Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

HISTÓRIAS DO JAZZ N° 23

13 fevereiro 2007

“O Disco misterioso”

Essa história é longa e cheia de episódios interessantes. Ainda é do tempo em que os escritórios da então CBS funcionavam na rua Visconde do Rio Branco, pertinho da Praça da República.
Começou quando fui convidado por Zuza Homem de Mello para dar uma palestra sobre Charlie Parker no primeiro Festival São Paulo/Montreux realizado em 1978. Uma orientação básica é que as músicas que ilustrariam o evento deveriam ser gravadas em fita de rolo, coisa difícil para mim que não possuía gravador e nem conhecia quem tivesse um. Numa das visitas que fiz a Coutinho lá na CBS perguntei se havia condições de “quebrar o meu galho”. Couto me assegurou que não haveria problema e me apresentou a Eugênio Carvalho, nessa época encarregado de lançamentos dos discos conhecidos como “retorno ao catálogo”. E foi o bom Eugenio que realmente me “quebrou o galho”, gravando, com esmero, a trilha sonora da palestra.
Terminado o trabalho começamos a conversar sobre os futuros lançamentos de Jazz e Eugenio então fez rodar uma fita com o cantor Tonny Bennett, informando que gostaria de lançar o disco mas, não tinha os dados essenciais para a confecção das notas da contracapa. Na verdade só existia a fita matriz com o nome do cantor e de Ralph Sharon, lider do trio de acompanhamento . Perguntou se eu tinha condições de fazer a contracapa e eu disse que tentaria obter os dados essenciais para esse objetivo. De posse de um cassete que ele me deu, fui identificando as músicas, algumas das quais eu não sabia o título. Foi quando o saudoso Leonardo Lenine de Aquino me informou que eu poderia conseguir alguma coisa na Rádio Jornal do Brasil. Realmente, liguei para lá e Célio Alzer me forneceu os dados essenciais como os títulos corretos do disco e a formação do trio. Agora era só ouvir e comentar faixa por faixa e o trabalho estava pronto. Foi o que fiz e vibrei quando Coutinho me informou que o texto fora aprovado e o disco seria lançado.
Mas, o tempo foi passando e nada do disco sair. De São Paulo informavam que o lançamento havia sido feito mas, o disco não aparecia. Estava desanimando quando Coutinho me avisou que o guitarrista John McLaughlin tocaria em São Paulo e eu poderia ir aos shows como convidado da CBS. O saudoso Othon Russo, gente fina, um dos diretores da época ,liberou a passagem para que eu pudesse ir. Não que gostasse da música de McLaughlin mas, fizemos amizade durante o São Paulo/Montreux e seria interessante curtir o coquetel de recepção e depois o show no Ginásio da Portuguesa de Desportos.
Em São Paulo perguntei a Coutinho se não dava para ir a CBS saber o que aconteceu ao disco de Tonny Bennett. Partimos e fomos muito bem recebidos por todo o pessoal da casa. Quando Coutinho perguntou sobre o disco foi informado que realmente o disco saira. Então pedimos um exemplar para ver como ficara a contracapa. Viraram o escritório de cabeça para baixo e não encontraram nada. Foi quando um dos diretores berrando um sonoro palavrão descobriu que o disco realmente fora prensado desde dezembro, estocado no depósito mas sem distribuição até aquela data.
Dias depois foi feito o lançamento, em tiragem pequena e recebemos o nosso exemplar que tocamos com freqüência em nosso programa “O Assunto é Jazz”. Mas, a historia não acaba aí. Recebí um telefonema de Richard Templar, que ainda não conhecia, pedindo para ser entrevistado no programa, na qualidade de presidente do fã clube de Tonny Bennett no Brasil. Atendi ao pedido e ele levou algumas gravações de Bennett ainda inéditas por aqui , informando também que o cantor brevemente viria ao Rio .
Foi quando Bennett cantau no Rio Palace Hotel em 1980 que acabei me considerando um sortudo. Richard Templar volta a rádio, levando convite para o coquetel que o cantor oferecia aos amigos cariocas, que seria realizado no “Chico’s Bar”. Informou que Bennett vira o disco e queria conhecer o “linernotes”. Nem acreditei naquela hipótese ,afinal foi um trabalho comum e ele com certeza teria a versão americana. Depois vim saber que o disco não saira nos Estados Unidos com texto de contracapa . (???)
Em 31 de março de 1980 entrei pela primeira vez no “Chico’s Bar”. Muita gente, muita animação, ala da bateria de uma escola de samba, fogos de artifício na chegada do cantor e o famoso chá escocês rolando solto. Na minha mesa pousou simplesmente o futuro “Jazz educator” ,
que ,na época , ainda não havia mostrado a sordidez de seu baixíssimo caráter. Richard Templar veio me procurar informando que Tonny queria falar comigo. Fui até ele , Templar nos apresentou e para minha surpresa agradeceu pelo meu trabalho. Autografou o meu exemplar e me desejou o indefectivel “best wishes”.
A noite estava ganha. Só mesmo o Jazz poderia nos proporcionar momentos como aquele. Um simples texto de contracapa interessar um grande cantor a conhecer o autor.
Mas, nem tudo funciona como a gente quer. Ao chegar a mesa ví o “Jazz educator” com a cabeça repousada sobre os braços. Informei que já estava saindo e ele cambaleando veio atrás de mim. Vomitou no canteiro, e eu penalizado com o porre (deve ter sido o primeiro) alí exposto levei-o de taxi até sua casa. Quem diria....

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