Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

TIM JAZZ - 1a. NOITE - 20/10/05
MUSEU DE ARTE MODERNA - RIO DE JANEIRO

22 outubro 2005

Palco Club

Talvez tenha surtido efeito a saraivada de críticas que a organização do Tim Festival recebeu em 2003, por conta do péssimo ambiente então provido para ouvir jazz, atividade que requer um mínimo de atenção, para não dizer entrega absoluta.
Se não totalmente desprovido de falhas, já que uma caixa de som dava estalos perceptíveis até por quem estava lá no fundo, para desespero não só do operador da mesa de som - que, humildemente, admitiu ter tentado de tudo e que a dita estava "possuída" por um espírito eletrostático do mal -, mas dos músicos e do público em geral que, tão logo submergiam nas ondas de criatividade musical ali oferecidas, delas eram arrancados, de súbito, por um traque elétrico vicioso e irritante, algumas coisas melhoraram na tenda espaçosa e confortável, como o bloqueio acústico ao som exterior e o atendimento de bar nas mesas.
Mesmo assim, nada me convence da inteligência de manter coisas tão distintas em um mesmo ambiente, apenas para atender a aspirações marqueteiras. São os públicos de gostos diametralmente diferentes e com propósitos distintos. Eu voto numa Sala Cecília Meirelles, só com cadeiras mais modernas.

Fora os estalos que felizmente foram controlados antes da entrada de Wayne Shorter, o resto da noite foi de muito boa música para todos os gostos, até mesmo para os assistentes nem-tão-jazzísticos-assim.

Para começar, notava-se a maciça presença de músicos cariocas, ávidos pelo bafejo dos ventos refrescantes soprados do hemisfério norte, meca do jazz universal. Assim, Idriss, Jessé, Dôdo, Adriano, Senise, Zagury, nosso confrade Raynaldo, Paulo Moura, Tiso, Paschoal, os Szpilman, pai e filha, e grande parte dos garotos da Orquestra da URFJ do Maestro Rua (a URFJazz Ensemble), eram alguns dos profissionais da música instrumental ligados no que estava por vir.

BOB MINTZER BIG BAND

A Orquestra de Bob Mintzer, que abriu a noite, foi um todo abençoado que nos trouxe a exata noção do que é uma big-band de qualidade, dedicada a manter viva a preciosa herança recebida de seus predecessores e que nos entrega partes desta como presentes, embrulhados em papel bem colorido.Mintzer, líder e principal sax-tenor da orquestra, produz interessantes variações rítmicas e cortes precisos, fruto de sua reconhecida proficiência em arranjos, moderna e dinâmicamente apresentados pelo conjunto, redondo e afiadíssimo.
Mintzer apresentou vários temas do seu tempo de Yellowjackets, todos com ótima aceitação dos presentes, tendo reservado alguns standards para o fim do set. Estes, no entanto, vieram disfarçados dentro dos criativos arranjos pelos quais se notabiliza o líder, de tal forma que a linha melódica dos temas conhecidos só surgia, tangenciada, e para ouvidos não apenas bem treinados mas atentos. Para então, nos compassos finais, dar ao bom público a chance de reconhecê-los de pleno e colher os merecidos aplausos advindos da belas performances do grupo como um todo.

Bem curioso foi ver Mintzer bem à vontade com uma cerveja na mão, encostado na parede do corredor lateral da tenda, como dezenas de outros anônimos espectadores, e quase sem piscar, apreciando as performances de Shorter, Perez, Patitucci e Blade.

Em 5 possíveis, dei à apresentação da banda @@@@.


RUSSEL MALONE & BENNIE GREEN

Decepção e surpresa. O guitarrista Malone não me agrada não é de hoje e isso era uma coisa bem pessoal, achava eu. Mas pelo que vi as pessoas comentando ao meu redor, o sentimento é mais difundido. Tenho três discos dele, sendo que os dois posteriores à primeira aquisição talvez tenham sido comprados apenas numa tentativa de descobrir neles o que fizera Diana Krall adotá-lo como seu sideman, em todos os sentidos. Não achei nada, e desconfio que seja porque os CDs não trazem imagens.

De fato, a par de uma velocidade e de uma técnica "padrões" para um guitarrista se firmar nos EUA, ele nada de especial nos apresentou. Não passou emoção e ademais, o timbre de seu instrumento é feio. No estilo que desenvolveu, mistura pobres imitações de todos os grandes da guitarra, sem no entanto, conseguir encontrar um estilo próprio. Não é à tôa que tendo ouvido Julian Lage, jovem guitarrista de 17 anos, tocar, dele disse: "puxa, se eu deixar esse menino abrir meu armário, vai sair com a minha melhor roupa". É pura verdade. Malone já está nu. Por sua atuação, daria @@ em 5 possíveis.

Na outra ponta do duo, no entanto, estava Bennie Green que, na dupla, é quem carrega o piano. E que bela surpresa de pianista, que fascinantes andamentos e ritmos conseguiu extrair do instrumento. Num cenário atual pontuado de sérios concorrentes, Bennie excedeu em personalidade, o exato oposto de Malone. Veloz, fluente e criativo a um só tempo, transmitiu total segurança à dupla, enchendo todos os espaços vazios com uma sonoridade excepcional tanto quando acompanhava os solos de seu parceiro como quando solou, sempre de maneira criativa e surpreendente. Green figura, fácil, no time de monstrinhos do piano no jazz atual, numa formação complementada, a meu ver, por Eldar Djangirov, Yuma Sung e Taylor Eigsti.

À arte de Green, daria @@@@ nas 5 possíveis pelo critério do CJUB.


WAYNE SHORTER QUARTET

O grupo mais esperado da noite de ontem atendeu a todas as expectativas e ainda teve sobras para encher plenamente os ouvidos e os corações dos presentes, com uma apresentação digna de entrar para os highlights históricos dos festivais de jazz que já houve no eixo Rio-SP. Mesmo não estando mais no ápice de sua saúde interpretativa, embora ainda conserve seu timbre inigualável tanto no sax alto quanto no precioso soprano, Wayne Shorter descobriu, e com isso, cativa o público e se diverte à larga, um grupo de fabulosos "sidemen", que passam o tempo a criar fantásticas variaçãoes em torno de músicas que ele compôs ao longo de sua prolífica trajetória. Diverte-se, inclusive, participando.

Wayne começou apresentando seus temas sem um brilho especial ou uma interpretação explosiva. Contudo a sinergia musical, hoje beirando as raias da telepatia, adquirida pelo tempo de estrada sob a mesma formação, dos seus brilhantes "compagni" - e dentre estes, um laurel de distinção para o baterista Brian Blade, pela facilidade com que extrai miríades de timbres da "cozinha" à sua frente, não apenas pontuando o ritmo mas empurrando bravamente (como se precisasse...) o conjunto para a frente, como um jipe de papel com tração nas quatro rodas, fazendo o público "sentir" esse empurrão e aplaudí-lo em meio à criação coletiva - transforma o passeio de Shorter numa experiência grandemente recompensadora, o líder intervindo aqui e acolá para acrescer à direção das idéias ou mesmo desviá-las, com isso instigando ainda mais sua turma.

Danilo Perez esteve soberbo ao piano. Inventivo como nunca no plano acelerado de novidades que desfia sem cessar, não cedeu um milímetro na apresentação em prol de qualquer companheiro, ligou o pisca-alerta e partiu para uma das suas mais brilhantes apresentações. Teve companhia de gala, em seu percurso sônico e supersônico, de um amadurecido e exuberante John Patitucci no contrabaixo, em grande forma tanto pela afinação precisa como na facilidade com que desempenhou seus solos ao mesmo tempo criativos e velocíssimos, uma de suas características mais marcantes.

Shorter e Cia. estiveram na iminência de ter de bisar uma segunda vez, tal a algazarra e a insistência do público em receber um pouco mais daquela bênção sonora que acabara de vez protagonizada por todos os quatro monstros, unidos ali por um mesmo ideal: fazer música para alegrar a alma.

Minha cotação para o grupo foi a máxima: @@@@@

Nenhum comentário: