A DANÇA E O JAZZ (parte 1)
O Jazz foi criado sobre um tipo de música extremamente dançante dentro da tradição afro e de seu berço a cidade de New Orleans, incrivelmente alegre, festiva até mesmo nos funerais!
Podemos notar que as escolas de Jazz produziram música com característica dançante indissociável. Mesmo o bebop, cuja essência de complexidades rítmicas desviava-se bastante daquela que induzia à dança, teve também seus adeptos.
Na era bebop (a partir de 45) as casas de espetáculos passaram a ocupar as pistas de dança com mesas para aumentar a audiência, já que o público passou a se interessar mais em apreciar os grandes solistas em suas extensas e livres improvisações do que arriscar passos com tal ritmo. A esta época iniciou-se a dissociação do Jazz com a dança e foi quando o Jazz passou a ser executado para ser “ouvido” realmente. A dança ficou mais associada à música “suingante” das grandes orquestras e à escola dixieland.
Tal dissociação se concretizou com o free-Jazz onde qualquer tentativa de se dançar, expressa pelo que se pode designar como tal, deva ser frustante.
A tradição africana da dança acompanhou passo a passo todo o processo pelo qual passou a música americana e suas influências européias até se formar o Jazz. Foi no ambiente do minstrell-show que surgiu a tap-dance, que conhecemos como sapateado, sendo utilizada de maneira inteiramente improvisada antecedendo ao próprio Jazz. Tal estilo de dança, tipicamente negra, acabou por ser vinculada estreitamente à música de Jazz.
Todos conhecemos o sapateado até porque os filmes musicais americanos dos anos 30, 40 e 50 o reverenciava nos pés de exímios dançarinos como Gene Kelly, Fred Astaire e Sammy Davis Jr, apesar de um tanto abastardado. Os verdadeiros exímios do tap-dancers foram Bill "Bojangles" Robinson, John W. Bubbles, Jack Wiggins, Donald "Baby" Laurence e outros "hoofers".
HOOFER é uma gíria aplicada aos sapateadores (tap dancers) que emitem ruídos semelhantes aos cascos (hoof) de um cavalo. Nos anos 30 existiu no Harlem um Hoofer’s Club que reunia dia e noite sapateadores em busca de “batalhas” ou somente para apresentar seus shows em troca de gorjetas.
Em New Orleans surgia no início dos anos 1900 o SLOW DRAG uma música de inspiração latino-americana de rítmo arrastado e acompanhada de uma dança lasciva muito apreciada pelas prostitutas negras que ficavam dançando para despertar e atrair os fregueses. O SLOW DRAG era muito comum nas espeluncas de Storyville e o pianista Jelly Roll Morton, um dos pioneiros do Jazz em New Orleans era exímio executante do SLOW DRAG (e provavelmente das moças também!)
Por volta de 1929 o SLOW DRAG tornou-se a primeira dança social afro-americana, sendo introduzida em espetáculos da Broadway escandalizando os críticos de raça branca os quais julgavam ameaçar a ordem moral e social pela sensualidade apresentada e logicamente se tornou muito popular também no Harlem.
Um dos mais conhecidos contrabaixistas de New Orleans, Alcide Pavageau (1888-1969) até 1927 atuava como guitarrista e tornou-se famoso também como dançarino ganhando o apelido de Slow Drag.
Podemos obter a idéia do que seja o slow drag na execução do tema ― Mr. Jelly Lord com o próprio autor e pianista Jelly Roll Morton acompanhado pelos irmãos Dodds, Johnny ao clarinete e Baby à bateria em gravação de 6/out/1927 - Chicago, Victor -21064-B.
Mr Jelly Lord.mp3 |
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