Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

FESTIVAL DE JAZZ DE LAPATAIA - 11a. EDIÇÃO - 2a. parte

15 janeiro 2006

Com uma duração, neste ano, de 5 dias, escolhi estar presente apenas nos 3 últimos, de sexta a domingo, quando de fato apresentaram-se as atrações internacionais e mais conhecidas. Nos dias anteriores tocaram alguns músicos latino-americanos em ascensão e grupos norte-americanos de universitários, em fase de amadurecimento profissional. Pude, no entanto, ver alguns destes nas after-hours por dois dias em que estive no restaurante (totalmente decorado com fotos de grandes nomes do jazz que por lá já haviam passado - estas invariavelmente autografadas e emolduradas -, e de outros tantos).
E os garotos, como ocorre com os estudantes de jazz nos EUA - onde o assunto é tratado de forma séria - para estarem ali com o apoio da Embaixada Americana no Uruguai, tinham de ter algum talento. E o tinham sobrando, e suas gigs, no palco existente, foram muito saborosas. E volta e meia ainda contavam com o auxílio poderoso do trompetista Brian Lynch, um músico tão formidável quanto "fominha", que não podia vê-los suingando que já se levantava, com seu inseparável chapéuzinho à moda dos anos 60, para "prestigiar os meninos". [Vejam se conseguem reconhecer, no canto esquerdo da foto, os músicos sentados à primeira mesa. E não, eles não deram canja.]

Bem, minha primeira experiência do "jazz in pasture" foi gloriosa. O tempo estava firme e a tarde especialmente colorida em tons de rosa, sendo que o crepúsculo foi em torno das 21 horas e a temperatura era perfeita para que se pudesse apreciar as atrações com o maior conforto possível.

Escalado para a abertura da sexta-feira, dia 6 de janeiro, o quarteto do bom pianista gaúcho Geraldo Flach - na foto ao lado - desempenhou seu papel com desenvoltura, e o início de seu set me fez perceber que alguma coisa ali estava fazendo bem à alma, e não eram apenas o aroma de capim misturado ao de eucaliptos e os perfumes das elegantes argentinas que povoavam, em grande maioria, o local. Era algo mais e levei alguns minutos para sintonizar. Em mais alguns instantes pude perceber que era o som. Claro, límpido, perfeitamente equalizado, coisa de - desculpem, não resisto - um Rudy Van Gelder, se despencado em espírito por aquela plaga sulina. Poucas vezes, posso afirmar sem erro, pude estar servido por uma qualidade de som tão espetacular, contadas aí todas as experiências anteriores em festivais e casas de jazz que já freqüentei na vida. Algum especialista dirá que era pelo fato de se estar ao ar livre, sem nenhum tipo de interferência ou reverberação, me parece lógico, mas o fato é que a nota para o quesito "som" do festival Lapataiano foi um sonoro e robusto DEZ! Creditado à equipe de Oscar Pessano.

Voltando ao Flach e companhia, o quarteto bastante competente abriu o set tocando um tipo de jazz moderno que não era exatamente o que eu esperava ouvir. Geraldo é um pianista sólido que optou por uma vereda de execução mezzo suingada mezzo progressiva, e permitiu que seu baixista, Ricardo Baumgarten, cuja levada segura me fez pensar logo em Stanley Clarke, abrisse a boca, à Pedro Aznar, para alguns scats, acompanhado da guitarra francamente methenyna do nem por isso menos competente Paulinho Fagundes. Fechando o grupo, um proficiente e seguro baterista, Ricardo Arenhaldt, com um tipo físico que infelizmente me trouxe à lembrança a figura nefasta de Kenny G (ahrghhh!!!), com cachos dourados descendo pelas laterais do rosto.
Numa mesma rota animada, fizeram sua leitura de Água na Boca, de Rita Lee, que me pareceu totalmente deslocada, qual um petisco propositalmente colocado ali apenas para conquistar a platéia de mamães e filhotes. Então Flach fez, em solo, uma interessante interpretação de Desafinado, o ponto alto do set. Em seguida, com o grupo, Encontros e Despedidas, de Milton Nascimento, que foi tisnada pela mesma permissão a Baumgarten - a meu ver, tão indevida quanto a anterior - de cantar.
Para finalizar, Flach comandou uma versão de Autumn Leaves que teria soado muito bem se o líder não sucumbisse à tentação de cooptar a platéia a acompanhar a banda pela via de um refrão pegajoso secundado por palmas, o que transformou uma apresentação de natureza técnicamente competente numa grande tolice de natureza "jazzística", feita para o regozijo da parte desentendida da platéia. Enfim, algumas babás adoraram. E o grupo saiu aplaudido.
De minha parte, gostaria de voltar a ver Flach e seu bom grupo, dedicados a um repertório jazzístico mais elaborado e sem tantas concessões. Em meio às diversas placas espalhadas pelo local com citações de jazzistas históricos, a de Dizzie Gillespie rezava, solene, como um aviso para quem dele precisasse: "Passei um longo tempo de minha vida aprendendo o que não tocar..."

Geraldo Flach Quartet
: Cotação - @@
...continua

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