Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

DICK FARNEY - OPINIÕES

10 maio 2006

Sobre o nosso patrono, DICK FARNEY, algumas opiniões de gente que pode apreciar sua carreira de perto, para que se tenha diversos enfoques de sua importância:

Segundo Mario Jorge Jacques, autor do Glossário do Jazz:

"Acho que foi em 1961, minha primeira participação em um evento de jazz ao vivo. Teatro Municipal do Rio de Janeiro, adentra ao palco um trio clássico, piano, baixo e bateria e a música começa a fluir. Ouço Risque de Ary Barroso, em soberba interpretação jazzística do tema. O pianista é Dick Farney, no baixo Shú Viana e Rubinho à bateria.

O primeiro contato com música ao vivo é sempre esplêndido, florescente, mas ouvir aquele trio era algo mais, sublime. Outras peças se seguiram e recordo agora através do LP editado pela Prestige com um resumo do concerto - We'll Be Together Again e Um Tema Em Fuga , onde Dick parodiando Bach apresenta um tema desenvolvido inicialmente em fuga, aquele contraponto, e depois, embala em um suingue magnífico em 4/4, o compasso mágico.

Neste dia fui apresentado a Dick Farney , ao seu piano com aquele toque delicado, equilibrado e ao mesmo tempo fulgente, balanço rítmico excepcional, um baladista de primeira como em These Foolish Things e um drive inquietante em Tangerine, obras primas de sua discografia.

Dick em sua carreira conseguiu agradar a gregos e troianos, ou seja, aos nacionalistas com sua fantástica Copacabana com um vocal morno, denso, aos bossa-novistas de plantão e à concepção americana da música através do magnífico jazz. Músico completo, poucos chegaram a este nível.

Grande Dick, muitas saudades, mas o revivo nos seus discos e num excepcional vídeo gravado na TV Cultura de São Paulo, com apresentação do Fausto Canova, em que Dick dotado daquela elegância peculiar, imita o estilo de outros pianistas como Errol Garner, George Shearing e Bill Evans, além de executar o seu próprio, um momento emocionante, hoje preservado por mim em DVD.

Que bom ser Dick Farney o patrono do CJUB, nada mais justo e merecido. Uma figura musical e humana excepcional."

==========

Segundo Leny Andrade, em depoimento a José Domingos Raffaelli, exclusivo para o CJUB:

"Depoimento de Leny Andrade sobre Dick Farney:

Conheci Dick Farney por volta de 1958 ouvindo seus discos. Em 1962, chegando em casa vi Dick na sala com mamãe Ruth e papai Gustavo. Assustei-me, e, depois do susto, ele disse que viera de São Paulo falar com meus pais a mando do maestro Erlon Chaves, porque este pedira que eu fosse a crooner da orquestra do Dick Farney. Meus pais não conseguiram dizer não àquele gentleman, cujo carisma, simplicidade, forma de andar, de vestir, de falar e de sorrir eram de uma classe irretocavél e ainda cantando daquele jeito e tocando aquele piano chique.

Durante um ano e meio tive a grande honra de dividir o palco com ele, e no meio dos bailes faziamos jam sessions com Claudio Slon, Manuel Gusmão e um vibrafonista que não recordo o nome (Nota: era Altivo Penteado), mas era gaúcho. Eles completavam o quarteto de jazz que tocava durante uma hora e quinze minutos enquanto a orquestra fazia o lanche. Eram 25 pessoas dentro de um ônibus confortável e aquele gentleman nosso chefe cantando todos aqueles standards famosos para um publico enlouquecido.

A orquestra fez uma apresentação no auditório do O GLOBO em uma noite beneficente; este é o unico disco vinil que existe onde tem fotografias da gente no palco. Tive o prazer de ter sido a única crooner da orquestra. Fazíamos cinco bailes por semana. O empresário Waldomiro Saade reuniu a nata dos músicos de todas as orquestras de SP e os contratou pelo dobro do preço para fazerem parte da banda do DICK FARNEY, que foi a maior orquestra que o Brasil já viu... digo isso em termos musicais e estéticos porque, podem imaginar, tudo que tocavámos de musica brasileira, cubana e demais ritmos eram arranjos do ERLON CHAVES, além dos standards e todo o material que Dick sempre sonhou tocar e cantar. Amo Dick como se ele estivesse aqui hoje. É doce pensar sempre nele."

==========

Depoimento de Johnny Alf, também colhido com exclusividade pelo Mestre Raf, para nós:

"Nat King Cole, George Shearing e Dick Farney foram minhas primeiras influências e ouvia seus discos com muita atenção, apreciando seus estilos de pianistas consumados e inovadores. Conheci Dick Farney quando ele era recém-chegado dos EUA, em 1949, no lendário Sinatra-Farney Fan Club. Ele era simpático, amável e dava atenção a todos. Um dia, sabendo que eu tocava piano e cantava, pediu para eu tocar alguma coisa. Fiquei nervoso porque para mim ele era um monstro sagrado e tentei recusar, mas diante da insistência dele comecei tocando e cantando timidamente. Logo ele me encorajou e criei coragem, melhorando no decorrer da música. Quando terminei, ele me abraçou e me deu a maior força, incentivando para seguir uma carreira profissional porque eu "tinha qualidades", segundo disse. Nunca esqueci aquelas palavras e, todas as vezes que desanimava, lembrava dele e continuava com força redobrada. Dick Farney é um dos meus ídolos inesquecíveis e a ele devo em parte o que consegui na vida artística."

==========

Mais Dick, agora nas palavras do jazzófilo, pesquisador e colecionador Gedir Oliveira Pimentel, como colhidas pelo Mestre Goltinho:

"Coerência, bom gosto e talento foram algumas das características do pianista e cantor Dick Farney. Filho de um casal de músicos, Dick aprendeu piano clássico desde a infância e cresceu desenvolvendo sua arte com extrema dedicação. Muito jovem, interessou-se pelo jazz e o fez com tanto brilhantismo que era capaz de tocar imitando com perfeição a cada um de seus ídolos Art Tatum, Fats Waller, Earl Hines, Errol Garner, Oscar Peterson, Nat Cole, Bill Evans, George Shearing e Dave Brubeck, entre outros.

Mais tarde resolveu ser cantor, inspirando-se nas vozes de Bing Crosby, Frank Sinatra e Dick Haymes. Dotado de bela voz, afinadíssimo e bem apessoado, fez sucesso no Cassino da Urca, onde atuou por bastante tempo com a Orquestra de Carlos Machado.

Viajou para os EUA várias vezes, tendo ficado por lá alguns anos cantando e gravando, tendo sido o primeiro intérprete do clássico "Tenderly" [tema anos depois imortalizado por Nat King Cole - N. da .E].

No Brasil, cantando em português, tornou-se um intérprete de sucesso a partir da gravação de "Copacabana" (João de Barro e Alberto Ribeiro). Dick foi um dos pioneiros dos festivais de jazz no Brasil onde realizou memoráveis concertos em São Paulo e no Rio, alguns deles preservados em disco.

Elegante e discreto, preocupou-se sempre, sem alarde, em ser fiel ao seu estilo e ao seu público.

Hoje, infelizmente, é ignorado pela mídia e desconhecido totalmente pelas novas gerações, o que é triste e lamentável. Até os festivais mais recentes [Free, Chivas, Tim e outros] ignoraram seu nome quando prestaram homenagens aos antigos ídolos do jazz. Um talento esquecido"

Nenhum comentário: