Trumpetista na melhor acepção do termo, Clifford Brown tornou-se dono de sonoridade poderosa, perfeitas técnicas de respiração e digitação, precisão e rigor absolutos tanto no tempo quanto na sustentação. Músico ao mesmo tempo altamente técnico e inspirado: notas limpas, tendência a redobrar o tempo, frases longas, tratamento cuidadoso em quaisquer andamentos, são características que o tornaram um executante generoso na música, tão rigorosa quanto alegre.
Nasceu em 30/Outubro/1930 em Wilmington (Delaware), filho de família de classe média. Com 15 anos ingressa na “high school”, ganhando do pai um trumpete e inicia seu aprendizado musical com Robert Lowery, músico importante no meio jazzístico de Wilmington; estuda teoria, harmonia, piano, vibrafone, contrabaixo e bateria, além de seu instrumento permanente, o trumpete, ao qual se dedica à exaustão, o que irá garantir-lhe uma bolsa para a “Maryland State College” entre 1948 e 1949.
Em 1949 freqüenta os clubes da Filadélfia, conseguindo alguns contratos. Conhece Miles Davis e Fats Navarro, este considerado seu “ícone” no trumpete e com o qual mantem amizade.
Nesse mesmo ano chega a substituir por pouco tempo a Benny Harris, na banda de Dizzy Gillespie. Conhece J.J.Johnson, Kenny Dorham e Ernie Henry. Já é considerado localmente como muito mais que uma promessa.
Durante cerca de 1,5 ano e entre 1950 e 1951 e em função de acidente, fica afastado do cenário musical.
Em 1952, como pianista e trumpetista, entrou para a banda “Blue Flames”(R&B) de Chris Powell (percussionista e cantor). É com essa banda (sob o título discográfico de “The Five Blue Flames”) que, em 21/Março/1952 e em Chicago, Illinois, temos a primeira gravação com Clifford Brown.
Em 1953 vai para New York, fica por pouco tempo na orquestra de Jimmy Heath, é contratado por Tadd Dameron com quem grava para a Prestige em 11/Junho, 02 dias após já ter gravado com Lou Donaldson e Elmo Hope para a Blue Note, etiqueta para a qual voltaria a gravar logo em seguida com J.J.Johnson.
Ainda em 1953 e por breve temporada trabalha com Dinah Wahington.
Integra a grande orquestra de Lionel Hampton que excursiona à Europa. Hampton e sua mulher conduzem a orquestra com mãos de ferro, sempre tendo como destaque único o líder, proibindo seus músicos de quaisquer outras incursões musicais. Essa orquestra grava em Estocolmo.
Apesar da proibição Clifford e os demais músicos da banda gravam, com o concurso de músicos europeus em muitas ocasiões, em Paris, Estocolmo e Copenhaguem de Setembro até Novembro de 1953, o que lhes valerá a exclusão da banda de Hampton no retorno aos U.S.A.
Durante Fevereiro de 1954 e no Birdland, Clifford integra o quinteto de Art Blakey (com Horace Silver ao piano), chamando a atenção de Max Roach. Com este e Sonny Stitt é formado combo, com a participação de Teddy Edwards: tocam no Tiffany Club de Hollywood e gravam no Califórnia Club de Los Angeles.
Ainda em 1954 Clifford se casa em Los Angeles; grava para a Pacific Jazz com Zoot Sims.
É formado o quinteto histórico: Clifford Brown (trumpete), Harold Land (sax.tenor), Richie Powell irmão de Bud Powell (piano), George Morrow (baixo) e Max Roach (bateria), que grava no início de Agosto desse ano de 1954.
Em dezembro Clifford grava com Sarah Vaughan e Helen Merrill.
Em 1955 e em Janeiro Clifford grava com cordas (“with strings”). Em fevereiro o quinteto volta a gravar no Capitol Studio e em Maio se apresenta no Carnegie Hall.
Em Novembro o quinteto grava, já com Sonny Rollins substituindo Harold Land no sax.tenor.
Com essa nova formação o quinteto grava seguidamente em Janeiro, Fevereiro, Março, Abril e Junho de 1956.
Em 26/Junho/1956 Clifford Brown empreende viagem de automóvel para Elkhart, Indiana, com o propósito de comprar um novo trumpete; o automóvel é dirigido pela esposa de Richie Powell e ocorre o acidente fatal em que morrem os três.
Em 1957 Benny Golson compõe a balada “I Remember Clifford”.
Breve mas intensa foi a permanência de Clifford entre nós, deixando um legado inestimável que se projetou sobre trumpetistas da época e posteriores. Deixou-nos “masterpieces” em seus solos, do quilate de “Joy Spring”, “I’ll Remember April”, “What’s New”, “Once In A While”, “Jordu”, “Daahoud” e tantos e tantos outros.
A filmografia de Clifford Brown é inexistente, a menos que surjam registros arquivados (lembra-se que foi a esposa do já falecido Clifford que liberou de sua coleção particular para a Elektra/Musician gravações do quinteto ao vivo, o que possibilita a ilação de que existam filmes que possam vir a público). O filme “Trumpet Kings” narrado por Wynton Marsalis, faz referência a Clifford Brown com narrativa sobre fotos.
Já a bibliografia é extensa, dado que todas as publicações sobre Jazz pós-1956 obrigatoriamente reservam espaço para Clifford Brown: verbetes, artigos, referências, enfim, é garimpo para preservação da cultura.
Para consulta bibliográfica recomenda-se, de Luiz Orlando Carneiro, “Obras Primas do Jazz”, prefaciada por José Domingos Raffaelli, que dedica 03 páginas a “Max Roach / Clifford Brown”.
A “Gran Enciclopedia Del Jazz” (Editora SARPE, 1980, Espanha), o “Diccionario Del Jazz” (Philippe Carlos / André Clerget / Jean-Louis Comolli, 1988, França) e a “Coleção Jazz & Blues” (Barcelona, Espanha), são fontes de boa leitura com seus alentados verbetes. Via Internet a consulta aos “Depoimentos” na “Clifford Brown Jazz Foundation” é uma bela viagem.
A discografia completa (ou a ser completada / corrigida / ajustada pelos Cjubianos) é listada a partir do próximo capítulo.
(Continua)
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