Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

DO OUTRO LADO DO JAZZ # 25 – FINAL

10 setembro 2007

Estamos terminando esta série de postagens nas quais procuramos relatar alguns aspectos estreitamente ligados de alguma forma à música de JAZZ, mas que normalmente estão em "off" ou seja, escondidos nos bastidores ou mesmo providos de caráter subjetivo, então, dissemos que faziam parte Do Outro Lado Do Jazz. Bem... outros temas poderiam ser abordados como as drogas, o racismo, as viagens das bandas tipo One Night Stand, apelidadas de um "palco por noite", o humor de alguns músicos como Fats Waller, Dizzy Gillespie, Armstrong e o mau humor de Miles Davis, enfim ainda existem outros títulos que ficam para uma próxima série.

A DURA PROFISSÃO
Acho que deva ser algo sublime entrar em um palco, tocar um instrumento e sentir o calor do público, notadamente em espetáculos de música de Jazz, uma arte extremamente criativa que quase sempre transfere uma enorme empatia entre o músico e seus ouvintes.
Contudo, ganhar a vida desta forma, ser músico profissional não foi e continua não sendo fácil......a dura profissão de músico e principalmente de JAZZ.
Se hoje existem proteções que regulam a atividade quer, através de sindicatos, de associações, enfim de legislação protetora, desde o início do jazz e, por um largo período de tempo não só o músico, mas quase todos os profissionais já que o direito trabalhista engatinhava para todos, apenas sobreviviam. Entretanto não se pode atribuir os baixos pagamentos a uma infelicidade vivida. Otto Hardwick sax alto de Ellington em um depoimento citava: - "todos os músicos tinham liberdade de expressão, os tempos eram bons, não acho que o dinheiro tivesse tão grande importância. A gente ganhava a vida, e ponto final. Mas o trabalho em sí era um prazer e a gente se sentia mais ou menos em família".
Mais tarde Charles Mingus afirmava: -"aqueles caras nunca pensavam em dinheiro, tudo o que faziam era para serem felizes".
Uma idéia do ganho de um músico segundo a época e o contexto, por exemplo: — no início do século passado (XX) em Nova Orleans o jovem Jelly Roll Morton foi contratado por uma cafetina de bordel a 1 dólar por noite e mais gorjetas. Na primeira noite ganhou vinte dólares de propina e, dado ao agrado do pianista junto ao público, a cafetina então combinou com ele que daria mais 5 dólares por noite toda vez que não recebesse os vinte dólares de gorjetas. Anteriormente trabalhava como tanoeiro consertando toneis, tinas e barrís a 15 dólares por semana.
Por volta de 1905 o proprietário de um clube pagava em média 5 dólares a um bandleader e mais 2,5 a cada músico por noite.
A grande e estrelada figura de Louis Armstrong iniciou carreira recebendo 1dólar e 25 cents para tocar das 8 da noite até a madrugada. Trabalhando para King Oliver em Chicago no início dos anos 20 recebia 52 dólares por semana e foi para o Sunset Café com 10 dólares a mais. No fim de 1930 queixava-se de ganhar apenas 75 dólares por noite. Nesta época, uma banda garantia em média 600 dólares por mês quando uma boa refeição não chegava a 1 dólar e um quarto confortável não mais que 200 dólares ao mês.
Com o advento dos sindicatos e sua firme consolidação os músicos de um modo geral foram beneficiados já que foram estabelecidos direitos como salário mínimo para as apresentações, garantindo também direitos sobre as gravações e a famosa encrenca dos anos 42/44 em que nenhum músico entrou em um estúdio para gravar, em greve deflagrada pela American Federation of Musicians devido às retransmissões radiofônicas que não pagavam os direitos.
Mais tarde deu-se a destruição das matrizes dos V-DISCS gravados durante a 2a. Guerra Mundial para as tropas americanas nos campos da Europa e Pacífico já que os músicos gravaram sem nada receber apenas como esforço de guerra. Como, em princípio, não teriam valor comercial os músicos e as gravadoras nada ganharam o que ocasionou após o fim da guerra uma forte reação do sindicato dos músicos chegando ao cúmulo de conseguirem uma ordem judicial em 1949, obrigando à destruição dos acetatos originais evitando-se as reedições. O governo norte-americano poderia ter pago os "royalties" reivindicados para a preservação das obras, mas não houve acordo.

UM PIRATA BEBOPER
Existe uma série de gravações ao vivo de Charlie Parker de qualidade bastante deficiente, afinal já eram os anos 40 e o processo se não ainda Hi-Fi, já possuia uma razoável eficiência.
Acontece que tais gravações são produto de um gravador pirata, feitas por um tal de Dean Benedetti, um amador que usava uma máquina portátil e seguia os passos de Bird gravando tudo o que podia.
Benedetti era um saxofonista de pouca expressão que desde 1944 acompanhava Charlie Parker de clube em clube, de concerto em concerto, gravando os solos de Parker e praticamente só os solos, em um aparelho amador portátil. Atuava com conhecimento e permissão do músico já que acreditava que DEAN não usaria os registros de forma comercial o que realmente cumpriu.
Vale citar uma passagem com DEAN quando certa noite já preparado com seu gravador em uma mesa em frente ao palco como habitualmente fazia esperando o início da apresentação de Parker, adentra uma turma da fiscalização de direitos autorais e o proíbe de gravar o show. DEAN desarmou tudo e saiu, mas rapidamente retorna pela porta da cozinha ao night club vai até os sanitários, suborna o encarregado que leva o microfone até próximo ao palco e o prende na cortina, então escreve um cartaz INTERDITADO e o coloca na porta de uma "casinha" onde sentado em uma privada DEAN passou o show gravando com o aparelho no colo.
As grandes marcas de discos só excepcionalmente se interessavam pela aventura de gravar ao vivo um concerto bebop. Só pequenas gravadoras assumiram o risco de gravar o "novo" Jazz. Se não fosse Benedetti grande parte do início da obra de Parker e demais correligionários teria se perdido para sempre. Mesmo assim foi por pouco porque Benedetti sumiu de repente após a morte de Parker e com ele todas as fitas só indo aparecer algumas delas pelos anos 60 sem também muita informação e nem sombra do dito pirata, quando finalmente foram editadas. A Mosaic Records, editou uma caixa MD7-129 com 7 CDs contendo as gravações de BENEDETTI.
Ouçamos então duas dessas gravações de Parker feitas no Pershing Hotel Ballroom em Chicago na noite de 25/set/1948 pelo pirata Dean Benedetti. Aqui temos I Can’t Get Started e a seguir um trecho de Groovin’ High, e podemos atestar que as gravações apesar de históricas são muito ruins.


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