Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

COLUNA DO LOC

25 janeiro 2009

JB, Caderno B, 25 de janeiro
Luiz Orlando Carneiro
A criação do ‘cool jazz’

No dia 21 de janeiro de 1949, o jovem Miles Davis – à frente de um noneto (com trompa e tuba) em que se destacavam Lee Konitz (sax alto), Gerry Mulligan (sax barítono), Kai Winding (trombone) e Max Roach (bateria) – gravou Move (Denzil Best), Budo (Bud Powell), Jeru (Gerry Mulligan) e Godchild (George Wallington). Os arranjos – de sofisticada textura harmônica, plena de meios tons e suaves dissonâncias, com base num swing fluente, mas sem os arroubos do bebop gillespiano – eram, respectivamente, de John Lewis, Miles e Mulligan (os dois últimos). Essas faixas foram lançadas nos discos de 78 RPM de então, limitadas a pouco mais de três minutos de duração.

Essa histórica sessão ficaria célebre como The birth of the cool (O nascimento do cool jazz), em 1957, quando a Capitol editou o LP assim intitulado, agregando os registros do noneto de duas sessões posteriores (com J.J. Johnson no lugar de Winding): Venus de Milo e Rocker (Mulligan); Boplicity e Moon dreams (Gil Evans); Deception (Davis); Rouge (Lewis); Israel (John Carisi).

A data merece ser recordada não apenas por ser tida como a "certidão de nascimento" da maneira cool de tocar jazz. É claro que o estilo não foi inventado, de repente, pelo jovem Miles Davis, ao formar o Tuba nonet, que se apresentou pela primeira vez em Nova York, no Royal Roost, em 1948. O trompetista era, até então, um inseguro e invejoso coadjuvante de Charlie Parker – o que deixa bem claro na sua Autobiografia (1989).

É também fato notório que, por volta de 1946, a banda de Claude Thornhill – que contava com tuba (John Barber) e trompa (Junior Collins), além dos metais e palhetas de praxe – produzia um swing dançante, avesso ao vibrato. O principal arranjador da orquestra – da qual faziam parte Konitz, Mulligan, Barber e Collins – era Gil Evans (1912–1989). Como anotou Ira Gitler, em Swing to bop (1985), "foi da orquestra de Thornhill que emergiu o famoso noneto de Miles Davis", que se reunia e ensaiava no apartamento de Evans.

As sessões conhecidas como The birth of the cool devem ser descobertas pelos neófitos e reapreciadas pelos que já as conhecem, principalmente, pelos seguintes motivos: a beleza intrínseca e perene da música concebida pelos arranjadores, entrecortada por solos curtos primorosamente integrados no contexto (especialmente os de Konitz e de Mulligan, ambos então com 21 anos); o início da libertação de Davis da sombra da imbatível dupla Parker-Gillespie e, consequentemente, da busca daqueles som e fraseado que iluminaram o planeta jazz nas duas décadas seguintes; as origens da estética cool desenvolvida, logo depois, pelo quarteto Mulligan-Chet Baker e pelo ramo West Coast de um modo geral, pelo Modern Jazz Quartet de John Lewis e por Lee Konitz – ainda ativo, criativo, "ageless", uma história à parte na história do jazz.

O CD contendo as sessões da Capitol (janeiro e abril de 1949; março de 1950) foi reeditado pela Blue Note, em 2001, remasterizado por Rudy Van Gelder. Recentemente (2005), o saxofonista Joe Lovano gravou para a mesma etiqueta (acoplada à sua complexa obra Streams of expression) a The birth of the Cool Suite, escrita por Gunther Schuller, com base nos arranjos originais de Moon Dreams, Move e Boplicity. O venerável compositor, hoje com 83 anos, era o trompista do noneto de Miles Davis na sessão de março de 1950. Ele e Konitz são os únicos sobreviventes daqueles anos inesquecíveis.

3 comentários:

APÓSTOLO disse...

Sem dúvida há que comemorar-se a data e ouvir, sempre e sempre, a bolacha da CAPITOL, um primor.

Anônimo disse...

Em 1993, Gerry Mulligan veio ao Brasil apresentar sua versão de Birth of the Cool numa das edições do Free Jazz rebatizada num projeto de cd pelo extinto selo GRP como The Re-birth of the Cool.Naquela ocasião arrumei um “temporário” como assistente de produção do festival e aos 21 anos tentava obter meu aval como conhecedor regular de jazz .Certidão q ainda não obtive e não me causa menor constrangimento, aliás.Conheci Mulligan atendendo alguns de seus pedidos feitos sempre de forma muito polida e educada demonstrando tratar-se de um verdadeiro “gentleman” dentro e fora dos palcos.Fiquei como “papagaio de pirata” pescando suas declarações com os especialistas q o inquiriam nas coletivas e testemunhei seu entusiasmo com esse projeto alimentado por longos anos.A concepção de Birth of the Cool , liderada por Miles sempre teve assegurada a importância de aliados como Mulligan,Konitz e do compositor John Carisi.Na versão ambicionada por Mulligan ,de 1992, segundo ele , haveria a participação de Miles q havia consentido em retornar a obra em consideração a amizade de ambos.Quando conseguiu colocar os q restavam no estúdio,Davis já havia morrido em 1991 (substituído por Wallace Roney).John Lewis e Bill Barber(trompa) foram os membros originais q conseguiram “revisitar” a obra .Konitz havia recusado sendo substituído por Phil Woods de idioma mais “boper”.

Tenencio disse...

Gunther Schuller alem de toda a estatura que tem como compositor e professor(New England Conservatory)é autor do importantissimo livro "Early Jazz" editado em 1968,no Brasil com o nome de "O Velho Jazz".
É uma obra fundamental para todos que querem entender o jazz. Ele começa na Africa e termina em Duke Ellington, o primeiro volume ,o unico editado no Brasil.O segundo volume vai dai em diante.
Com grande conhecimento sobre as origens e o desenvolvimento do jazz Schuller vai nos desvendando qual arqueologo as sucessivas camadas, uma a uma, que formam a verdadeira historia do jazz.E tambem mostra o caminho que o jazz percorreu em termos sociologicos e historicos. E ao longo do livro vai demolindo mitos criados por motivos racistas e elitistas . Sem duvida uma obra de referencia sem igual. Por conter inumeros exemplos musicais escritos em pentagrama , por usar muitas vezes termos do jargão tecnico da musica e por não ter historias individuais de musicos repletas de "folclore"(que alguns adoram) pode parecer um livro pesado e enfadonho.Não é ,é vivo e apaixonante, imperdivel.
Abraço