Terça-feira, dia do show, antes do almoço, bar do Hotel Bourbon, Londrina.
Gal Costa está sentada com o empresário, esperando o roteiro do dia. Surgem do elevador
John Pizzarelli e
Larry Fuller (pianista do quarteto, um dos últimos a dividir um trio com
Ray Brown em estúdio). Faço as devidas apresentações e alerto sobre o “big end” do show,
Pizzarelli e
Gal cantando juntos.
Gal mostra preocupação, ao contrário de
Pizzarelli, que arrisca um “sem problema” em português torto.
Gal permanece inquieta. Diz que não é cantora de jazz, que não improvisa e que apenas canta. Um ensaio antes seria necessário.
Pizzarelli repete: “sem problema”. Chega
Luiz Meira, violonista catarinense que vai acompanhar
Gal. Diz que vai passar as harmonias e tons para o grupo, com os quais
Gal está acostumada a cantar. De novo,
Pizzarelli:”sem problema”. Assunto encerrado. Antes,
Pizzarelli apresenta o resto da banda:
Martin Pizzarelli, baixista, seu irmão mais novo, e o baterista
Tony Tedesco – foi professor de
Paschoal Meirelles na Berklee.
Renato Mantovani, idealizador do evento, me liga. Foi orientado a trocar a ordem do show.
Pizzarelli no início,
Gal no final. O gringo mostra sensatez. Se
Gal concordasse, ele aceitaria.
Gal concorda. Novo telefonema.
Renato diz que recebeu vários pedidos para que
Pizzarelli incluísse algumas músicas dos
Beatles, uma referência ao CD feito tempos atrás com músicas do quarteto de Liverpool. “Sem problema”, outra vez
Pizzarelli. Cada um para um canto, o show fica acertado. Contagem regressiva: 21 horas
John Pizzarelli Quartet, 22:30
Gal Costa e violão.
Pizzarelli é um sujeito sempre atento, simpático, atencioso, humilde até, dono de uma cultura musical impressionante. Sobe no meu conceito ao revelar que acabou de gravar um CD unicamente com o songbook de
Richard Rodgers, participação de
César Mariano e arranjos de
Don Sebesky. O lançamento será em 19 de agosto, via Telarc.
Como previsto, Pizzarelli abre o show e apresenta os componentes da banda. E abre com 4 standards a partir de Gershwin e alguns clássicos de Mr. Sinatra. Destaques para Lady Be Good, How About You e Witchcraft. Há espaços para solos de guitarra e piano, aliás muito bem levado por Larry Fuller. Pizzarelli domina seu instrumento com absoluta desenvoltura, harmonias agradáveis e muito swing. Essa primeira parte é puramente jazz, sem outro adereço. A segunda parte, atendendo uma solicitação dos promotores da festa – não houve venda de ingressos, apenas convites -, é dedicada à Bossa-Nova, em especial a Jobim. É nítida a evolução de Pizzarelli na levada característica de guitarra que o gênero exige. Certeza não decepcionaria um Roberto Menescal. No mesmo clima ele entra na terceira e última parte com uma versão em solo para And I Love Her e mais 4 clássicos assinados por Lennon e McCartney. O comportamento da platéia surpreende pelo silêncio e total atenção à música oferecida por Pizzarelli. Já no intervalo para a entrada de Gal Costa, os comentários se repetem. Talvez um dos melhores shows já vistos em Londrina. Sou obrigado a concordar. O público para Gal é menor, mas não menos atento. E Gal, como ela antecipou, apenas canta, sem qualquer preocupação em jazzificar sua apresentação. E relembra seus maiores sucessos, tendo ao lado o eficiente, apenas isso, violão de Luiz Meira. No final chama Pizzarelli para fechar o show com Corcovado. Pizzarelli, sem cantar, é autor de um solo super inspirado, tirando sorrisos contínuos tanto de Gal como de Meira. A platéia, de pé, se despede, referendando a qualidade do espetáculo. E Gal comenta depois:”A melhor parte do meu show, tenho que confessar, foi cantar com Pizzarelli”. E foi mesmo. Saí do show satisfeito, mas, ao mesmo tempo, um pouco envergonhado. Não tinha até hoje dado o crédito justo a um ótimo músico chamado John Pizzarelli. Vale conferir esse show – não tinha visto os outros - agora no Mistura.
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