Conheci Gustavo Souto desde a infância, quando ainda usávamos calças curtas. Era neto do famoso compositor Eduardo Souto. Um menino diferente dos outros pois não saía de casa a não ser acompanhado pela mãe, ilustre professora em Niterói. Já na adolescência, Gustavo “se soltou” e demonstrou uma grande habilidade em tudo aquilo que fazia. Consertava aparelhos, montava aeromodelos e curtia sobretudo o radioamadorismo. Montou uma potente estação em sua casa, de onde se comunicava com todas as partes do mundo. Tinha gavetas cheias dos “radiocards”, cartões enviados pelos radio amadores quando fazem seu primeiro contacto com um colega. Aproximamo-nos quando locutores da Rádio Difusora Fluminense, onde Gustavo foi um dos mais perfeitos, a ponto de, logo logo estar na TV Tupi como locutor de cabine, ao lado de Ronaldo Rosas. Nessa época comecei a freqüentar sua casa e assistir as transmissões que fazia até altas horas da madrugada. Eu estava nas vésperas de uma excursão ao Uruguai e Argentina e certa noite quando Gustava falava com um colega uruguaio, pedi que perguntasse sobre o Festival de Jazz de Punta Del Este, datas, locais etc. A resposta foi imedi
ata e Hugo Gomez Sanpedro, prefixo CX-7CT, informou que mandaria as informações detalhadas pelo correio, o que cumpriu fielmente.
Nossa viagem foi de ônibus e observando as datas, descobri que pelo menos um dia daria para ir ao festival, o que infelizmente não aconteceu. Surpresa maior quando na primeira cidade uruguaia, numa das paradas, encontrei Tião Neto. Ia tocar com Sérgio Mendes e já tinha contacto com a diretoria do Peña de Jazz, excelente clube de Montevidéu e organizador do festival, que visitaria. Marcamos encontro e ao chegar na capital uruguaia partimos para o Peña, onde fomos cordialmente recebidos por seu presidente, Alfredo Silvera Lima, também contrabaixista dos “Swingers”, conjunto que estava ensaiando naquele momento. Instalações magníficas, uma boa discoteca, bar, palco e auditório muito confortáveis e um carinho muito grande de todos os presentes pelas nossas pessoas logo nos cativaram e em instantes já estávamos integrando os “Swingers”, Tião no baixo e eu na bateria(que sempre toquei mal). Esse grupo era constituído por Hector Cardarelo (cl) - Coco Perez (p) - Leandro Mendaro (g) - Silvera Lima (b) e Julio Cesar Cucurrulo (dm).
Visitamos todas as instalações do Peña e, convidados, voltamos à noite para o coquetel de recepção às delegações que participariam do festival (Argentina, Uruguai, Chile e Brasil).
Uma “Jam Session” com todos os participantes encerrou aquela noite inesquecível. Dia seguinte voltamos ao Peña e para nossa surpresa, fomos homenageados por seu presidente, recebendo uma flâmula do clube e o convite para sermos o “corresponsal” de sua revista, que seria lançada dentro de dois meses. Honrados, aceitamos a incumbência e fizemos no primeiro trabalho uma matéria sobre Booker Pittman, que o colega uruguaio transformou em Brook, apenas no título, e amplo noticiário sobre a atividade jazzística no Rio de Janeiro, que naquele tempo era profícua.
E foi com alegria incontida que recebi pelo correio o primeiro e único numero da revista, referente ao bimestre junho/julho de 1961. Lá estavam minhas matérias e o título “corresponsal en Rio de Janeiro”. Valeu!
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