Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

FALANDO DE MÚSICA

28 março 2006

Quando olhamos para o passado costumamos ser exigentes demais em nosso julgamento pessoal. Pensamos sempre que, na maioria das vezes, poderíamos ter feito o nosso trabalho de uma forma mais adequada ou talvez mais simplificada, se tivéssemos começado de uma maneira diferente. Poderíamos até mesmo ter conseguido soluções mais brilhantes.

O mesmo tipo de pensamento me ocorre em relação aos quinhentos e poucos anos do Brasil.

Será que hoje poderíamos estar numa posição mais confortável se tivéssemos começado de uma forma diferente? Estaríamos hoje em condições de competir com outros países numa situação mais favorável? Poderíamos enumerar muitas formas de solucionar os nossos problemas, mas nunca teremos como garantir a vitória!

No panorama musical brasileiro, de uma certa forma, a situação curiosamente se inverte porque tivemos um começo provido de um alicerce cultural fabuloso, que remonta às as influencias indígenas e africanas, até chegar a Heitor Villa–Lobos, extraordinário compositor e instrumentista nascido no Rio de Janeiro em 1887. Villa, como era chamado, observou a música praticada nas ruas e praças da cidade que passou a exercer um atrativo especial. Era o “choro”, composto e executado pelos “chorões”, músicos que se reuniam regularmente para tocar por prazer e, ainda, em festas e durante o carnaval.
Tal interesse levou Villa-Lobos a estudar violão. Como consequencia desse envolvimento com o choro, começaria a compor um ciclo de quatorze obras, para as mais diversas formações, intituladas “Choros”; nascia aí uma nova fórmula musical, onde aquela música urbana se mesclava a modernas técnicas de composição.
Villa-Lobos também deu uma enorme contribuição à cultura fundando em 1945, a Academia Brasileira de Música. O seu modelo foi a Academia da França. Tratava-se de uma instituição honorífica, que reuniria 40 personalidades dentre as mais notáveis do meio musical brasileiro. Desde então a Academia vem sofrendo algumas modificações procurando se adaptar aos novos tempos.

Não podemos deixar de falar tambem de Ernesto Nazaré, Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga e Bororó com sua magnífica composição “Da Cor do Pecado”, que considero uma das melhores desses quinhentos anos; e mais uma infinidade de talentos que este espaço seria demasiadamente pequeno para traduzir-lhes a importância na sequencia cultural do nosso país.

A década de 50 foi marcada com o sucesso de cantores como Cauby Peixoto, Angela Maria (que se tornaria a Rainha do Rádio em 1954) e muitos outros em plena atividade dentro do rádio. Também é bom lembrar que no fim de 1954, após quinze anos de ausência, veio ao Brasil a nossa Carmem Miranda, que faleceu no ano seguinte. A morte de Carmem Miranda veio interromper um tempo e um modo de compor e interpretar a música brasileira; marca, também, o fim de um período ingênuo e delicadamente malicioso.

A década de 50 também foi um período de intensa renovação do samba tradicional para o samba-canção, com harmonias mais ousadas e de bom-gosto. Essa variação romantizada do samba apareceria como precursora do movimento evolutivo que redundaria na bossa-nova.

Uma das principais causas da arrancada da bossa-nova foi a grande repercussão da peça Orfeu da Conceição, depois transformada em um filme francês de grande êxito em todo o mundo pelo seu sentido muito mais musical que teatral. Ela foi muito importante porque marcou o início da parceria de Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes. Com o surgimento do primeiro disco de João Gilberto, a bossa-nova marcou o seu terreno a tal ponto que em todas as reuniões de jovens da classe média, nunca faltavam a vitrola, um cantinho e o violão.

Para podermos entender melhor a bossa-nova, precisamos compreender de que forma o jazz influenciou o samba. O jazz, ao contrário do que se pensa, não é um estilo de música mas uma maneira de tocar; assim sendo, bossa-nova significa um modo diferente de tocar o samba. Isso tudo veio a contribuir para que a música instrumental, no Brasil, se propagasse bastante na época. Os trios, quartetos e conjuntos vocais tiveram oportunidade de mostrar o talento e a capacidade de improvisação do músico brasileiro. Grandes instrumentistas como Luís Eça (Tamba Trio), Tenório Jr., Maurício Einhorn, Edson Machado, João Donato, Luís Carlos Vinhas (Bossa-Tres), J.T. Meirelles, Maciel Trombone, Edson Lobo, Sérgio Barrozo, Cesar Camargo Mariano, Roberto Menescal, Wilson das Neves, Tião Neto, Murilo (bateria), Helcio Milito, Milton Banana, Hamilton Godóy (Zimbo Trio), Ronie Mesquita (bateria), Os Cariocas (conjunto vocal), entre muitos outros, se destacaram durante a bossa-nova, que acabou desaparecendo rápido (como movimento musical) porque, pouco depois do seu sucesso, seus elementos de beleza, equilíbrio e musicalidade foram atropelados por um pós-modernismo baseado em impulsos instintivos sem nenhum compromisso com qualquer forma de controle racional.

Em meados de 60 o rock e a música eletrônica explodiram, passando a predominar o valor sonoro em lugar do valor melódico, harmônico e musical. Passamos pela “Jovem Guarda”, com Roberto Carlos e Erasmo Carlos até chegarmos a Caetano e Gil, por volta de 68, com a “Tropicália” encarregada, por um lado, de antagonizar e sepultar e, por outro lado, levar adiante os avanços obtidos pela bossa-nova.

Atualmente, estamos vivendo um enorme descalabro cultural. Temos uma grande quantidade de artistas tentando, com seus trabalhos musicais de alta qualidade, abrir uma brecha num mercado fechado e, ao mesmo tempo, uma grande massa de incompetentes em todos os sentidos fazendo dessa arte um verdadeiro lixo, poluindo todos os meios de comunicações e nos deixando com raríssimas opções de escolha.

É preciso desobstruir as barreiras que se formaram, e, com isso, fazer com que a verdadeira arte musical possa vir a cumprir o seu papel. É tambem necessário que cada um faça a sua parte, colocando suas idéias em ação e principalmente passando boas informações culturais aos que não tem acesso.

Nós, instrumentistas, poderíamos tocar nos colégios, faculdades, centros culturais, etc., devidamente patrocinados por prefeituras, governos estaduais ou até mesmo entidades particulares. Tenho um projeto que visa levar boa música aos colégios no intervalo de recreio dos alunos (ou final das aulas), que é muito fácil de se realizar, bastando apenas ter transporte e um pequeno equipamento de som.

Para isso, seria necessário apenas contatar possíveis patrocinadores. Fica aí a minha idéia.

Mr. Chimes

[Alberto Chimelli
Contatos: e-mail: chimellialberto@hotmail.com]

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