Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

HISTÓRIAS DO JAZZ, 10: ANA MAZZOTTI

03 outubro 2006

Navegando na internet descobri em determinado blog que seus responsáveis ainda não sabiam do passamento de nossa saudosa e querida amiga Ana Mazzotti, ocorrido em 1988. De imediato veio o desejo de homenageá-la, incluindo-a nessa série.

Quem me falou sobre Ana Mazzotti inicialmente foi Gedir Pimentel. Trouxe convite para que fosse assistí-la no "Made in Brazil", uma casa noturna na Barra de Tijuca. Não pudemos comparecer mas, semana seguinte recebemos sua visita no programa e alí iniciamos uma sólida e sincera amizade. Ana, como tantos outros músicos, reclamava da falta de espaço para suas apresentações e do completo descaso da mídia em relação à música instrumental. Corria o ano de 1985 e Ana procurava desenvolver sua carreira de uma forma ou de outra. Voltou algumas vezes ao programa levando fitas gravadas de seus shows e falando sobre projetos para excursões a outros estados.

Vê-la "ao vivo" era uma alegria só. Muita energia, criatividade e uma técnica apreciável nos teclados. Cantava com mestria suas próprias composições, não deixando de criticar, em algumas letras, o "status quo" da nossa MPB.

Em junho de 1986 excursionou à Bahia e de lá me mandou cartão postal com os seguintes dizeres: "Lula, daqui, uma lembrança dessa linda terra: Salvador. Recebi carta de Chick Corea. Enviarei vídeo-cassete do meu trabalho para ele. Ficaremos aqui o mês de julho também. O "som" tá rolando por aqui. Abraços à você, seus ouvintes e ao Tião Neto. Da amiga Ana Mazzotti."

Dela assisti três shows. O primeiro, no antigo "Mistura Fina", ocasião em que me pediu que chegasse mais cedo para que pudéssemos conversar. Ao chegar, o baterista Romildo, seu marido, levou-me ao camarim onde travamos uma longa conversa. Ana falou sobre sua vida, a preocupação que tinha com a criação de seus dois filhos, a luta pela sobrevivência no meio artístico e ainda me confessou que havia perdido um seio, vitimado por um câncer. Mas, continuou na luta correndo atrás de oportunidades.

Quando contei a ela que fiz parte de uma comissão que escolheria artistas que participariam do FREE JAZZ e sugeri o seu nome e os "foquinhas" e "críticos" presentes confessaram que não a conheciam, riu e disse que não era surpresa. Contei-lhe ainda que Leny Andrade não estava na lista apresentada pela produção e que só após eu ter reclamado informaram que poderíamos acrescentá-la na relação. (Leny foi escolhida por unanimidade). Contei também que quando sugeri Dick Farney ninguém sabia que ele também tocava piano. E ela, sorrindo, falou: "Pois é, Lula, é esse tipo de gente que toma conta da nossa música."

O segundo show que assisti foi na Sala Funarte e teve a direção de Regis Cardoso. Como sempre, me chamou ao camarim para conversarmos sobre o espetáculo, pedindo também que após a apresentação eu voltasse para dar a minha opinião. Fazia isso com o maior prazer e me envaidecia quando ela, ao me ver chegar, pedia licença às pessoas com quem conversava e vinha saber o que eu achara de sua musica.

Seu último show aconteceu aqui em Niterói, no "Nó na Madeira". Mais uma vez as conversas prévias e nesse dia ela se queixava de cansaço e dores de cabeça. Eu nem desconfiei do que estava por vir. Que aquela era a última vez que eu estaria com Ana Mazzotti. Dias depois Arlindo Coutinho me telefona e dá a notícia: "Ana está internada no Hospital Matarazzo em São Paulo e seu estado não é bom." Passou-me o número do telefone e liguei imediatamente para lá. Romildo atendeu e perguntei como estava Ana. Ele então mandou que eu falasse com ela. Com voz fraca e trêmula agradeceu o telefonema e disse que estava no fim. Tentei animá-la dizendo que tivesse fé, pois já vencera a doença uma vez. Mas a resposta foi fatídica: "Não adianta, Lula, o câncer foi para a cabeça, adeus."

Horas depois falecia a nossa amiga, deixando amargurados todos aqueles que apreciavam sua arte. Dediquei-lhe o programa daquela noite, fazendo rodar faixas de seus LPs e trechos de nossas entrevistas.

ANA MAZZOTTI - * 17-08-1950 Caxias do Sul - RS
+ 20-01-1988 São Paulo - SP

lulla

Nenhum comentário: