Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

02 setembro 2008

RETRATOS
10. ART BLAKEY

A Lenda De Um Grupo, A Força de Um Músico


(A) FINAL DA BIOGRAFIA - 3ª PARTE

O “HARD BOP”
Art Blakey
em conjunto com o pianista Horace Silver (que incorporou ao “bebop” elementos do “rhythm & blues” e do “gospel”) foram os grandes responsáveis iniciais pelo novo vigor dado ao “bebop”, reagindo ao Jazz “cool” da West Coast, cujas suavidade e sonoridade dominavam a década de 50 do século passado. Na realidade o que fizeram foi tomar os princípios harmônicos do “bebop” de 10 (dez) anos antes e temperá-los com o “blues” (o “rhythm & blues”) e o “gospel”, expondo as vertentes do Jazz oriundas da África: foi um enriquecimento do “bebop”, com aspereza sim, mas sem perda da vitalidade e norteado claramente pela perfeição técnica e instrumental. Essa, mais que criação, evolução, é muito bem sintetizada por Luiz Orlando Carneiro em seu livro “Obras Primas do Jazz” (Jorge Zahar Editor, 1986, 178 páginas). O novo vigor, a nova temática e o novo filão criados com o “hard bop” possibilitaram a ampliação dos horizontes do Jazz, permitindo a sucessão de tantos e tantos novos talentos musicais, em especial pelo “combo” dos “Jazz Messengers”, levando o grupo desde sua criação até a penúltima década do século passado à categoria de constituir-se num dos mais importantes combos da história do Jazz.

A CRIAÇÃO DOS “JAZZ MESSENGERS”
Mesmo tendo os “Jazz Messengers” como data “oficial” de criação a gravação de 06 de fevereiro de 1955 sob o título “Horace Silver And The Jazz Messengers”, tomada no estúdio do perfeccionista Rudy Van Gelder (à época ainda em Hackensack / New Jersey), formando com Kenny Dorham, Hank Mobley, Horace Silver, Doug Watkins e Art Blakey (“Hippy”, “The Whom It May Concern”, “Hankerin’” e “The Preacher” foram as faixas), anteriormente e em 22/dezembro/1947 e pela primeira vez Art Blakey gravou utilizando o título de “Messengers”. O octeto com o trumpete de Kenny Dorham, as palhetas de Sahib Shihab (alto), Orland Wright (tenor) e Ernest Thompson (barítono), o piano de Walter Bishop Jr., LaVerne Barker no contrabaixo e Art Blakey na bateria, em New York e nos estúdios WOR, gravou 04(quatro) faixas mais 01(uma) “alternate”, que foram editadas pelos selos “New Sounds” e “Blue Note”: “The Thin Man”, “The Bop Alley” (mais “alternate take”), “Groove Street” e “Musa’s Vision”.
Ainda em 31/outubro/1953, diretamente do “Birdland” e sob o título de “Horace Silver And The Jazz Messengers”, o quinteto com Kenny Dorham, Lou Donaldson, Horace Silver, Gene Ramey e Art Blakey, teve 05 faixas registradas e lançadas pelos selos “Session Disc” e “Royal Jazz”, a saber: “An Oscar For Oscar”, “If I Love Again”, “Split Kick”, “Get Happy” e “Lullaby Of Birdland”.
Em 21 de fevereiro de 1954 no “Birdland” (New York) e durante 05(cinco) “sets” iniciados à noite e prolongados por toda a madrugada, o quinteto formado por Clifford Brown/trumpete, Lou Donaldson/sax.alto, Horace Silver/piano, Curly Russell/baixo e Art Blakey/bateria, lançou as bases definitivas para as gravações do “hard bop”, com absoluta empatia da “cozinha” com os solistas e as interpretações magistrais do excepcional Clifford Brown. Tendo como apresentador a figura (e, claro, o charuto) de Pee Wee Marquette, a “Blue Note” gravou “Wee Dot”, “Now's The Time”, “Quicksilver”, “Confirmation”, “Once A While”, “Mayreh”, “Our Delight” (essa tomada foi gravada mas deletada na edição), “If I Had You”, “Split Kick”, “Lou's Blues”, “Wee Dot”, “A Night In Tunisia”, “Blues improvisado”, “The Way You Look Tonight” e “Lullaby Of Birdland”
Ainda mais e em 13 de novembro de 1954, no estúdio de Rudy Van Gelder, o mesmo quinteto de 06 de fevereiro de 1955 (Kenny Dorham, Hank Mobley, Horace Silver, Doug Watkins e Art Blakey), gravou sob o título de “Horace Silver And The Jazz Messengers” 04 faixas lançadas pelo selo “Blue Note”: “Room 608, “Creepin' In”, “Doodlin'” e “Stop Time”.
Assim é lógico tomarmos a primeira metade da década dos anos 50 do século passado como a do surgimento dos “Jazz Messengers”, que a partir de 05 de abril de 1956 passaram a ser liderados exclusivamente por Art Blakey, constituindo-se em definitivo no “Art Blakey Jazz Messengers” = A.B.J.M., tanto nas gravações quanto nas apresentações dentro e fora dos U.S.A.

ALGUNS QUE DESFILARAM PELOS “MESSENGERS”
Os trumpetes de Kenny Dorham, Lee Morgan, Donald Byrd, Bill Hardman, Hank Mobley, Freddie Hubbard, Chuck Manggione, Woody Shaw, Wynton Marsalis, Terence Blanchard, Wallace Roney, as palhetas de Jackie McLean, Johnny Griffin, Lou Donaldson, Benny Golson, Wayne Shorter, Clifford Jordan, Donald Harrison, o trombone de Curis Fuller, os pianos de Cedar Walton, Bobby Timmons, Sam Dockery, Kenny Drew, George Cables, Walter Bishop Jr, Walter Davis Jr, Keith Jarrett, entre outros, desfilaram ao longo dos anos pelos “A.B.J.M.”, os “Art Blakey Jazz Messengers”, definindo padrão de excelência de estrelas projetadas pelo grupo.

UM PIANISTA ABORTADO: NASCE UM BATERISTA E COMPOSITOR
Inicialmente um pálido pianista, finalmente um exímio baterista, poucos se referem a Art Blakey como “compositor”.
Todavia são dele algumas dezenas de composições, muitas delas com raízes na percussão africana e grande parte em parceria com o esplêndido tenorista Benny Golson (talvez mais reconhecido como autor de ícones jazzísticos como “I Remember Clifford”, entre outros).
Assim e apenas para pagar tributo a esse músico de exceção, mencionamos as seguintes composições assinadas por Art Blakey (reafirmando que muitas trazem a co-autoria de Benny Golson): Abdullah's Delight, Amuck, April Jammin', Blakey's Blues, Blues Pour Doudou, Blues Pour Marcel, Blues Pour Vava, Café, Casino, Des Femmes Disparaissent, Drum Duo, Drums In the Rain, Drum Solo, Exhibit A, Ferdinando, Finale Pour Beatrice Et Pierre, Freedom Monday, Generique, In the Basement, J's Jam, Just Knock On My Door, Juste Pour Eux Seuls, Kenji's Walk, La Divorcee De Leo Fall, Let's Take 16 Bars, Mambo Dans La Voiture, Merlin, Message From Kenya, Nasol, Ne Chuchote Pas, Need To Be Loved, Nothing But the Soul, On The Roof, Pasquier, Pierre Et Beatrice, Poursuite Dans La Ruelle, Quaglio, Sakeena, Ritual, Split Skins, Star Of Africa, Suspense, Tom Et Nasol, The Freedom Rider, Theme Of “Hard Champion”, Transfiguration, Tom e Wellington’s Blues, entre outras mais.

UM MUNDO DE GRAVAÇÕES
As gravações de Art Blakey, como “sideman” ou como titular contam-se às centenas. Com certeza e desde 05 de setembro de 1944 até 11 de abril de 1990, Art Blakey gravou em estúdio ou ao vivo em mais de 330 (trezentos e trinta) sessões ! ! !
Os selos pelos quais foram distribuidas as gravações de Art Blakey diretamente ou por meio de subsidiárias também constituem soma expressiva.
A maior parte das gravações com a participação de Art Blakey contem material com qualidade superior à média; todavia entende-se, ouvindo-o tocar e verificando com quem gravou, que em alguns momentos de sua carreira ele teve que conceder espaço para a sobrevivência, o que jamais pode ser reprovado em um músico cuja integridade musical foi indiscutível, assim como considerando que o músico, qualquer músico, tem que pagar suas contas ! ! !
Quando tratarmos da “DISCOGRAFIA” de Art Blakey obviamente e por questão de espaço, buscaremos apenas as gravações mais expressivas sendo certo, como já afirmamos em outras ocasiões, que atenderemos a quaisquer consultas dos prezados CJUBIANOS quanto a esta ou aquela gravação não constante da relação indicada.

HISTÓRIAS E “ESTÓRIAS” DE ART BLAKEY
* Em determinada entrevista Art Blakey comentou sua “conversão” de pianista para baterista de forma bem direta: “...mesmo tocando piano de ouvido, em apenas 02 ou 03 tons, tinha que buscar trabalho por questão de sobrevivência; tocava músicas no meu “spinetto” portátil em Mi.bemol com letras “picantes”, circulando de mesa em mesa; quanto mais “picantes” as letras, mais gorjetas recebia e cheguei a ganhar muito bem; não tocava bateria e sempre dizia para o baterista do conjunto o que deveria tocar; o proprietário do local, que presenciava o show, falou comigo que o baterista deveria tocar piano e eu a bateria; disse-lhe que a banda era minha e que ele não tinha autoridade para dizer-me o que fazer; ele resolveu a questão de maneira bem simples, portando uma “Magnum 350”, informou-me que se eu quizesse continuar na casa “tinha” que tocar bateria; e eu continuei na casa, passando a tocar bateria.
* Art Blakey montou uma banda com 14 músicos para tocar em Pittsburgh, recebendo US$ 15.00/semana; todos vestidos com apuro tocavam num clube até o dia em que o empresário contratou uma dupla de bailarinos de New York, que deveria ser acompanhada pela; Art Blakey não sabia ler música mas assumiu pose autoritária para dirigir a banda (“começa o naipe de metais, agora as palhetas....”), até que chegou a parte dele e, como não sabia ler, ficou parado; tentou recomeçar vezes sem conta até perder a paciência e gritar com os músicos; um rapaz sentado no canto disse para Art Blakey que gostaria de “tentar” e tocou tudo sem nenhum problema; o “rapaz” era Erroll Garner e a partir desse dia Blakey encerrou sua “gloriosa carreira” de pianista.
* Em fins de 1939 quando foi para a banda do grande Chick Webb, Art Blakey imaginava-se o “máximo” e apresentou-se fazendo mil acrobacias com as baquetas, jogando-as para o ar e agitando os braços; depois de sua demonstração Chick Webb disse-lhe que “o ritmo não está no ar, mas nos tambores; toque-me um rufo”; Blakey fez o que sabia e Webb informou-lhe, diante de todos os músicos, que aquilo era uma porcaria; Blakey derreteu-se em prantos, mas retornou no dia seguinte; Webb colocou um metrônomo diante dele e iniciou a contagem: “1, 2, 3, ...... fazendo-o rufar até chegar a 100”. Blakey confessou que quando chegou ao 20 já estava com os pulsos doloridos, mas foi assim que aprendeu.
* Também em entrevista e com muita amargura Art Blakey, contava como teve que sofrer cirurgia em 1956 para implante de placa metálica na cabeça. Na verdade foi o resultado de fratura, provocada por uma surra de cassetete que recebeu de um policial após apresentação na Filadélfia; ia para New York com seu ajudante Silver e a filha, branca, da baronesa Pannonica Rotschild de Koenigswarter (“Nica”, para quem Horace Silver compôs o tema “Nica’s Dream”, era filha de embaixador francês, mecenas e protetora de músicos de Jazz de New York, em cujo apartamento faleceu Charlie Parker), quando um policial de motocicleta os mandou encostar. Art Blakey o reconheceu como um dos policiais que havia estado de serviço na apresentação e, portanto, sabia com quem estava falando; mesmo apresentando toda a documentação pedida o policial apontou-lhes uma arma; Blakey também tinha uma arma e licença para o porte, mas o policial parecia incomodado com o fato de um negro dirigir um Cadillac acompanhado de uma jovem branca; conduziu-os à delegacia onde a filha de Nica foi esbofeteada e insultada (“branca judia”), seu ajudante ameaçado de ser surrado (Blakey interrompeu o policial dizendo que Silver tinha uma lesão na coluna) e todos encerrados em uma cela, pendurados pelas mãos e sem tocar o solo com os pés, surrados e seguidamente molhados com água fria a cada desmaio; na manhã seguinte Nica entrou com um advogado, todos foram soltos e o policial perdeu a licença; mas os ferimentos e a fratura de Blakey ficaram !!!
* Em 1961 os A.B.J.M. apresentaram-se no mês de janeiro em Tóquio (“Sankey Hall” e “TBS-TV Studios”) e no retorno, em entrevista ao crítico Leonard Feather, Art Blakey contou com emoção que ao chegar ao aeroporto tocavam a música do A.B.J.M. e receberam-nos com montanhas de flores; queriam que Blakey discursasse, mas ele não conseguiu porque começou a chorar.
* Pouco antes das temporadas de 1971 com os “Giants Of Jazz” criados por George Wein, Thelonius Monk adoeceu e foi hospitalizado no “Bellevue Hospital”, como emergência; Nelie, mulher de Monk, ficou muito preocupada e comunicou o fato a Blakey, que estava na Filadélfia; Blakey terminou a apresentação que estava fazendo em um clube, tomou um avião para New York (às 02.00 horas da madrugada) e as 04.00 horas entrou no “Bellevue”, levantou Monk do leito e mandou que Nelie arrumasse os pertences dele dizendo-lhe: “Se você morrer eu te mato !!!” Na saida do hospital a enfermeira olhava aterrorizada para Blakey, mas este afirmou que no dia seguinte retornaria ao hospital para assinar os papéis que fossem necessáriom. Levou Monk para sua casa em New York, com a certeza de que o havia livrado de muitos eletrochoques e remédios.

Segue em (B) FILMOGRAFIA

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