Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

03 maio 2007

RETRATOS
02. ART PEPPER (A)

Arthur Edward Pepper, Art Pepper, nasceu em 01/Setembro/1925 em Gardênia (próxima a Los Angeles), Califórnia, vindo a falecer em 15/Junho/1982 em Los Angeles, após sua última sessão de gravação em 30/Maio/1982. Coincidentemente os primeiro e último registros fonográficos de Art Pepper foram realizados em Los Angeles, Califórnia.

A obra de Art Pepper, em apresentações e gravações e mesmo com incursões ao clarinete e sax.tenor, é construida plenamente no sax.alto, onde domina e desenvolve uma trilha situada entre Charlie Parker e Lee Konitz, mas com assinatura própria muito bem definida. A partir de 1975 (após largo intervalo sem gravações de 24/Novembro/1968 a 14/Fevereiro/1975, com uma única sessão intermediária em 06/Julho/1973) Pepper retornou mais na linha de John Coltrane.

É considerado um dos solistas mais técnicos da história do JAZZ, ainda que com interpretações e vida marcadas por altas cargas de dramaticidade, ou até e talvez mesmo em conseqüência delas. Se as drogas afetaram alguém, é na comparação dos estados físicos, da fisionomia de Art Pepper desde muito jovem até 1952 (um verdadeiro “galã”) com a de 1982 (um especto assustador), que se pode constatar a devastadora agressão da dependência.

Entre prisões (Fort Worth, San Quentin, Chino) e clínicas de recuperação (Synamon) buscando libertar-se das drogas, Art Pepper simultaneamente construiu imensa obra gravada (para nossa alegria) e destruiu muitos e muitos anos de sua vida (para nosso mais profundo pesar).

Sua primeira infância com o pai e a avó materna (disciplinadora, avessa ao carinho e forçando-o a amadurecer rapidamente desde menino) vai encontrar sua primeira influência musical, via um primo trumpetista; aos 09 anos estuda clarinete com professor particular e tendo como modelos Charlie Barnett, Artie Shaw, Willie Smith e Benny Goodman; com 10 anos e nos bares portuários ganha seus primeiros dólares.

Aos 13 anos começa a dedicar-se ao sax.alto. Aos 15 anos toca na banda escolar, conhece e se casa com Patti Moore, sua primeira esposa.

No início dos anos 40 é figura constante no núcleo de clubes e bares do bairro negro de Los Angeles, polarizado pela “Central Avenue” que nesses anos 40 tinha para L.A. a mesma importância da “Rua 52” para New York (“a rua que nunca dorme”).

Pela “Central” desfilaram à época Art Tatum, Louis Armstrong, Jimmy Blanton, Lester Young, Roy Eldridge, Coleman Hawkins, Ben Webster, Johnny Hodges: uma constelação impar, que foi a escola do JAZZ para Art Pepper. Fora dos estudos formais, dos bancos escolares, Pepper tomou o JAZZ como linguagem total, tocando com Dexter Gordon, Zoot Sims, Coleman Hawkins, Mingus.

Conseguiu seu primeiro “emprego” na orquestra de Gus Arnhein que não era de JAZZ e, portanto, inibidora de improvisação, o que levou Art Pepper a deixá-la para fazer parte do grupo do baterista Lee Young, irmão de Lester Young.

A década de 40 vai marcar profundamente a vida de Pepper pelo início do consumo de drogas: maconha, álcool, pílulas.

Lee Young é o passaporte de Art Pepper para ingresso no grupo de Benny Carter, onde era o único branco, em uma banda que contava então com os talentos de Gerald Wilson, J. J. Johnson, Freddie Webster e outros. Quando Benny Carter parte com sua orquestra para excursão ao Sul americano, decide não incluir Pepper exatamente por ser o único branco e ajuda-o a entrar para a banda de Stan Kenton: estamos em 1943

Art Pepper nada sabia então sobre acordes, harmonia, composição e Kenton obrigou-o a estudar com afinco. Essa época assinala seu primeiro registro fonográfico (“Harlem Folk Dance”, 19/Novembro/1943).

Com meio ano na banda de Kenton, Art Pepper foi recrutado para o exército e iniciou servindo no Fort McArthur, sendo depois deslocado para Londres como policial militar; sempre estudando e praticando o sax.alto toca em Londres com Ted Heath, Victor Feldman e George Shearing; completou 02 anos de serviço militar.

Retornou à Califórnia e à banda de Kenton em 1946, onde permaneceu atuando e gravando até Setembro/1951. Por um lado composições, arranjos e a disciplina da “big band” de Stan Kenton e, por outra parte, as drogas, a dependência.

Em 1951/1952 é eleito por 02 vezes o segundo melhor sax.alto (“Down Beat”), tendo como primeiro Charlie Parker (quem mais ???!!!...).

Passa a atuar e a gravar com a “crew” da Costa Oeste, iniciando com Shorty Rogers e Shelly Manne em Outubro/1951, seguindo-se sua participação em diversas formações.

Condenado a 15 meses de reclusão em Fort Worth (sentença longa, porque preso por posse e consumo de drogas, abdicou da redução da pena por delação premiada, recusando-se a delatar outros músicos, postura que manterá em todas as futuras detenções), foi liberado em Maio/1954 e já divorciado por iniciativa de sua mulher enquanto estava detido.

Em Agosto desse ano grava com grande êxito seu hino “Straight Life”, um extraordinário “up-tempo”, mas volta a cair nas mãos da brigada anti-drogas. Ocorre um intervalo de atuação entre Agosto/1954 e Julho/1956, quando é liberado e novamente se casa: Diane Suriaga, que também viria a tornar-se uma dependente.

Retorna às gravações registrando, entre outras e particularmente, a série “Playboys” com Chet Baker.

Em Novembro/1956 e até Janeiro/1961 é apadrinhado pelo seu grande apoio a partir de então: Lester Koenig da Contemporary Records que, inclusive, promove sua gravação em Janeiro/1957 do seminal “Art Pepper Meets The Rhythm Section” com a “cozinha” de Miles Davis (Red Garland, Paul Chambers e Philly Joe Jones).

Sua mulher o delatou para a polícia, resultando no seu encarceramento em San Quentin (novamente pena longa por recusar-se a delatar outros músicos, em estabelecimento penal reservado para criminosos de alta periculosidade), de onde saiu em 1964 sob custódia. Violou a condicional, foi novamente preso em Chino, saiu, violou novamente a condicional e foi preso durante apresentação em clube noturno, retornando a San Quentin de onde saiu em 1966, mesmo ano em que enviuvou.

Iniciou breve relacionamento com Christine, marcado pela violência física que custou-lhe o rompimento do baço: hospital, cirurgia, hemorragia interna, baço recuperado mas pneumonia, hérnia de ventre, vida e morte se alternando.

Saiu do hospital em caos financeiro, sendo socorrido por um festival beneficente de JAZZ, encabeçado por Roland Kirk.

Vai em 1969 para a clínica de recuperação Synamon em Santa Mônica, onde conheceu Laurie Pepper sua 3ª e última esposa a partir de 1974: a quatro mãos iniciaram em 1972 a auto-biografia de Art Pepper, “Straight Life”, publicada em 1979.

Saindo da clínica Pepper foi auxiliar de Contabilidade, atendente em Livraria, Professor de clarinete, que também tocou nas ruas, até seu “padrinho” Lester Koenig resgatá-lo para um retorno triunfal, após esse largo intervalo de Novembro/1968 até Fevereiro/1975, apenas rompido com a sessão de 06/Julho/1973 já indicada no início deste “RETRATO”.

A partir de seu retorno em 1975 (gravação em 14/Fevereiro/1975), Art Pepper estava musicalmente melhor que nunca e realizou com êxito gravações e apresentações triunfais, temporadas e excursões nos U.S.A. e ao redor do mundo, particularmente no Japão (Janeiro e Abril/1977, Março/1978, Julho/1979), New York / “Village Vanguard” em 28, 29 e 30/Julho/1977, Inglaterra (Junho/1980), Dinamarca (Julho/1981) e Itália (Dezembro/1981).

Art Pepper executou e gravou composições próprias e temas de terceiros que marcaram sua carreira, repetindo-as em apresentações e gravações quais fios condutores de sua atribulada existência como, por exemplos:
- Popo de Shorty Rogers, 1ª gravação em 08/Outubro/1951;
- Straight Life de sua autoria, 1ª gravação em 25/Agosto/1954;
- Patrícia de sua autoria e dedicada à filha, 1ª gravação em 06/Agosto/1956;
- Everything Happens To Me de Thomas Adair e Matt Denis, 1ª gravação em 31/Março/1957;
- Lost Life de sua autoria, 1ª gravação em 09/Agosto/1975.

Após suas primeiras gravações com o pianista George Cables em 15 e 16/Setembro/1976 (David Williams no baixo e Elvin Jones à bateria), este passará a ser seu quase permanente “escudeiro” nos teclados, até inclusive as gravações de 11 e 12/Maio/1982.

Seus últimos registros fonográficos em 30/Maio/1982 (16 dias antes de falecer) tiveram como pianista o notável Roger Kellaway, com quem já havia gravado e se apresentado em diversas ocasiões.

Se Art Pepper trilhou uma permanente “via crucis” pessoal (tal como outros de sua época foi levado pela maldição do vício, do qual não conseguiu escapar), musicalmente deixou-nos uma herança mais que substancial, brilhante em qualidade e quantidade. Sua discografia é um acervo gigantesco, do qual indicaremos na continuação deste “RETRATO” (módulos “B” e “C”) uma mínima parte que julgamos de altíssimo nível, para ser ampliada a pedido dos “Cjubianos”.

A “filmografia” de Art Pepper inclui 07(sete) registros, dos quais apenas o último indicado a seguir é mais pleno de imagens do músico, enquanto os restantes constituem-se em participações nas trilhas sonoras.

01. Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot)
1959, U.S.A., 121 minutos, direção de Billy Wilder
Trilha sonora com a banda de Matty Malneck, solo de Art Pepper

02. Essa Loura Vale Um Milhão (Bells Are Ringing)
1960, U.S.A., 125 minutos, direção de Vincent Minnelli
Solo de Art Pepper na trilha sonora. Gerry Mulligan participa em uma "ponta".

03. Os Subterrâneos da Noite (The Subterraneans)
1960, U.S.A., 80 minutos, direção de Ranald MacDougall
Trilha sonora de André Previn, solo de Art Pepper

04. Sem Medo da Morte (The Enforcer, da série “Dirty Harry”)
1976, U.S.A., 96 minutos, direção de James Fargo
Trilha sonora com participação de Art Pepper

05. Rota Suicida (The Gauntlet)
1977, U.S.A., 109 minutos, direção de Clint Eastwood
Trilha sonora com participação de Art Pepper

06. Os Beatnicks (Heart Beat)
1979, U.S.A., 109 minutos, direção de John Byrum
Trilha sonora com participação de Art Pepper

07. Art Pepper: Notes from a Jazz Survivor
1982, U.S.A., 48 minutos, direção de Don McGlynn
Documentário sobre a vida de Art Pepper

Já a bibliografia com referências a Art Pepper é volumosa, dado que nenhum livro importante sobre o JAZZ tem como omití-lo, sendo as indicações seguintes um breve e mínimo panorama.

01. The Encypledia Of Jazz de Leonard Feather dedica verbetes a Art Pepper no original, assim como nas edições dos anos 60 e 70 (DaCapo Press, U.S.A.).

02. História do Jazz de Barry Ulanov (1957, Editora Civilização Brasileira, Brasil) cita na página 382 Art Pepper no sax.alto e Bob Cooper no sax.tenor como os bons solistas de Stan Kenton na formação de 1951.

03. Straight Life de Art e Laurie Pepper, esta a 3ª esposa de Art (1979, Schirmer Books, U.S.A.) é a já citada auto-biografia escrita, de 1972 a 1979, a quatro mãos.

04. Gran Enciclopédia Dell Jazz (1980, Editora SARPE, Espanha) é bem precisa quanto às etapas da carreira de Art Pepper.

05. West Coast Jazz de Alain Tercinet (1986, Editora Parenthéses, França), assinala nas páginas de 69 a 80 a grande beleza melódica de Art Pepper.

06. Jazz – De Nueva Orleans a Los Años Ochenta de Joachim E. Berendt (que no Brasil teve “cometido” o infeliz sub-título de “Do Rag ao Rock”), edição mexicana, acentua na página 410 que depois de Parker e Konitz, “o desenvolvimento do sax.alto marchou entre os extremos desses 02 músicos, sendo que Art Pepper abriu caminho até um estilo maduro, de profunda emotividade”.

07. Jazz - América In Nero E Bianco esplêndido trabalho de Giampiero Cane (separata da revista italiana “Musica e Dossier” de Outubro/1987), indica na página 64 o álbum de Art Pepper “Early Art” (Blue Note) como um dos mais representativos do “Cool” / West Coast”.

08. The Penguin Encyclopedia Of Popular Music de Donald Clarke (1989, Inglaterra), possui verbete sobre Art Pepper nas páginas 906/907, bastante preciso e extenso.

09. Los 100 Mejores Discos Del Jazz de Jorge Garcia, Federico Herraiz, Federico Gonzáles e Carlos Sampayo (1993, Editorial La Mascara, Valência Espanha) inclui na página 95 o album “Art Pepper Plus Eleven” com um dos cem melhores (temas Move, Donna Lee, Four Brothers, Airegin etc), descrevendo-o com alguns detalhes.

10. Jazz & Blues (1995, Editora Planeta, Barcelona, Espanha), tem o número 77 da coleção dedicado a Art Pepper, com 14 páginas e CD com 04 faixas em 52’25”.

11. 1920-1950 Black Beauty, White Heat - A Pictorial History Of Classic Jazz de Frank Driggs e Harris Lewine (1996, DaCapo Press, U.S.A.) nos traz na página 338 fotografias pré-1950 de Art Pepper e outras referências.

12. Musica Jazz (Dezembro/1998, Editora Rusconi, Milão, Itália), contem anexo com 12 páginas (mais CD com 10 faixas, 73’42”) sobre Art Pepper, sem dúvida excelente trabalho.

13. No Fundo de Um Sonho - A Longa Noite de Chet Baker de James Gavin (2002, Companhia das Letras, Brasil) é repleto de referências ao duo Art Pepper / Chet Baker, com o autor assinalando (página 49) que as ““jam sessions” no “Showtime” de San Fernando Valley foram a principal fonte incubadora do “West Coast Jazz”.

14. Glossário do Jazz de Mario Jorge Jacques (2005, Editora Virtual, Brasil), traz como curiosidade na página 339 o fato de Art Pepper gravar sob o pseudônimo de Art Salt (album “Cool & Crazy”, RCA Victor, 1954).

Continua em B e C com a discografia reduzida.

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