Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

FESTIVAL DE JAZZ DE LAPATAIA - 11a. EDIÇÃO - 3a. parte

26 janeiro 2006

A noite de sábado, 7 de janeiro, prenunciava-se forte, já que recheada de músicos extraordinários, segundo meu ranking pessoal. Começaria pelo brilhante Jessé Sadoc, grande trompete carioca, a acompanhar Guinga na abertura e terminaria na cozinha do prestidigitador e baterista Lewis Nash , passando por um bom número de cats.

Por puro descuido, perdemos o primeiro set. O transcorrer do dia foi glorioso, o sol estival nos empurrou para a longínqüa praia de José Ignacio, a aproximadamente 45 km de Lapataia. Tudo lá estava tão perfeito, da água do mar às caipirinhas - sim, lá as há e muito bem feitas - que fomos ficando e ficando e quando nos demos conta, a hora já ia avançada e não deu tempo de chegar para a apresentação de "Noturno Copacabana", nome escolhido por Guinga para se apresentar acompanhado pelo Jessé mais o Paulo Sérgio Santos na clarineta e no sax e o Lula Galvão na guitarra. Fica, por este motivo sem cotação a apresentação deles. Que, só depois eu soube, pelo Pedro, ter sido muito aplaudida pela argentinada presente.

Chegamos no entanto a tempo de presenciar (o gentilíssimo Pedro já havia "reservado", com seus objetos pessoais, duas cadeiras para nós) o início do set do pianista francês Manuel Rocheman, cujas menções a ele feitas pelo Mestre Raf e um CD que eu já tinha, fizeram-me nutrir por seu lúdico piano uma grande expectativa. Rocheman apresentou uma entourage de alta estirpe, ao trazer ao palco consigo as figuras estreladas de George Mraz, um dos mais completos contrabaixistas da atualidade e um verdadeiro mago da bateria, Al Foster.

Seu set iniciou-se com So Tender, de Keith Jarret, onde Rocheman, ao interromper as sequências de notas bruscamente, em meio às idéias que tecia no solo, criava um timing ao mesmo tempo exótico e estimulante. Seguiu-se sua original Beatriz, em clima lânguido, com destaques para um Foster brilhante em suas intervenções e um Mraz ao mesmo tempo preciso e doce.

Um parenteses se faz necessário aqui, para comentar especialmente a apresentação de Foster. Calmo, jovial, e muito bem-humorado - mesmo quando precisou esgrimar, com as baquetas, contra inúmeros insetos atraídos pelos holofotes e que teimavam em voar próximos à sua cabeça, em meio às execuções - ele é um velho feiticeiro, profundo conhecedor dos macetes de cada item de sua cozinha, capaz de sacar o melhor som de cada. Variando o andamento e a pressão aplicados nos utensílios, deu uma aula singular de bateria a cada tema, culminando com uma magnífica - a um só tempo estilística e técnica - "estapeada", em justa seqüência, nos seus quatro pratos, como término de sua participação. Coisa que eu nunca tinha visto executada com tanta precisão e arte, sacando quase como que um acorde. Para mim, que nunca o tinha visto, um verdadeiro "coup-de-foudre".

Para finalizar uma noite tão bela, só com a entrada triunfal de um monstro como Cedar Walton no palco, o aplaudidíssimo gigante em todas as acepções da palavra. Mas, como se veria adiante, um gentle giant. Trouxe com ele à arena nada menos do que Vincent Herring no sax alto, David Williams no contrabaixo e Lewis Nash na bateria.

Passada a excitação inicial com tão importante presença na fazendola, a largada deu-se com Newest Blues, onde o excepcional compositor e pianista texano, depois de expor seu tema com classe, abriu o gol para que os brilhantes Herring e Williams, em tabelinha com o assombroso Nash arrancassem aplausos da plateia já em meio à bela trama que resultou na abertura do placar: Bom Jazz 1 x 0 Enganação.

Seguiu-se uma demonstração da "simplicidade eficiente" de Walton como compositor, revelada a pleno na interpretação despojada e ao mesmo tempo cativante da sua clássica Dear Ruth, tema que se aninha no nosso córtex e ali fica residindo mesmo acabada a execução, quiçá todo o set. Destaque para Herring e o comboio formado por Williams e Nash, comedidos e eficientes na escolta ao líder, deixando a este todo o brilho.

Poderia já então voltar para casa apaziguado quando CW cometeu, talvez interessado em carrear novos fiéis para seu último lançamento - Midnight Waltz - uma interpretação deslocada de Another Star, de Stevie Wonder, sem nenhuma atratividade que não o trabalho de Nash.
No entanto esse pequeno deslize foi recuperado através do belo tema a seguir, que me pareceu chamar-se algo como Martin's Prize, desenvolvido por Cedar com técnica exuberante e um desconcertante uso dos intervalos e onde Herring pode fazer um belo e suingado solo, remetendo-nos a gravações de Blakey e suas turmas.

In the Kitchen, como o título antecipa, foi uma festa balançante, preparada por Walton para a platéia que vibrou e uivou como louca com a habilidade de Williams, que fez de tudo - e todas as citações que se lembrou - em um marcado e gostoso solo, na companhia de um Nash econômico mas nem por isso menos criativo. Uma bela experiência rítmica, que alegrou sobremaneira aos presentes. Como anticlímax, Cedar enveredou por uma versão sambadronizada do onipresente Body and Soul, com entrosamento. Outro show de Nash no ritmo "abrasileirado", demonstrando toda a sua versatilidade. Williams foi apenas correto, e Herring solou sem maior virtuosismo. Confesso que esse tipo de levada não me pega pelos ouvidos e menos ainda o faz pelo coração. Talvez a platéia tenha até gostado. Eu me desinteressei no terceiro acorde. Sinto.

O final do set de Cedar Walton e seu grupo fabuloso foi com uma estimulante Ground Work, da lavra do líder, em uptempo, em longa e destacada apresentação de Lewis Nash, um gigante na bateria, onde chegou a sustentar frases integrais nos pratos, com refinamento rítmico digno dos grandes do instrumento.

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