Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

OSCAR PETERSON FALA DE NIELS PEDERSEN - EMOCIONANTE

12 maio 2005

Transcrevo aqui, em tradução livre, o texto pelo qual Oscar Peterson discorre sobre seu encontro musical com o baixista Niels-Henning Orsted Pedersen, que o acompanhou por longos anos. O texto, no original, está no Chapter 26, em http://www.oscarpeterson.com/op/momentsframe.html


"O VIKING PARTIU"

"Meu coração pesa mas ainda está agradecido e feliz. Pesado pela realização de que Niels-Henning Orsted Pedersen deixou este mundo; agradecido e feliz com a idéia de que este irmão abençoado e colega músico não tenha sofrido com uma partida demorada, cheia de dor ou remorso.

Desde a primeira noite em que meu querido amigo de Chicago, Audrey Genovese, tocou um disco de Dexter Gordon em que Niels Pedersen se apresentava no baixo, entendi que esse gigante musical e eu poderiamos, algum dia, ter a ocasião e o prazer de não apenas nos conhecer, mas de tocar juntos.
Depois de ouvir esse talento fenomenal no contrabaixo, percebi que, de algum modo, algum dia, teríamos de nos encontrar, o que me daria a chance de também tocar com ele. Estas visão e pensamento consolidaram-se no início dos anos 70, quando tive a sorte de poder convidá-lo a juntar-se ao meu trio de então. Isso ocorreu porque o baixista que eu estava usando então não pôde retornar ao seu país, na Europa, por conta do medo de ser detido pela União Soviética, devido a um comportamento seu, em atividade anterior em uma embaixada.

Nesse momento entrou em cena Norman Granz, que com seu pensamento direcional costumeiro disse: "Por que você não chama Niels Pedersen?", para um concerto que se aproximava e em que meu grupo se apresentaria em um dos então países da Cortina de Ferro. Norman contactou Niels e fez um acordo com ele para esse concerto, exclusivamente, assim aliviando qualquer possibilidade de problemas políticos.

Lembro-me, de forma vívida, a maneira com que Niels se juntou a nós, sem nenhuma fanfarra (ou ensaio) para esse concerto em particular. Que acabou se tornando uma performance totalmente de impromptu. Eu escolhi músicas sobre as quais tinha obtido um "ok" de Niels, e, acreditem se quiserem, conseguimos fazer uma tremenda apresentação naquela noite, cheia de uma excitante espontaneidade e de uma busca musical que adentrava nossos pensamentos jazzísticos.

Depois do concerto, imediatamente agradeci ao Niels e disse-lhe quanto tinha gostado de tocar com ele, mesmo considerando a inesperada forma com que precisamos nos entender. A audiência pareceu ter realmente apreciado aquela noite.
No dia seguinte, chamei Norman e aparentemente eu devia estar superexcitado com a imediata coesão que ocorrera entre Niels e eu na noite anterior. Com sua espontânea reação habitual, ele disse simplesmente: "Se foi tão bom assim tocar com ele, porque não o chama para ser o seu titular?" Não preciso dizer como fiquei feliz que isso tenha acontecido, e que Niels tenha permanecido no meu grupo até seu desafortunado e recente passamento.

Deixem-me expressar minha reação sobre como ele tocava: antes de tudo, ele nunca ficou à minha frente, mas na verdade tinha tamanha percepção do que eu estava tentando fazer que ele servia para inspirar-me grandemente, pelo lado espontâneo. Eu saí pisando nas nuvens ao final daquela apresentação por conta da contribuição musical de Nielsen. Ele tinha a técnica mais fenomenal, casada com uma incrível percepção harmonica, além de um timing impecável. Jamais me esquecerei daquela noite.

Daí em diante tornamo-nos amigos muito chegados, não só musical, mas pessoalmente, já que desenvolvi enorme admiração pela profundas crenças políticas, geográficas e pessoais dele. Ele era um homem que detinha uma quase inacreditável riqueza cultural no que dizia respeito à história européia. Ele também tinha um espírito familiar, como ser humano, sempre disponível para fazer bons amigos. As pessoas que conheceram Niels aprenderam a amá-lo além do seu inacreditável talento musical e sua destreza no instrumento.

Acho que eu posso me dar ao luxo de fazer este tipo de comentário sobre ele, pois tive a boa sorte de ter tocado com alguns dos melhores baixistas do jazz ao longo do tempo. Sempre fiquei maravilhado com o respeito e o amor (e musicalmente, o quase medo) que eu vi em alguns dos maiores baixistas do jazz, quando estavam perto de Niels.

Um ponto em que eu devo tocar aqui, que talvez não seja do conhecimento de muitas pessoas, é que Niels podia tocar piano também (por várias vezes, fez as passagens de som no meu lugar, ao instrumento). Sei também que amava o piano em si, pela forma como ficou amorosamente impressionado quando, numa visita ao "show-room" da Boesendorfer, viu o grand-piano que eu eventualmente escolhi para mim.

Ao longo do tempo, eu o apelidei (e anunciei) como The Viking. Ele gostava desse título, que, por algum motivo, colou nele.

Tive a oportunidade de ter tocado com, ou utilizado, alguns dos melhores baixistas do jazz (Sam Jones, Major Holley, e lógico, Ray Brown). Niels e Ray tornaram-se rapidamente amigos e tinham grande amor e respeito um pelo outro. Isso pode parecer estranho, no que diz respeito ao fato de que ambos frequentavam basicamente o mesmo meio musical. Posso dizer agora, embora isso me tenha sido perguntado inúmeras vezes antes, qual dos dois eu preferia. Posso responder facilmente a essa questão dizendo que eu ficava igualmente feliz de ter um ou outro fazendo parte do meu grupo num determinado momento. Não vejo razão para entrar nas idiossincrasias musicais de um ou outro desses grandes músicos, mas posso dizer que eles, individualmente, deixaram uma trilha indestrutível, linhas-mestras indeléveis para todos os futuros baixistas de jazz.

Niels-Henning foi um músico de inacreditável talento e destreza, mas egoisticamente falando, pessoalmente, tornou-se meu amigo mais íntimo e irmão, e jamais o esquecerei ou à sua arte.

Deus o abençoe, Niels, e que você possa abrilhantar o mundo musical no Céu tanto quanto o fez nesta Terra."

Nenhum comentário: