Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

Kind Of Blue, a improvisação no jazz (por Bill Evans)

23 junho 2005

Existe uma arte visual japonesa na qual o artista é obrigado a ser espontâneo. Com um pincel especial e tinta preta, ele deve pintar sobre um fino pergaminho esticado, de tal maneira que uma pincelada não natural ou interrompida virá a destruir a linha ou romper o pergaminho. Apagar ou fazer modificações é impossível. Tais artistas devem praticar um tipo especial de disciplina, que permite que a idéia se expresse na comunicação com as mãos tão direto que o pensamento não interfira. Os quadros que resultam não possuem a composição e as texturas da pintura usual, mas diz-se que aqueles que olham bem encontram algo capturado ali que desafia explicações.
Acredito que essa mesma convicção, de que a ação direta constitui a reflexão mais significativa, impulsionou a evolução das disciplinas extremamente severas e únicas do jazzista ou do músico improvisador. A improvisação em grupo coloca um desafio a mais.
À parte o problema técnico de pensar coletivamente de modo coerente, existe a necessidade muito humana, social até, de que a simpatia por parte de todos os integrantes se coadune em prol de um resultado comum. Penso que esse difícil problema é lindamente abordado e solucionado nesta gravação.
Assim como o pintor precisa do referencial da tela, o grupo de improvisação musical precisa de um referencial no tempo. Miles Davis apresenta aqui referenciais que são de suma simplicidade, e contudo encerram tudo aquilo que é necessário para estimular a execução, preservando a referência à concepção inicial. Miles concebeu esses esquemas apenas algumas horas antes das sessões de gravação, e chegou com esboços que indicavam ao grupo o que deveria ser tocado. Portanto, nestas execuções, você irá escutar algo que está próximo da pura espontaneidade. O grupo nunca havia tocado estas peças antes da gravação, e creio que, sem exceção, a primeira interpretação completa de cada uma foi formada como um “take”. Embora não seja incomum esperar que o músico de jazz improvise sobre material novo numa sessão de gravação, o caráter destas peças coloca um desafio especial.
De maneira breve, o caráter formal dos cinco esquemas é o seguinte: “So What” é uma figura simples, baseada em 16 compassos numa escala, 8 em outra e mais 8 na primeira, após uma introdução de caráter ritmicamente livre com piano e contrabaixo. “Freddie Freeloader” é uma forma de blues de 12 compassos que ganha uma personalidade nova através de uma efetiva simplicidade melódica e rítmica. “Blue In Green” é uma forma circular de 10 compassos, que se segue a uma introdução de 4 compassos, e que é tocada pelos solistas com diversos aumentos e diminuições dos valores temporais. “Flamenco Sketches” é uma forma de blues de 12 compassos em 6/8, que gera seu clima através de umas poucas mudanças modais e da concepção melódica livre de Miles Davis. “All Blues” é uma série de 5 escalas, cada uma podendo ser tocada pelo solista durante o tempo que ele desejar, até que tenha completado a série.

William John Evans
Aug 16, 1929 in Plainfield, NJ
Sep 15, 1980 in New York, NY

PS. Produzido por Teo Macero, Kind Of Blue (1959 Columbia) é um dos álbuns de estúdio definitivos na história do jazz – dos mais vendidos. Além de Miles Davis e Bill Evans, participaram das gravações Julian Cannonball Adderley (alto sax), John Coltrane (tenor sax), Paul Chambers (contrabaixo ), James (Jimmy) Cobb (bateria) e Wynton Kelly (piano). Não é à toa que lidera a lista cejubiana dos "10 discos de jazz para uma ilha deserta".

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