Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

DO OUTRO LADO DO JAZZ # 5

23 janeiro 2007

DA CERA AO RAIO LASER (2)

As gravações em disco foram editadas no que se apelidou de “bolachas pretas” inicialmente de 10 polegadas a 78 rotações por minuto e cuja característica intrínseca eram os fatídicos 3 minutos e meio de duração máxima de cada lado. Ora, dissemos fatídicos porque os músicos e arranjadores tinham que se virar para conseguirem se expressar naquele tempo exíguo e pior ainda para os de Jazz com inteira liberdade de criação, porém limitados, mesmo assim, maravilhas foram perpetuadas.
A companhia Blue Note Records usou por vezes os discos com 12pol ampliando o tempo para cerca de 6 minutos. Muitas gravações foram feitas usando os dois lados de um disco como Empty Bed Blues (1928) de Bessie Smith, Anvil Chorus I e II (1940) de Glenn Miller, Reminiscin’ In Tempo I, II, III e IV (1935) de Ellington em 4 faces! e muitas outras... Mas a quebra da emoção no processo de interrupção para a troca de lado por vezes era fatal.
Outro fato que toliu bastante o músico foi o processo de gravação que até 1925 era inteiramente acústico, não havia microfones nem amplificação elétrica e a captação do som se fazia através de uma enorme corneta cônica e o registro se dava por meio de uma agulha acoplada a um diafragma no final do funil da corneta. As ondas sonoras captadas pela tal corneta faziam vibrar o diafragma que por sua vez vibrava a agulha metálica que riscava um disco de cera girando na velocidade de 78 rpm. Após o que, era recoberto com laca para endurecer e depois fundida uma matriz de metal para posterior prensagem a quente das “bolachas” fabricadas com goma laca na cor preta.
Percebe-se logo que existiam enormes problemas de captação dos instrumentos, já que os sons emitidos além de possuírem uma vasta gama de frequências que o processo limitava a uma faixa de apenas 250 a 2.500Hz, (atualmente a faixa é de 20 a 20.000Hz). Lidava-se ainda com diferentes intensidades e, muito importante, com o volume sonoro relacionado à quantidade de massa de ar deslocada pelo instrumento, uma vez que o fluxo de ar é que iria mover a agulha. Assim, por exemplo: o contrabaixo de cordas tem alguma intensidade e volume de ar muito pequeno; a tuba possui intensidade pequena e grande volume; o clarinete de som agudo de grande intensidade mas pouca massa sonora e de características semelhantes também o cornetim, já o trombone talvez fosse o de melhor compromisso entre intensidade e massa de ar. O piano era de difícil captação pela forma como emite o som e se prestarmos atenção às gravações verificamos que se limitam a 2 oitavas apenas já que as frequências mais altas e mais baixas não eram captadas (só para lembrar o piano possui 7 oitavas). A bateria era grandemente sacrificada e usavam-se os pratos apesar do som ser reproduzido muito seco devido à limitação das frequências altas, empregava-se também o woodblock (bloco de madeira) de boa reprodução e o bumbo por vezes parecia um tiro de canhão.
Babby Dodds, um baterista dos pioneiros somente após a gravação elétrica teve reconhecido seu potencial com o instrumento.
Uma sessão de gravação era bastante complicada e geralmente eram feitos vários testes com a banda, marcando-se no chão a posição dos músicos de acordo com os instrumentos que participavam, com o arranjo e solos, e assim fazía-se a distribuição em relação à distância da corneta e se tal ordem não fosse estabelecida o som poderia embaralhar, algum instrumento sumir ou ainda, devido a um maior volume de som a agulha saltar na cera estragando tudo.
Finalmente a tecnologia deu um enorme salto com a gravação por processo elétrico criado pelos inventores Henry C. Harrison e Joseph P. Maxfield da Western Electric, ampliando-se a faixa de frequências para 50 a 6.000Hz. O primeiro disco gravado por este processo e editado comercialmente foi lançado em fevereiro de 1925 pela Columbia, com a canção You May Be Lonesome (Col-328-D) com o cantor e pianista Art Gillham (*1895 †1961) que atuava nos teatros de vaudeville sendo conhecido como The Whispering Pianist, antes de gravar para a Columbia possuía uma pequena banda de Jazz a Art Gillham's Southland Syncopators. Gillham convidado para testar o uso de microfone recebeu um "bonus" de US$1,000 da Columbia, também muito interessada nas transmissões de rádio. Não obstante, em janeiro do mesmo ano houve o lançamento pela Gennett (#5592) da cantora de blues Kitty Irvin em uma versão de Copenhagen que talvez tenha sido gravada também pelo novo processo. Dissemos talvez, porque várias companhias fonográficas pagaram a patente e iniciaram as gravações elétricas e os lançamentos comerciais ficaram meio confusos de se saber de quem ou quando era editado um novo produto, já que uns escreviam no selo outros não. Havia um certo receio quanto à
divulgação da nova tecnologia já que o fonógrafo elétrico, também uma novidade, só se popularizaria em 1926 e a maioria dos discos gravados eletricamente ainda eram reproduzidos em gramofones acústicos e uma vez que a diferença era quase imperceptível o resultado não era dos melhores o que poderia prejudicar o crédito no novo processo e conseqüentemente as vendas.
Para ilustrar esta promissora era tecnológica que se iniciava podemos ouvir trechos das gravações de Kitty Irvin da Gennett e de Art Gillham da Columbia.


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