Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

31 dezembro 2004


A TODOS, UM ESFUZIANTE ANO NOVO, LOTADO DE "RIFFS", "CHOPS" E "STRIDES", SEM NENHUMA "BLUE NOTE". "KEEP SWINGIN´"!
©CJUB

FECHANDO O ANO MUITO BEM:
NOSSO MESTRE REMOTO E SEUS ARTIGOS INESQUECÍVEIS

30 dezembro 2004

Aqui vai, devidamente copiada do Jornal do Brasil de hoje, o último artigo do ano de 2004 do nosso Grão-Mestre-Remoto, o querido e enciclopédico Luiz Orlando Carneiro, que nos presenteou com uma colunaça digna de se baixar as portas desse período tão interessante em termos jazzísticos, como o ano em vias de acabar e não fazer mais nada. Quem não leu no JB pode recolher aqui os bons fluidos que seus escritos emanam para as cabeças interessadas no jazz. Uma verdadeira aula, que atingiu em cheio a este mural com seu curioso título que, se não for coincidência, muito nos alegrou. Vide a coluna fixa da esquerda deste blog... que aliás, está em fase de votação para expressar, o quanto antes os novos 10 discos que, por votação dos editores, seriam indispensáveis para uma ilha deserta. Aliás, em tempos como os de hoje, talvez fosse mais sensato levá-los para uma caverna no alto de uma montanha. Aproveitem a aula:

"Primorosos discos para a ilha deserta dos jazzófilos"

"O ano não poderia terminar, nesta coluna, sem uma alusão ao 50º aniversário da gravação de dois discos indispensáveis à sobrevivência de jazzófilos em uma ilha deserta. Miles Davis & The modern jazz giants (Prestige 7150), o primeiro grande ''pronunciamento'' do legendário trompetista, registrado por Rudy Van Gelder no seu estúdio de Nova Jersey, na véspera do Natal de 1954; e Horace Silver and the Jazz Messengers (Blue Note 461420), gravado 11 dias antes, também por Van Gelder, e que é a certidão de nascimento do célebre conjunto-universidade do qual o baterista Art Blakey foi reitor por mais de 35 anos.

The man I love (dois takes de cerca de oito minutos cada), Swing spring e Bemsha Swing, gravados na tarde de 24/12/54, são momentos supremos da história do jazz. Miles demonstrava, afinal, ter dominado por completo a técnica e o som que dele fariam, logo depois, o "príncipe do jazz", à frente do quinteto com John Coltrane, do sexteto de Kind of Blue (1958), e como solista das peças orquestrais para ele escritas por Gil Evans, entre 1957 e 59 (Miles Ahead, Porgy and Bess e Sketches of Spain).

A sessão do Natal de 54 ficou também célebre pela suposta troca de socos entre Miles e Thelonious Monk - donos de temperamentos nada ortodoxos, de concepções musicais diferentes e que tocavam juntos pela primeira (e única) vez. Miles desmente em sua autobiografia a luta corporal com Monk - que sempre viveu num mundo tão à parte como a sua música assimétrica e politonal, tida na época como "extravagante". Os outros "gigantes" eram Milt Jackson (vibrafone), Percy Heath (baixo) e Kenny Clarke (bateria).

Sobre a "briga" com Monk, Miles conta o seguinte: "Apenas mandei que ele ficasse de fora, que não me acompanhasse, a não ser em Bemsha Swing, composição dele. É que Monk jamais soube acompanhar um trompetista (os únicos instrumentistas de sopro que teve e tocavam bem com ele foram John Coltrane, Sonny Rollins e Charlie Rouse). O trompetista precisa de uma seção rítmica quente, mesmo quando toca uma balada. Mandei que ele ficasse de fora enquanto eu solava, porque não me sentia à vontade com suas passagens. Eu queria ouvir a seção rítmica passear, sem ouvir o som do piano. Queria ouvir o espaço na música". Miles acrescenta: "Fizemos grande música nesse dia, e o disco se tornou um clássico (...). Mas foi em Modern jazz giants que comecei a compreender como criar espaço deixando o piano de fora...".

O que o egocêntrico trompetista não disse (nem reparou) é que Monk, ao inserir de maneira esparsa as quatro notas básicas de The man I love, em tonalidades inesperadas, e nos breves clusters finais do segundo take, criava um clima mágico entre espaços silenciosos e compassos ricos em termos rítmico-melódicos. Os solos de Milt Jackson, ao dobrar o tempo nos dois takes, são primorosos. Martin Williams escreveu sobre os takes de The man I love na contracapa da reedição de 1969: "Quaisquer das belas e brilhantes abstrações de Miles Davis desse tema devem ficar entre suas melhores e mais pessoais paráfrases melódicas, ou seja, entre as melhores da história do jazz".

O primeiro registro fonográfico relevante do hard bop foi feito no Birdland, Nova York, em fevereiro de 1954 pelo quinteto formado por Art Blakey, Horace Silver, Clifford Brown, Lou Donaldson (sax alto) e Curley Russell (baixo). Os dois LPs de 10 polegadas A night at Birdland (Blue Note) anunciam o surgimento dos Jazz Messengers.

Dez meses depois, Blakey e Silver reuniram-se com Kenny Dorham (trompete), Hank Mobley (sax tenor) e Doug Watkins (baixo) para gravar quatro peças típicas do bop bem soul do pianista-compositor: Doodlin', Room 608, Creepin' in e Stop time. A sessão de 13/12/54 foi completada em 5 de fevereiro de 1955 com mais três temas de Silver (The preacher, To whom it may concern, Hippy) e outro de Mobley (Hankerin'). O LP histórico foi editado em 12 polegadas como Horace Silver and The Jazz Messengers, juntando os discos de 10 polegadas.

Na verdade, o título The Jazz Messengers já era usado por Blakey. Mas o primeiro álbum do conjunto que atravessaria quatro décadas, com o nome do baterista como líder, é de novembro de 1955: The Jazz Messengers at the Cafe Bohemia, Vol. 1. A formação era a mesma de dezembro de 1954, mas Silver passara a ser sideman de Blakey. Horace Silver formaria o seu primeiro quinteto estável em 1958, com Blue Mitchell (trompete), Junior Cook (sax tenor), Louis Hayes (bateria) e Gene Taylor (baixo). Foi o também icônico conjunto que gravou, para a Blue Note, Finger poppin' (janeiro de 1959) e Blowin' the blues away (em setembro)."

Assim disse nosso Mestre e assim eu copiei. Obrigado!

Feliz 2005, com muito jazz para todos!

FELIZ NATAL A TODOS!!!

24 dezembro 2004

O CJUB deseja a todos os seus membros, amigos e leitores em geral um Feliz Natal, repleto de boas notícias e muitos presentes, claro que de preferência na forma de discos, vídeos, DVDs e livros, fotos e cartazes obviamente sobre jazz e seus personagens. No mínimo, que todos consigam "aqueles" tão perseguidos downloads de valiosos mp3s há tanto tempo almejados.

Saúde e muitas felicidades!

HÉLIO DELMIRO - COMPASSOS - @@@,5

23 dezembro 2004

O guitarrista Hélio Delmiro lançou seu último CD, Compassos, depois de um razoavel tempo fora dos holofotes - por inúmeros problemas pessoais, Delmiro chegou a passar algum tempo em privação de liberdade, o que acabou dando margem em certo momento, inclusive, a um bonito movimento de seus pares para arrecadar valor que pudesse devolvê-lo à circulação e onde parece, Lulu Santos teria tido um papel muito nobre e mesmo decisivo - e o fez de uma forma soberba.

Não tendo em mim até agora um de seus maiores entusiastas, já à primeira audição de Compassos comecei a rever meus conceitos.

HD abre o CD, no qual assina cinco dos doze temas, majoritariamente voltado para interpretações intimistas, com My Favorite Things, clássico de Rodgers e Hammerstein, com uma tocada muito elegante, onde tangencia-se mui suavemente a bossa-nova na abertura e no solo de Bruno Cardozo nos teclados, quando este se utiliza de divisões muito criativas. Delmiro retorna então com timbre sofisticado, arredondando com sua perfeita escolha de notas a esse tema já muito batido, mas que se renova em suas mãos.

Segue-se então a elegante "Alabastro", de sua autoria, em uma ótima demonstração de como se apresentar com maestria jazzística a um tema totalmente brasileiro. Novamente aqui Cardozo aparece em belo diálogo com Delmiro, presente ao fundo a atuação segura de Jurim Moreira. A se notar, a ausência, na mixagem, do contrabaixo acústico de Jorge Helder, apenas intuído.

Em seguida, a rendição de Hélio Delmiro de Witchcraft, de Leigh e Coleman, é uma das mais elegantes interpretações dessa balada que já tive a oportunidade de ouvir, com a citação explícita de Garota de Ipanema remetendo mais uma vez aos bons tempos e climas da bossa-nova, e suas oitavas "westmontgomerianas" dando ao todo uma sofisticação digna de nota.

Ponteio, de Edu Lobo e Capinam vem em seguida e interfere no clima até ali contido do CD, permitindo a Cardozo, Hélder - finalmente bem audível - e a Jurim demonstrarem suas qualidades.

Em outra de suas composições, Esperando, Delmiro demonstra sua total maturidade artística. Embora eu ache questionável a utilização do "pitch bend" no teclado ao longo de toda a boa intervenção de Cardozo, o tema não destoa do clima pretendido.

Já em Espada de Fogo, também do líder, HD mostra que mesmo em andamentos mais rápidos consegue manter intactos seu lirismo e sua levada impecavelmente limpa, sem ruídos estranhos a afugentar os aficionados por sua arte. Infelizmente aqui se repete o fenômeno da abdução do baixo, pontificando ainda o bom ritmo imposto por Jurim Moreira ao grupo.

Uma Round Midnight "comme il faut" é a sétima faixa. Clássica, elegante e românticamente executada, e pronto, o recado está dado.

Segue-se então a faixa TP, provavelmente (e aqui peço o auxílio dos confrades e demais leitores) composta por Delmiro para o jovem e já então incrivelmente promissor Heitor Teixeira Pereira, hoje consagrado por seus anos de participação no conjunto pop Simply Red - onde, a despeito do prestígio jamais conseguiu, a meu ver, demonstrar totalmente sua grande arte - e uma bela carreira de instrumentista em Los Angeles. Jorge Hélder pontua ali com um baixo elétrico, perfeitamente audível nesse tema mais para o fusion, genero que pontificava na noite "jazzística" do Rio então, e HD aparece solto e criativo, com swing invejável, utilizando todos os tricks"de seu vasto arcabouço.

Na faixa seguinte, O Morro Não Tem Vez, de Jobim/Vinícius de Moraes, Delmiro usa com belo efeito a técnica de ferir duas cordas para uma mesma nota, sendo uma delas milimetricamente destoada da sua parceira, criando uma sensação mágica. A levada, próxima ao samba, contrapõe HD, Jurim e Cardozo. O desperdiçado craque Jorge Hélder, infelizmente, resta imperceptível ainda nesta faixa.

Itapê, de Cardozo, é outro tema intimista de bom desenvolvimento pelo tecladista, complementado sem maiores surpresas por Delmiro.

Compassos, de Delmiro, penúltima faixa do CD, não foge ao clima geral e apresenta o líder em plena forma, alternando os solos entre notas únicas e acordes, sempre criativo na execução.

Fechando o disco, Hélio Delmiro entoa bastante razoavelmente Ilusão À Toa, em um tributo ao gradecíssimo mas muito pouco reconhecido expoente da boa música produzida no Brasil, o craque Johnny Alf.

Para quem não amava Delmiro, encontrá-lo em tão boa forma nesse seu Compassos, foi uma bela surpresa, à qual classifico com @@@ e meia.

A BATALHA ENTRE KRUPA E RICH NO JATP

19 dezembro 2004

Aqui está uma peça que buscava há tempos, a famosa batalha de baterias entre Gene Krupa e Buddy Rich, no JATP. Conforme mostrado num documentário exibido recentemente no Canal GNT, que me deixou ávido para encontrar e ouvir esse famoso encontro - quando a imensa legião de admiradores de Rich declarou-o vencedor, fato controverso, como poderão constatar -, a pancadaria é vigorosa e altamente inflamável. Os urros e assovios da platéia ensandecida por antecipação, pela perspectiva de presenciar algo memorável, como de fato foi, permeiam toda a faixa. Aumentem o volume ao máximo e sintam a eletricidade transmitida pelos dois monstros das baquetas.

(Este post é dedicado a todos os bateristas brasileiros interessados pelo jazz como forma de arte).

Enjoy!!!

PRIMEIRÍSSIMA MÃO: ROY HARGROVE NO RIO EM JANEIRO

17 dezembro 2004

Esta ninguém sabe ainda: o trompetista Roy Hargrove e seu conjunto se apresentarão no Mistura Fina dia 20 de janeiro, com possibilidade de dobrarem dia 21.

Uma ótima pedida para os jazzófilos ouvirem jazz de verdade.

Esta será a segunda vez que Hargrove tocará entre nós. A primeira foi no Free Jazz Festival de 1995, lembram ?

Enjoy everybody,
Raf

O FENOMENAL - E QUASE DESCONHECIDO -
JOVEM SAXOFONISTA FRANCESCO CAFISO

13 dezembro 2004

Está aqui, no final do post, um raro vídeo do jovem fenômeno italiano Francesco Cafiso, tocando com Wynton Marsalis em Lucca, na Itália. A gravação, embora esteja no site oficial de Cafiso, parece ter sido feita de algum lugar da coxia, pois a tomada é lateral e pouco privilegia os movimentos das mãos de ambos os solistas. Deve ter sido feita por algum familiar do garoto.

Independente disso, o som é bom e pode-se ouvir o imenso talento do pequeno saxofonista que destemidamente enfia um solo de cerca de 3 minutos, dando tudo de si e sendo saudado efusivamente por aplausos - não fosse a platéia majoritariamente italiana - por mais de uma vez.

Se continuar com essa garra e mantiver seus estudos, o que deve estar negociando com Marsalis, que é hoje uma grande personalidade não apenas musical mas diretamente voltada para o ensino, a divulgação e o reconhecimento do jazz como matéria a ser incluída no currículo básico das escolas americanas, esse pequeno prodígio ainda nos trará inúmeras alegrias.

Baixem o vídeo daqui.

FREVO-JAZZ, JAZZFREVO, FREJAZZ OU JAZZFRE?

10 dezembro 2004

Quem teve a chance de ver o Bom Dia Brasil de hoje, na TVGlobo, sabe do que se trata. Quem não viu, explico: é uma big-band de Recife, claro, que vem interpretando os frevos mais famosos dos principais compositores pernambucanos com um algo mais: o espaço para que cada solista tenha espaço para a livre improvisação e expresse suas arte e técnica dentro do enquadramento melódico principal, o que dá um clima totalmente jazzístico às apresentações.

O resultado geral é muito interessante, principalmente pelos andamentos em velocidade assombrosa, característica do frevo. Os músicos - e foram retratados no curto segmento jornalístico pelo menos três bons solos - tem de estar muito bem preparados tanto física como mentalmente, para atuarem sem falhas em suas "janelas".

O maestro, dublê de saxofonista-tenor, informou que a banda vem recebendo convites para tocar pelo Brasil afora e que já tocou algumas vezes no exterior, sempre com sucesso.

A experiência é positiva e dá a exata compreensão de como o jazz, mesmo sendo uma forma de arte americana, permeia e influencia inúmeros outros tipos de música de todo o mundo há mais de noventa anos, sendo antes de tudo um modo de tocar, no qual cada improvisador está desempenhando ali seu papel de compositor-instantâneo.

O jazz, definitivamente, não conhece barreiras.

Para ler a matéria original, clique aqui.

DIANA KRALL BRILHA EM NOVO DVD
RECOMENDADA PELO GRANDE OSCAR PETERSON

07 dezembro 2004

(transcrição; tradução livre)
por Angela Pacienza, Canadian Press
7 de Dezembro de 2004

TORONTO - Quando Diana Krall tinha 16 anos, sua mãe lhe fez uma jaqueta de cetim azul para que a aspirante a pianista usasse num concerto de seu ídolo, Oscar Peterson.
Anos depois, foi Peterson quem a cumprimentou quando Diana lançou seu último DVD, "Diana Krall: Live at the Montreal Jazz Festival". A lenda do piano surpreendeu Krall escrevendo uma dedicatória para as "liner notes" da caixa do DVD. Ali, ele escreveu: "Adoro o calor de Diana, tanto como cantora quanto pianista, mas também adoro a verdade inegável de sua percepção jazzística na medida em que usa esses talentos para encantar seus ouvintes".
O vídeo foi filmado na noite de abertura do 25º aniversário do festival, no verão passado, diante de uma lotação - esgotada com meses de antecedência - de 15 mil pessoas. É seu segundo DVD, após o muito vendido "Live In Paris".
Com seu foco intenso, Krall está bem adaptada ao formato. Desta vez, sem a orquestra que a acompanhava no Live In Paris, o espectador tem mais tempo para fixar-se em sua destreza musical, da faixa inicial, a instrumental "Sometimes I Just Freak Out" até os momentos suaves da última sua interpretação, em "Departure Bay". As músicas foram tiradas, em sua maioria, do seu último disco "The Girl in the Other Room", em colaboração com o marido Elvis Costello.
"Senti uma boa vibração," lembra-se Krall, em recente entrevista dada numa parada de sua turnê pela Alemanha. "É um festival de jazz, e isso é que foi o mais importante para mim. Olhar para o chão e ver escrito Montreal Jazz Festival. Isso me deu permissão para tocar e não me preocupar com mais nada. Ela [a vibração] vinha de todos os lugares em volta, ali mesmo onde eu tinha começado".
A cantora, natural de Nanaimo, na Columbia Britanica, tem uma longa história relacionada com seu primeiro evento. Foi lá que ela começou a cantar as canções de Nat King Cole que lhe renderam a inspiração para o seu disco indicado ao Grammy, "All For You". Diana debutou no festival de 1995, num minúsculo teatro de comédias com apenas 150 pessoas. Acelerando para 2004, Krall recebeu 15.000 fiéis entalados numa arena de "hockey". "Fiquei abismada com aquilo tudo. Foi muito legal", ela disse.
Krall, aos 40, nota que ficou totalmente embevecida que alguém da estatura de Peterson a tivesse endossado publicamente. "No início, fiquei chocada quando soube. Mas depois fiquei tão feliz quando li suas palavras", desabafou Krall.
Ela usou isso como uma desculpa para telefonar para Peterson, tendo ligado umas nove vezes e desligado em seguida. "Finalmente ganhei coragem de discar e falar-lhe por um bom tempo, sobre (o compositor) Duke Ellington e (o baixista) Ray Brown. Foi simplesmente extraordinário." E fez questão de dizer-lhe como ele havia mudado sua vida quando, ainda adolescente, ela pôde ver sua performance com Ella Fitzgerald no Vancouver Orpheum.
"Legal que ele esteja apoiando artistas," disse do pianista de 79 anos nascido em Montreal. "Há gente assim de quem ainda podemos aprender. Sou sua discípula eterna, assim como minha banda".
Com seu material original, "The Girl in the Other Room" talvez tenha livrado Krall finalmente do estigma de "rosto bonito com boa voz" que tanto atrapalha sua carreira. Ela parece concordar. Lembra-se de uma recente resenha sobre um concerto seu, no qual o crítico parecia ter-se surpreendido favoravelmente com Diana, ao declarar "nós sempre achamos que [suas interpretações] eram algum tipo de embuste".
Ela disse: Caramba, demorou todo esse tempo? O que será que eles achavam que eu estava fazendo? E o pior é que eu mesma nunca imaginei que as pessoas estivessem pensando assim. Eu não estava tentando provar nada. Eu sei o que estou fazendo e apenas quero fazer as pessoas sentirem alguma coisa."
Diana Krall vai continuar seu tour até maio, com uma pequena pausa no Natal. Depois disso disse ter um par de idéias na manga. "Sinto que posso fazer o que quiser e que o mundo está aberto para mim. Não me sinto presa numa caixa", disse. No momento, está usando seu tempo vago estudando seus favoritos. E diz que seu IPod está abarrotado com as gravações, pela gravadora Capital, do trio de Nat King Cole.
"Voltei a ser uma louca pelo, e do jazz", termina com uma gargalhada.

- TRIUNFAL APRESENTAÇÃO DO VICTOR BIGLIONE ORGAN TRIO NO XVII CONCERTO DO PROJETO CHIVAS JAZZ LOUNGE -

01 dezembro 2004

Noite do Harlem na Lagoa carioca. É isso mesmo. Aconteceu no concerto do Victor Biglione Organ Trio no Mistura Fina, quinta-feira, dia 25 de novembro, com a inédita formação guitarra-órgão-bateria em apresentações de músicos brasileiros de jazz no Rio de Janeiro. Os conjuntos com essa instrumentação eram muito populares nos Estados Unidos nos anos 50, 60 e 70. Eram liderados por Milt Buckner, Wild Bill Davis, Jimmy Smith, Bill Doggett, Jackie Davis, Shirley Scott, Charles Earland, Jack McDuff, Jimmy McGriff, Johnny “Hammond” Smith e outros luminares do órgão. E por quê noite do Harlem ? Porque esses conjuntos apresentavam-se com enorme sucesso nos clubes enfumaçados do Harlem, entre eles o Slugs, Prelude, Smoke e Count Basie’s.

A idéia de apresentar essa formação nasceu de um sonho do produtor David Benechis, carinhosamente chamado de Bene-X, um dos cabeças coroadas do CJUB. Quando David arregaçou as mangas colocando mãos à obra (e quando se decide, nada o detém), saiu em busca de um órgão Hammond em inúmeros locais do Rio e adjacências. Finalmente encontrou um de propriedade do colecionador Fabio Fonseca, de Itaipava, que se dispôs a cedê-lo. David desejava apresentar o guitarrista Victor Biglione com o organista José Lourenço e o baterista André Tandeta, que atuam juntos há muito tempo - embora em contextos diferentes -, para ilustrar a trajetória da guitarra moderna no jazz. Acertados os detalhes, David e os músicos selecionaram o repertório após avaliarem inúmeras composições, pesando detidamente as possibilidades de cada uma dentro do contexto a que se propunham.

O sucesso da noite ultrapassou a expectativa mais otimista. Para quem nunca ouvira Biglione tocar jazz, foi uma revelação. Virtuoso do seu instrumento, ele toca qualquer frase que imagine em andamentos supersônicos ou nas baladas, inserindo nestas graciosas variações, passagens harmonicamente complexas ou arpejos judiciosamente colocados. Os acordes que insere embelezando algumas canções, aliados às frases melodicamente evocativas e sedutoras, resultam numa experiência enriquecedora proveniente de uma fonte fértil de idéias e inspiração. Em uma única frase, Biglione faz o difícil parecer fácil.

Lourenço deu seu toque pessoal ao grupo, ensejando ao público apreciar as variadas sonoridades do órgão, instrumento que a grande maioria raramente ouve. Ele é um dínamo de contagiante entusiasmo, balançando exaustivamente a cabeça e o corpo, como se fossem partes integrantes da sua execução. Seus movimentos com a cabeça lembram exatamente os do saudoso Ray Charles. Seus prolongados acordes geram momentos excitantes (seu solo em “Au Privave” foi absolutamente negróide, com balanço efervescente que a platéia acompanhou com assumida excitação), além dos acompanhamentos integrados aos solos de Biglione, especialmente nas baladas, complementando as frases do líder com bom gosto.

O correto André Tandeta foi o complemento ideal para essa formação. Com um equipamento de apenas dois pratos, além do hi-hat e três caixas (ou tambores, se preferirem), extrai mais sons e ritmos que os pseudo-bateristas que se escondem por trás de uma infinidade de tambores, penduricalhos e apetrechos extra-musicais, arvorando-se em virtuosos através de extensos solos cansativos, barulhentos e de total mau gosto. Tandeta conhece o segredo de quando deve e quando não deve acentuar seus movimentos, especialmente por trás de um guitarrista e um organista, que nos momentos de rara delicadeza exigem um baterista que saiba discernir a hora precisa de complementar, evitando embaralhar ou embolar o som coletivo. Em solo ou nas febris trocas de quatro compassos, suas oportunas intervenções colocaram muita lenha na fogueira.

Biglione possui ótima presença de palco, expressando-me com simpatia e genuína dose de humor. Algumas das suas tiradas provocaram boas gargalhadas. Falando em gargalhadas, o sempre alegre e irreverente cejubiano José Sá, nosso querido Sazz ou Sazinho, sacou a maior tirada da noite. Sempre ligado no que acontece, não perde uma chance para um comentário jocoso em cima do laço. Sazz não perdeu a vez, arrancando gargalhadas homéricas ao comentar o fato de Biglione estranhar que seu microfone tivesse dois dispositivos para ligar e desligar o som. Irônico e sempre ligado, seu comentário incisivo e hilariante sobre o microfone fez muita gente rir sem poder parar, como foi o meu caso e de Coutinho, nosso Goltinho, outro cejubiano de boa cepa que acende e aumenta a chama do entusiasmo. Lamentavelmente, o oportuníssimo e pra lá de jocoso comentário de Sazz é impublicável, mas ficará para sempre no anedotário do CJUB.

A noite ofereceu outra surpresa que pegou muita gente desprevenida, inclusive eu. Foi a justa e merecida homenagem a Luiz Carlos Antunes, batalhador incansável pela divulgação do jazz como produtor e apresentador do programa “O Assunto É Jazz”, que esteve no ar durante três décadas na Rádio Fluminense-FM. Infelizmente, fui apanhado de surpresa, tomando conhecimento da homenagem na hora do concerto. Caso soubesse com antecedência, teria providenciado o prefixo do seu programa para tocar quando ele subisse ao palco.

E a música, como foi ? Foi fulminante, um verdadeiro tratamento de choque sonoro que arrebatou a platéia. Todavia, por haverem solicitado esta resenha após o concerto iniciado, não fiz as anotações de praxe, razão pela qual reservo-me a alguns comentários esparsos.

Como em todo repertório de jazz, não faltaram os blues básicos (e que blues!), que sempre chamei de "alma e coração do jazz". “Bags Groove”, de Milt Jackson, “The Tokyo Blues”, de Horace Silver, “Au Privave”, de Charlie Parker, três músicos geniais que ilustram a diversificação tonal, melódica e rítmica de um idioma aparentemente simples de 12 compassos, além de “Cape Verdean Blues”, outra obra de Silver.

Desfilaram ainda “Seven Come Eleven” (velho opus de Charlie Christian e Benny Goodman sobre as harmonias de “I Got Rhythm”), o soul-church-bluesy “Work Song” (de Nat Adderley), o medley unindo “Batida Diferente” e “Estamos Aí” (clássicos da bossa nova de Maurício Einhorn e Durval Ferreira), as conhecidas “All the Things You Are” (com a introdução clássica de Charlie Parker) e “My Favorite Things”. Também a registrar o medley com os clássicos "What Are You Doing the Rest of Your Life", de Michel Legrand, e "The Shadow of Your Smile", de Johnny Mandel.
Merece especial menção a sensível interpretação de Biglione em “The Gentle Rain”, que, em minha opinião, foi uma obra-prima. Gostaria de ouvir a gravação para confirmar esta impressão. O trio encerrou o concerto com uma versão mais que supersônica de “Baby Elephant Walk”, de Henry Mancini, deixando todos pedindo mais.
Sem dúvida foi um dos mais bem-sucedidos concertos da vitoriosa série Chivas Jazz Lounge.

AGRADECIMENTO

Após 2 anos de convivência no CJUB, conhecí pessoas interessantes e pude aprender muita coisa referente ao jazz.
Porém, os inúmeros compromissos profissionais e pessoais, além do meu horário de trabalho, que é sempre ao contrário de todos os outros companheiros, me impedem de continuar neste projeto.
Quero agradecer imensamente a todos, com quem aprendí muitas coisas, e desejo que todas as propostas do CJUB
se tornem realidade.
Quero, também, dizer que continuarei a disposição para ajudar no que for possivel.
Deixo aqui o meu abraço e um pouco adiantado, desejo um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de alegria e muita paz.

JHF