Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

HISTORIAS DO JAZZ n ° 44

19 agosto 2007

O JAZZ NA REPRESSÃO

Essa aconteceu no principio dos anos setenta, quando em pleno regime ditatorial as repartições públicas tiveram seus cargos de chefia e direção até então ocupados por funcionários de carreira, preenchidos por militares.
Coronéis e brigadeiros passaram a condição de “colegas” e na verdade não incomodaram muito, a não ser quando um ou outro resolvia praticar atos administrativos , “dar ordens” sobre assuntos que não estavam familiarizados.
Outra prática eram as chatérrimas fichas de recadastramento que éramos obrigados a preencher a todo o momento . Não se limitavam a vida funcional.
Procuravam escarafunchar os mínimos detalhes, na esperança de quem sabe, encontrar mais um perigoso “comunista”.
Sempre fui irreverente e na terceira ou quarta “inquisição” comecei a inventar coisas . Num dos itens estava a pergunta : Compareceu a algum congresso ? Qual o assunto e onde foi realizado ?
Calmamente preenchi o quesito informando que comparecera aos congressos de Jazz realizados em Mar del Plata ,em Antofogasta e em Palmeira dos Indios. Não me preocupava com as conseqüências, pois era público e notório que tais fichas eram engavetadas e sequer examinadas.
O tempo passou e certo dia, ao me encaminhar para um dos setores da repartição veio ao meu encontro uma senhora,que trabalhava no Gabinete do Diretor e discretamente me passou um bilhete. Seria um torpedo, um número de telefone, um endereço ?
Fui para o lavatório e tive então a grande surpresa.
Dizia o bilhete : “Apresentar-se amanhã as 12 horas no Serviço de Segurança“.
Confesso que não me assustei . Afinal de contas, com mais de vinte anos de carreira, jamais fora sequer advertido por qualquer falta e muito pelo contrário, muito cedo já tinha ocupado cargos de chefia e direção. Participava de todos os cursos para o qual era convocado e mais tarde escalado para, com outros colegas,dar aulas ao pessoal concursado. Nada me pesava na consciência e dentro da minha clássica irreverência comuniquei a alguns colegas sobre a minha “convocação”.
Dia seguinte, doze horas em ponto me apresentei a recepção do Serviço de Segurança. Um funcionário pediu que aguardasse e foi me anunciar. Em seguida me levou até ao Gabinete onde seria interrogado. Por trás de uma mesa estava um senhor a paisana que cordialmente me estendeu a mão e mandou que sentasse. Sempre sorrindo, com minha ficha nas mãos, fez a primeira pergunta:
Luiz Carlos, você compareceu mesmo a esses congressos de Jazz ?
A resposta não se fez esperar :” Claro que não brigadeiro, primeiro porque eles não aconteceram e depois se tivessem acontecido eu não teria ido porque como funcionário público não teria verba suficiente.”
Veio a segunda pergunta : Pelo visto você deve gostar de Jazz . Verdade ?
Respondi – “Claro que sim brigadeiro.” e então dei todo o meu currículo incluindo os órgãos de imprensa em que escrevi e o programa de rádio que apresentava na Rádio Fluminense.
O brigadeiro sempre sorrindo perguntou : Não vai me dizer que você é o Lula de “O Assunto é Jazz”.
Respondi que sim e ele imediatamente entrou no assunto, não sem antes mandar acender a luz vermelha na porta do gabinete. Contou seu lado jazzófilo, as gravações que fizera quando em missão nos Estados Unidos , e perguntou se conhecia um colega que morava em Niterói, Sylvio Monteiro, que por coincidência era amigo nosso e fazia parte do nosso grupo.
Aí a coisa acendeu. Contou sobre as horas de jazz que os dois ouviam na base aérea, sobre os shows que assistiram nos Estados Unidos etc.
Quando o assunto é Jazz a conversa se desenvolve tranqüilamente e a troca de informações é uma constante. Qual o pessoal que gravou aquele disco; quando foi realizado o Concerto de Jazz no Municipal, em que ano morreu Clifford Brown e coisas que tais.
Esgotado o assunto exatamente as 16 horas, o brigadeiro levantou-se, me abraçou e prometeu comparecer as reuniões da AND que na época eram realizadas no restaurante Westfalia na Rua México, o que fez por três vezes consecutivas.
Ao sair do Serviço de Segurança e chegar ao hall dos elevadores encontrei um bando de colegas ”,preocupadíssimos” com a a minha convocação. Queriam saber o que houvera. Se eu sofreria alguma punição etc. etc.
Amarrei a cara e disse baixinho : “Não posso falar nada aqui. Vamos tomar um café que lá fora eu conto. “. Fomos até o Amarelinho, em frente a ABI e alí eu despejei : “È bom vocês tomarem jeito. A coisa está preta. “
Ante a ansiedade deles completei : “Acho bom vocês passarem a ouvir meu programa de rádio . O brigadeiro ouve e por isso me convocou para dar os parabéns.”
Primeiro alguns palavrões saudaram a minha resposta,em seguida suspiros de alivio por parte de alguns e por fim gostosas gargalhadas completaram aquela tarde.
Posso agora dar o nome do brigadeiro que chefiou a Segurança de minha repartição o qual tive a honra de conhecer. Ele faleceu vítima de um acidente de carro – Brigadeiro Armando Tróia, que mais tarde vim a saber ser pai de Eduardo Tróia,também jazzófilo e que teve programa na rádio Estácio.E tem mais, após seu falecimento, Eduardo me deu de presente a coleção de fitas cassete que lhe pertencera.
Só mesmo o Jazz !
llulla

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