dunn (cornet), Dope Andrews (tb), Ernest Elliott (cl, st), Leroy Parker (violino) e provavelmente Willie "The Lion" Smith (pi).
Gravação original: New York, 10/agosto/1920 - Okeh 4169 (matrix 7529-C).
GOIN' CRAZY WITH THE BLUES (Andy Razaf / J.C. Johnson)
Mamie Smith (vcl) acompanhada por Tom Morris (cnt), Charlie Irvis (tb), Bob Fuller (cl), Mike Jackson (pi) e Buddy Christian (bj).
Gravação original: New York, 27/agosto/1926 – Victor 20210 – (mx 36069-1).
Fonte: CD – Mamie Smith The Essential – selo Classic Blues 200036 – 2002 - USA
Free
Um comentário:
Prezado MÁRIO:
Mais uma "na mosca", com o histórico e indispensável registro da 1ª gravação de Blues, autêntico !
Parabéns pela resenha, como sempre curta, precisa, concisa.
Postar um comentário