Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

TIM JAZZ - 2a. NOITE - 21/10/05
MUSEU DE ARTE MODERNA - RIO DE JANEIRO

23 outubro 2005

Palco Club

A segunda noite do Tim FestivaL iniciou, no palco que nos interessa, o sistema de cardápio variado de estilos que pouco ou nada tem a ver com o jazz mas que tenta fisgar, ao procurar o ecletismo, de carnívoros a vegetarianos. Uma boa surpresa, uma apresentação sublime e um não-sei-o-que foram servidos em seqüência e o saldo final ainda foi, acredito, ligeiramente positivo, talvez por conta da única atração jazzística da noite.

SPOCKFREVO ORQUESTRA

A boa surpresa foi encontrar uma orquestra pernambucana com 17 componentes, devida e formalmente trajados em seus ternos e camisas negros e alguma cor, que era dada pelas gravatas e certos intrumentos, como os do naipe de trombones (havia um vermelho, um azul e pasmem, um branco) e dos saxofones. Musicalmente, desde o início do set, outras cores foram trazidas ao público, sob forma de uma interpretação alegre, vigorosa e estimulante de variadas gamas de frevo, com uma energia transbordante que cativou aos presentes.

Jazz? Nenhum. Então?

Rigor técnico e total precisão na execução dos arranjos, mesmo que sem um maestro a dirigir o grupo, fizeram com que os amantes do jazz reconhecessem, de imediato, estar na presença de uma banda qualificada. Se por um lado os frevos são tocados com as seções rítmicas atuando em uníssono, a sobreposição destas se fazia limpa, redonda, sem falhas mesmos nos vertiginosos e instigantes cortes de umas para as outras, entremeados por variações rítmicas executadas em alta velocidade. Só isso deu-lhe um certificado de aptidão para aparecer em qualquer concurso de big-bands não jazzísticas do planeta.

Depois de expor ao público, as diferenças entre várias modalidades de frevo (coqueiro, ventania e abafa) executando didaticamente os estilos descritos em seguida, a banda arrebatou a todos no final, tocando o mais tradicional e famoso de todos,"Vassourinhas". Ali, cada integrante teve a oportunidade de solar por um breve instante, incentivado por seus companheiros, em um clima de celebração, de festa.

Saíram todos aplaudidos de pé por nossa platéia de ignorantes do frevo, agora ilustrados e convertidos em amantes da SpockFrevo Orquestra. Daqui nossos parabéns a todos os seus membros pela aplicação e inegável talento.

E ficou na minha cabeça uma caraminhola: o que aconteceria ao misturar-se um saxofonista frevístico a uma banda de jazz...

Cotação: @@@1/2



ENRICO RAVA

O bel-piato da noite, Enrico Rava, cortou o ar da noite carioca com as afiadas notas que seus admiradores já sabem ver extraídas de seu trompete em silvos lentos e longos, agora entremeados com clusters de notas tão rápidas que pareciam-se mesmo a acordes.

Proficiente em todas as frentes, do romântico ao hard-bop, e muito bem acolitado pelo jovem - e muito promissor - trombonista Gianluca Petrella (que ajudou o líder a compor um clima mágico, ao ajuntar sonoridades exóticas e até alguns efeitos pirotécnicos que, no entanto, em nenhum momento soaram fora do contexto, apenas enriqueceram o todo) o bravo Rava, notório admirador de Miles, Chet e Cherry, conseguiu mostrar bem o seu estilo peculiar e timbre inconfundível, com o suporte da excepcional banda.

Destaques para o jovem e criativo pianista Andrea Pozza, que substituiu nesta excursão ao célebre Stefano Bollani, habitual parceiro de Rava. Na cozinha dois dínamos: o contrabaixista Rosario Bonnacorso, com sua infatigável, mesmo que às vezes minimalista, jornada pelo braço do instrumento, mantendo o pulso confiável como farol em meio à neblina. Na bateria, o bom e fiel escudeiro de Rava, Roberto Gatto emprestava toda sua vitalidade rítmica ao conjunto, sem no entanto, brilhar particularmente.

A boa ordem das coisas jazzísticas - Nature Boy, Sand, Algir dal Bughi e até uma homenagem de Rava a Ornette Coleman foram subvertidas, porém, quando Rava admitiu ao palco um velho companheiro de suas anteriores andanças cariocas - o italiano tocou inúmeras vezes no Jazzmania, finado templo carioca de música instrumental -, o grande baterista e percussionista Robertinho Silva. Que inicialmente sentou-se à bateria no lugar de Gatto para um dos temas, em seguida assumiu sua despensa recheada de artefatos de percussão.

Aí, botou os quatro italianos de boca aberta (só Gatto atuava mantendo a base rítmica) - os jovens, o pianista e o trombonista pareciam não acreditar no que ouviam e Bonnacorso não parava de sorrir, entre deslumbrado e abismado com a "ousadia" de Silva - simplesmente apoderando-se do espetáculo e implantando um ritmo de festa que talvez não fosse o originalmente pretendido por Rava. Paciência, pois que com sua grande arte, ninguém saiu perdendo ou reclamando.

Para a bela apresentação dos italianos mais Robertinho: @@@@


JOHN MCLAUGHLIN E SHAKTI

Embora técnicamente proficientes os músicos e o cantor indiano que acompanham ao veterano e guitarrista de blues, a simples inclusão desse item no cardápio de um festival de jazz já causou estranheza. A apresentação em si, mais ainda. Seria mais indicada para agitar o "jasmin-tea break" em um seminário de auto-ajuda ou para fundo musical em um spa-espiritual.

Para quem foi lá ouvir a estimulante música inventada e difundida pelos negrões americanos, cheia de paixão e técnica, melhor estava o picante amendoim impregnado de curry que o criativo chef Felipe Bronze oferecia, bem salgado, nos dois sentidos, para acompanhar as bebidinhas.

Como saí na segunda música, ficam sem nota.

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