Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

VICTOR ASSIS BRASIL - 28 de Agosto

28 agosto 2008

Reproduzo abaixo artigo escrito pelo Mestre Raf sobre o músico, por ocasião do seu aniversário:

*A saudade imorredoura do insubstituível Victor Assis Brasil*

por José Domingos Raffaelli

"A carreira do saxofonista Victor Assis Brasil foi um capítulo especial e memorável na história da música instrumental em nosso país. Batalhador incansável, lutou obstinadamente pela música na qual acreditava, tornando-se sinônimo de jazz em nossa terra, sem compromissos com esquemas ou modismos. Seu único compromisso foi a honestidade de propósitos ao público fiel que prestigiou sua passagem pela nossa cena musical calcada na indômita coragem de viver profissionalmente tocando jazz.

Com seu prematuro desaparecimento, em 14 de abril de 1981, aos 36 anos, após semanas de intensa batalha contra o inevitável, encerrou-se a mais importante carreira da área jazzística nacional. Ele nunca parou de aprimorar-se a cada dia, dedicando-se de corpo e alma à composição e aos seus instrumentos, voltado exclusivamente para expandir seus horizontes. Nunca dava-se por satisfeito, sempre buscando e vislumbrando novas possibilidades. Foi um pesquisador insaciável e um perfeccionista insatisfeito. Tinha consciência do seu valor, porém nunca foi convencido, considerava que ainda tinha muito a aprender, evidência aparente em todo grande músico. Modesto, simpático, prestativo, sempre disposto a prestigiar e incentivar novos valores, apoiou muitos jovens músicos que se tornaram conhecidos, inclusive internacionalmente. Quantos dele receberam a primeira e real oportunidade e um grande impulso para se projetarem ? Entre muitos outros, Helio Delmiro, Claudio Roditi, Ion Muniz, Fernando Martins, Claudio Caribé, Marcio Montarroyos, Sérgio Barrozo, Paulo Lajão, Aloísio Aguiar, Luiz Avellar, Paulo Russo, Jota Moraes, Lula Nascimento e Alberto Farah.

A vocação jazzística de Victor nasceu ainda menino, imitando com uma gaitinha de boca os solos que ouvia em discos, logo passando para o sax-alto, desenvolvendo rapidamente suas aptidões. Enquanto seu talento era atraído para o jazz, seu irmão gêmeo, o pianista João Carlos, orientou sua carreira para a música clássica. Victor dava atenção a todas as formas musicais, tendo em sua bagagem a autoria de algumas composições clássicas, de suítes para quarteto de cordas à obra ambiciosa "Suíte Para Sax-soprano e Cordas", em cuja première, na Sala Cecília Meireles, em 1976, apresentou-se com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Versátil e sumamente inventivo, ele também compôs a trilha da novela "O Grito". Querido por todos, Victor nunca impôs suas idéias, expondo-as com naturalidade.

A biografia de Victor é conhecida. Ele começou tocando nas domingueiras do extinto Clube de Jazz & Bossa, em 1965, onde foi ouvido pelo pianista austríaco Friedrich Gulda, que o convidou a participar do concurso que promoveria no ano seguinte, em Viena. Aos 21 anos, Victor partiu para Viena, um desafio que a confiança em seus recursos superou a inexperiência internacional, alcançando um honroso 3º lugar na categoria de saxofonistas. O vencedor foi o internacionalemnte conhecido Eddie Daniels, atualmente dedicado exclusivamente ao clarinete, e do corpo de jurados faziam parte J. J. Johnson, Cannonball Adderley, Joe Zawinul e o próprio Gulda. Logo a seguir, na Alemanha, Victor foi premiado como o melhor solista do Festival de Jazz de Berlim.

O talento de Victor foi reconhecido pelo crítico Leonard Feather, ao ouví-lo no I Festival de Jazz de São Paulo, em 1978. Um ano antes, o baterista Art Blakey convidou-o a tocar no seu famoso conjunto Jazz Messengers, mas foi obrigado a recusar por razões alheias à sua vontade. Em 1979, tocou no Festival de Jazz de Monterey, ao lado de Dizzy Gillespie, Red Mitchell, Albert Mangelsdorff e outros. Em 1980, participou do Rio Jazz Monterey Festival, ao lado de Clark Terry, Slide Hampton, Richie Cole e Jeff Gardner.

Victor tocou pelo Brasil afora. Sua filosofia era procurar tocar sempre melhor. "É difícil fazer música séria no Brasil", dizia ele. "O jazz no Brasil é pouco conhecido porque sua divulgação é precária. Se os jovens tivessem tiverem acesso ao jazz, como têm a outros gêneros, pode estar certo de que gostarão".

A discografia de Victor é extensa, se conderarmos a raridade dos discos de jazz gravados por músicos brasileiros. Sua estréia em estúdios, aos 20 anos, ocorreu em "Desenhos" (Forma), despois o excelente "Trajeto" (Equipe), com formações de trio a big band. Seu projeto seguinte foi "Victor Assis Brasil Toca Antonio Carlos Jobim" (Quartin, de 1970), seguido por "Esperanto" (Tapecar, da mesma sessão do anterior, onde pela primeira vez gravou tocando sax-soprano). Depois, em 1974, foi a vez de "Victor Assis Brasil ao Vivo no Teatro da Galeria" (CID). Na fase final de sua carreira, em 1979, indicado por mim à EMI-Odeon, gravou seus dois últimos discos, as obras-primas "Victor Assis Brasil Quinteto" (lançado nos Estados Unidos pela Inner City, na Europa pela Telefunken alemã e no Japão pelo selo Skyline) e “Pedrinho”. Posteriormente houve o lançamento póstumo do CD "Luiz Eça & Victor Assis Brasil no Museu de Arte Moderna" (Imagem).

Compositor prolífico, deixou cerca de 200 obras, a maioria inéditas. Dentre elas, apreciava particularmente "Balada Pra Nadia", que escreveu sob forte impacto emocional. Seu maior objetivo era tocar seriamente. "Você deve respeitar a música que toca. Seja sincero, não importa o que toque. O essencial é que venha do coração. Sem o verdadeiro feeling, a música se deteriora".

Victor jamais tocou música na qual não tinha fé, razão pela qual rejeitou gravar em contextos comerciais. Seus princípios básicos permaneceram até o fim, um fim que - lamentavelmente - chegou cedo demais em 14 de abril de 1981. Muito moço para deixar-nos, mas foi inevitável e o imponderável prevaleceu. O destino assim o quis.

Seu irmão Paulo Assis Brasil tomou a inciativa de preservar a música de Victor, formando o Quinteto Victor Assis Brasil, integrado por Idriss Boudrioua, Alexandre Carvalho, Fernando Martins, Paulo Russo e Xande Figueiredo, que vem recriando a música do grande saxofonista. O incansável Paulo Assis Brasil teve outra grande iniciativa junto à prefeitura carioca para que fosse erigida uma estátua de Victor no Parque dos Patins, na Lagoa Rodrigo de Freitas.

Victor foi um dos maiores músicos brasileiros de todos os tempos. Tinha ainda muito a realizar, muito a oferecer, muitos projetos idealizados. Resta-nos o consolo da sua obra gravada. Uma obra inspirada, criativa e, acima de tudo, musicalmente honesta. Victor Assis Brasil deixou um grande vazio que não foi e dificilmente será preenchido, além de uma imensa saudade que nunca será amenizada no coração de todos os que tiveram a felicidade de conhecê-lo."

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