Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

UM POUCO MAIS SOBRE HERBIE HANCOCK

03 novembro 2006

Houve muita polemica após a apresentação do músico Herbie Hancock no Tim Festival, a maioria dos puristas se levantou e foi embora. Mas era de se esperar que acontecesse. Herbie é sabidamente um músico eclético. Quem acompanha a sua carreira bem sabe o que iria ouvir, mas é um músico que tem história com 40 anos de carreira, com vários Grammys e até um Oscar, pela trilha sonora de "Round Midnight".

Uma vez Miles Davis falou de Hancock: "Herbie é o próximo passo após Bud Powell e Thelonious Monk..."

Hancock não parece ter mudado fisicamente desde a sua principal aparição na inauguração do MTV Music Awards em 1983, com seu hit "Rock-it".

Hancock comenta: "Você sabe, eu estou no negócio desde muito antes dos sintetizadores". Aos 66 anos ele fala do último modelo de seu novo teclado eletrônico, exibido no Tim Festival, o Korg Oasys. " O som é... o som é...". Momentaneamente ele perdeu as palavras. "Top notch", disse ele finalmente, falado com o sotaque dos músicos de Chicago "taap naaatch".

Hancock havia acabado de chegar do Japão, passou alguns dias em Los Angeles e veio para o Brasil, para o Tim Festival, de onde parte para um tour de seis semanas na Europa. Nesse meio tempo grava, faz uma consultoria para um documentário sobre basquete e jazz, um filme sobre seu último álbum. Uma série colaborativa com Sting e Christina Aguilera foi recentemente mostrada nos cinemas de Los Angeles e Nova York. Herbert Jeffrey Hancock continua, como sempre, com muitos afazeres.

Nesse dia ele estava feliz de estar lembrando do passado. Sua camiseta, preta como o resto de suas roupas, tinha estampado no peito a palavra "Miles", do tempo em que tocava no quinteto de Davis, um período que juntamente com o baixista Ron Carter, o baterista Tony Williams e o saxofonista Wayne Shorter gerenciavam a criação de uma química mística com o grande líder trompetista.

Um fato interessante veio a tona quando na biografia de Miles é citado que ele foi posto pra fora da banda por ter demorado muito na sua lua de mel. Hancock contou que tinha se casado em 1968, ele e a mulher tinham vindo passar a lua de mel no Brasil e durante o jantar havia passado mal. Segundo suas palavras ele havia sido "food poisoned on my wedding night".

Hancock perdeu algumas apresentações com a banda de Davis, que estavam esperando pelo seu retorno. Ela acha que Miles não acreditou na história do "food poisoning". Naquela época havia um clima que todos os músicos estavam pensando em deixar a banda.

Na sua ausencia, outro pianista, ainda desconhecido, foi contratado, Chick Corea. Quando Hancock apareceu ele não sabia que tinha sido substituído pelo Chick.

Hancock disse que ligou para Miles e que ele apenas o mandou entrar em contato com o agente Jack Whittemore. Foi quando Hancock percebeu a realidade, ele não tocava mais com Miles Davis. Hancock encarou aquilo como uma desgraça, mas há males que vem para o bem e ele pode pela primeira vez tocar com sua nova banda suas composições que escrevia noite após noite.

Muitas das suas composições se tornaram standards conhecidos como: "Watermelon Man", que Mongo Santamaria pôs nas paradas em 1963 e "Cantaloupe Island", que foi um hit mundial, tocado pelo grupo inglês Us3 em 1994 com o nome de "Cantaloup (Flip Fantasia)".

Hancock toca seu piano com uma grande influência do jazz (Davis disse um dia: "Herbie é o próximo passo após Bud Powell e Thelonious Monk e eu ainda não escutei ninguém que tenha vindo depois dele"). Quando o piano elétrico Fender Rhodes fez seu retorno aos palcos durante a onda de Acid Jazz no início dos anos 90, poucos tecladistas ainda não haviam escutado o álbum de jazz funk, Chameleon, que teve milhões de cópias vendidas desde 1973.

Como um prodígio aos 11 anos, ele tocou com a Chicago Symphony Orchestra antes de se voltar para o jazz e mudar-se para Nova York, onde ele foi morar com o trompetista Donald Byrd, com quem ele gravou para a Blue Note em 1961. Hancock rodou por várias formas de música de George Gershwin, em Gershwin Worlds 1998, para a música eletrônica e world music em Future 2 Future 2001 e a complexidade do final dos anos 60 de Davis e Coltrane para a Directions In Musica de 2003.

O campo musical de Hancock é bastante controverso, especialmente pelos puristas do jazz, mas para Herbie "ele está sempre dentro de uma caixa, se ele sair da caixa ele continuará a ser avaliado como se estivesse dentro da caixa".

Vai ser duro para os puristas quando descobrirem que a verdadeira origem de outro clássico de Hancock, "Maiden Voyage", do seu álbum de 1965 com o mesmo nome, começou como tema de um comercial de TV para uma loção após a barba.

Hancock disse que foi consultado por uma agência de publicidade se podia escrever um tema para uma cena da loção de barba, que se passaria num club de jazz que tinha cadeiras chiques, com espaldares altos e as pessoas da elite circulariam muito bem vestidas. Ele caiu na gargalhada, pois disse que nunca havia visto um club de jazz como aquele.

Hancock mostra um saúde excepcional, casado (fora a trágica lua de mel no Brasil) desde 1968 com Gigi, Hancock também tem uma filha, Jessica, que o ajuda a gerenciar seu negócio. Em 1972 ele começou a praticar o Budismo como religião.

Hancock diz " O budismo amplia sua perspectiva. Nós não olhamos as situações como causa para o stress, mas como oportunidades de crescimento. Frequentemente tentamos transformar o que acontece em algo positivo, como transformar veneno em remédio. E o jazz é algo assim, ele cresceu como veneno e agora é um remédio."

Falando das raízes do jazz. " Ele nasceu, basicamente, como uma expressão criativa dos escravos, isso é mentira, porque o budismo fala da habilidade do espírito humano transformar a pior das circunstâncias em algo de valor."

Sobre o documentário que ele está trabalhando junto com a estrela do basquete Kareem Abdul-Jabbar, "A conexão entre o esporte e a música não é obvio para mim", mas ele explica: "Nos anos trinta, no que eles chamam de Harlem Renaissance, algumas vezes os jogos de basquete eram em salões de baile. As pessoas vinham para ver o jogo e no final entrava uma big band e todos dançavam."

Perguntado dentre todas essas atividades se ele se considera mais um artista de jazz ou um músico, Hancock respondeu: "Eu penso em mim mesmo como um ser humano, em primeiro lugar. Muitas pessoas pensam primeiro como sendo músicos, pintores, dançarinos, qualquer coisa e não se lembram que em primeiro lugar deveriam se considerar como um ser humano. Enquanto eu estou compondo ou tocando, eu parto do princípio que sou um ser humano que funciona como músico e isso me encoraja ainda mais."

Como Hancock está no topo de sua carreira há 40 anos? Talvez o jazz seja, como ele diz, um remédio e, que certamente o está mantendo em plena forma.

Nos bastidores do Tim Festival, durante a entrevista, Arlindo Coutinho perguntou a Hancock se o som que ele tocou tinha uma linguagem jazzistica, ao qual respondeu: "É, tem tudo a ver, o que faço é pesquisar e estudar uma série de sonoridades que se adequem ao jazz. Isso pode não agradar aos puristas, mas o som tem raízes eminentemente adequadas ao jazz."

Na rádio Paradiso FM, na seção Jazz Paradiso, estão diversas entrevistas dados pelos músicos de jazz que tocaram no placo Club.

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