Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

COLUNA DO LOC

16 novembro 2008

Steve Turre e o ‘álbum’
Luiz Orlando Carneiro - JB, Caderno B, 16 de novembro

"Fizemos a gravação inteira num só dia, das 12h às 18h30. Quatro das faixas (nove no total) foram primeiros takes; uma foi o terceiro; as outras (precisaram de) apenas dois takes. Quando se está tocando com músicos desse nível, a gente vai lá e toca. Tenho uma comunicação maravilhosa com todo mundo nesse álbum. Todos são mestres, líderes por seus próprios méritos. Sinto que, quando você faz um disco, é para a história, para representar o trabalho de sua vida quando você tiver morrido. Não faço uma gravação apenas pelo dinheiro e para meus amigos. Gravo um disco para produzir a melhor música possível".

A citação é de uma entrevista do trombonista-compositor Steve Turre, 60 anos, à revista Jazz Times, a propósito do CD Rainbow people (Highnote 7181), lançado há poucos meses, sob aplausos esperados e devidos da crítica especializada. Afinal de contas, além de ser considerado o trombonista nº 1 da cena jazzística, um sucessor à altura do grande J.J. Johnson (1924-2001), capaz também de atraentes solos de búzios (conch shells), Turre sabe navegar como poucos nas águas da mainstream em direções melódico-harmônicas surpreendentes e por sobre ondas vindas tanto do Delta do Mississipi quanto do Caribe.

Sob o generoso comando de Turre, o grupo básico de Rainbow people é formado por Mulgrew Miller (piano), Peter Washington (baixo) e Ignacio Berroa (bateria). A eles se juntam o celebrado saxofonista alto Kenny Garrett (na faixa-título, em Groove blues e Midnight in Madrid) e o mais do que emergente trompetista Sean Jones nesta última peça e em Forward vision. Todos juntos, mais o percussionista Pedro Martinez, celebram o fim da sessão em Para el comandante (8m49) – que, a propósito, não é uma homenagem a Fidel Castro, mas a Mario Rivera (1939-2002), figura de proa do Latin jazz nova-iorquino. O trombonista nunca se esquece de Ray Charles – com quem gravou quatro faixas do CD In the spur of the moment (Telarc), de 1999 – e completa sua série de composições com a emotiva Brother Ray (9m04).

O novo álbum contém apenas três temas não escritos por Turre: Segment (Charlie Parker), com realce para Garrett; as baladas A search for peace (McCoy Tyner) e Cleopatra's needle (Steve Kirby) – estas interpretadas pelo líder em confabulações somente com o trio. E voltamos ao primeiro parágrafo destas notas. O CD de Steve Turre é a "fonografia" de um momento único, que deve ser apreciado na moldura apropriada do que nós, jazzófilos, ainda chamamos de álbum. Assim como os outros registros que projetaram o grande músico: o já citado In the spur... – dividido em três partes, com os pianistas Ray Charles (os blues), Stephen Scott (o moderno e modal) e Chucho Valdés (sons afro-cubanos); The spirits up above (HighNote 7130), monumento à obra de Roland Kirk, de 2004; o bem tramado Lotus flower (Verve), de dezembro de 1997, com a inestimável colaboração de sua mulher, Akua Dixon (cello), de Regina Carter (violino), Mulgrew Miller, Buster Williams (baixo), Lewis Nash (bateria).

A morte do CD em futuro próximo já foi decretada pela crescente maioria dos ipodistas, em geral ouvintes de "músicas" (faixas) colhidas ao léu, baixadas em MP3. Mas o "álbum" – num processo cada vez mais seletivo - será certamente preservado pelos aficionados do jazz, cujos registros por excelência serão sempre discos bem-editados, sobretudo de sessões de estúdio ou de apresentações ao vivo, nas quais o todo corresponde mesmo à soma das partes. Como é o caso de Rainbow people.

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