Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

DO OUTRO LADO DO JAZZ # 16

23 maio 2007

MÚSICA SEM PAUTA

Muito se tem falado de músicos extraordinários que nem mesmo sabem ler partituras, talentos natos que só sobrevivem na música popular, notadamente na de Jazz. Em nosso folclore existem contadores de estórias e poetas repentistas que não sabem ler e eles próprios perguntam : - “e para quê?” Suas imagens são expontâneas, improvisadas no contexto de suas estruturas. Assim se passa com a música de Jazz oriunda do folclore negro, ainda inculto, mas expontâneo e criativo.
Duvidamos que um Buddy Bolden precisasse ler música, e para quê?
Os pioneiros de New Orleans não sabiam ler partituras e esta intelectualização começou a ser difundida com os creoles possuidores de melhores condições sócio-culturais.
Torna-se claro e óbvio que o rendimento técnico da maioria dos músicos que sabem ler partituras é melhor, até porque o Jazz tradicional de improvisação coletiva foi cedendo lugar a conjuntos maiores com ensembles arranjadas e chegando até as big bands interpretando enorme repertório que seriam inviáveis se seus músicos não soubessem ler as notações em pauta.
Benny Goodman exigia boa leitura de seus músicos, ensaiava bastante qualquer nova peça, já Count Basie agia de modo diferente. Earl Warren saxofonista alto da banda conta que no fim dos anos 30 ainda eram poucos os arranjos inteiramente escritos e a orquestra ensaiava tal qual numa jam-session bem descontraída.
Desta forma, combinavam as ensembles, os riffs, a entrada dos solistas e a quantidade de choruses de cada um, tudo sob a suvervisão de Basie. Isto é o que se chamou de HEAD ARRANGEMENT (literalmente arranjo de cabeça) e assim foram gravados alguns dos grandes sucessos da orquestra como Jumpim At The Woodside, Every Tub, Blues In The Dark, Doggin’Around, dentre outros.
Billie Holiday era da maior simplicidade e expontaneidade, não sabia ler música, mas bastava o pianista passar a melodia e pronto, Billie pegava o tom, o feeling da canção e assim ocorreu quando da gravação de Night and Day em 1939 canção que jamais tinha ouvido e o pianista Joe Sullivan que a acompanhava dedilhou no estúdio e pouco depois foi gravada esta obra prima.
Outra figura de grande espontaneidade fora Bix Beiderbecke cornetista branco dotado de feeling negróide e que também não lia quase nada de música. Tornou-se famosa a estória de que atuando na orquestra sofisticada e "sinfônica" de Paul Whiteman, costumava colocar um jornal na estante fingindo ler uma partitura. Quando dos ensaios enrolava um pouco no início das ensembles, mas depois de 2 ou 3 passagens já tinha tudo de cor e na hora de solar levantava-se e então, ficava à vontade. Paul sabia de tudo, mas estava mais interessado justamente nas exuberantes passagens que Bix proporcionava.
Um fato muito interessante ocorrido com Louis Armstrong logo ao entrar para a banda de Fletcher Henderson, contado por Don Redman. (já relatado aqui no CJUB).
Armstrong no primeiro ensaio, olhava perplexo para a partitura de trompete que Henderson distribuíra. A orquestração indicava passagens desde o fortíssimo cuja notação era "fff" indo até o pianíssimo indicado por "pp" e Armstrong que já não era muito versado em leitura de música jamais tinha visto aquilo em partituras. Estava preocupado, mas firme. Por algum motivo, percebeu que os "fff" significariam uma passagem em fortíssimo e se tranquilizou. A banda começa a tocar e ao surgir os 3 efes vai “subindo” num crescendo e Louis acompanhando firme e quando na notação surge o "pp" a banda vai “caindo” para o pianíssimo e Armstrong continua “subindo”, tocando cada vez mais alto, até que Henderson pára tudo e diz:
-” Louis, você não está seguindo o arranjo”
Louis: - ”Claro que sim, estou lendo tudo nesta folha”
Henderson: - “E o que me diz destes "pp" ?
Louis mais que depressa, porém já meio desajeitado -”Suponho power-plenty" (força-total). O pessoal caiu na gargalhada, inclusive Henderson.
Muitos episódios existem envolvendo músicos sem saber ou com dificuldade em ler partituras, Errol Gardner criou um estilo único e genial de tocar piano e é quase certo que se soubesse ler música talvez jamais tivesse ocorrido.
Vamos ouvir alguns momentos sem pauta com Billie Holiday (Night and Day em 1939) e Bix Beiderbecke (Because My Baby Don’t Mean Maybe Now -1928) na orquestra de Paul Whiteman.

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