Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

WANDA SÁ - NASCE UMA CANTORA DE JAZZ

11 novembro 2004

O Mistura Fina, na noite do dia 28 passado, propiciou, como verdadeiro club de jazz que é, o ambiente ideal para uma perfeita demonstração de que em matéria de musicalidade, nossos astros, comprometidos com o profissionalismo, não ficam devendo nada a ninguém. Muito pelo contrário, podem dar aulas de como fazer um concerto bem feito. Tudo está registrado em vídeo e em fita de áudio digital, e a apresentação de Wanda Sá torna-se desde já uma relíquia histórica, em testemunho de uma noite memorável.

Wanda subiu ao palco com uma missão pela frente. Já tendo vencido todos os seus desafios no que tange à musica brasileira, principalmente a bossa nova, tinha ali uma batalha pessoal a enfrentar, desde que aceitara o convite para cantar jazz para uma platéia composta não apenas por amigos e seu público fiel mas que incluía indivíduos exigentes como o grupo de loucos por jazz deste CJUB - do qual faz parte seu irmão Sazinho (Sazz), um dos fundadores e co-produtor da experiência. Wanda houve-se com maestria e fez um espetáculo para os anais do CJUB, do Mistura e de sua própria trajetória pessoal.

Tendo recebido a incumbência de um concerto no qual cantaria exclusivamente temas jazzísticos, seguindo a orientação do programa desejado, nem mesmo vacilou. Topou na hora a empreitada e dedicou-se, segundo seus elevados padrões artísticos e profissionais, a decorar as letras de cerca de 14 músicas que interpretaria. Isso mais os ensaios com a banda onde repetiu, e repetiu à exaustão, as passagens mais complicadas para não titubear, não tergiversar, não deixar transparecer que em toda a sua vida profissional como cantora-musa-diva-símbolo da bossa nova, jamais tinha entoado três compassos desta refinada arte norte-americana, e assim Wanda sonhou por três semanas exclusivamente com jazz.

E, simplesmente, detonou. Com apoio do diretor musical e contrabaixista Dôdo Ferreira, valorizada pelo belíssimo piano de Adriano Souza e com a marcação precisa de João Cortez, Wanda em pouco tempo transformou o Mistura Fina no quintal de sua casa, tal sua segurança, inventividade e sua inescapável bossa pessoal. Parecia uma menina descobrindo a gaveta de maquiagem da mãe. Wanda foi, cantando jazz, a mesma grande intérprete da bossa nova que sempre nos encantou. Desta feita, em inglês e de forma perfeitamente jazzística. Suas interpretações de "Solitude", "Don't Get Around Much Anymore", "The Way You Look Tonight" e "All of Me", estas duas últimas em ritmo mais próximo de suas origens bossanovísticas, poderiam seguramente figurar num próximo CD dedicado ao jazz.

Adriano Souza, ao piano, foi revelação saída da cartola de Dôdo Ferreira. Praticamente um desconhecido de grande parte do público, Adriano acompanhou Wanda com a experiência de um veterano "sideman" americano e quando fez solos, os fez elegantes e criativos, a ponto de arrancar aplausos ainda em meio à sua execução.

Uma bela descoberta do sempre antenado Dôdo, que além da direção musical do programa, manteve seu sempre criativo contrabaixo à frente do grupo, incentivando e marcando com firmeza a apresentação de Wanda, com quem apresentou-se em dueto em "Just Squeeze Me", também de Ellington.

João Cortez foi o baterista seguro e elegante de sempre, mantendo seu instrumento em pulso rítmico intimista e pontuando com vigor nos entremeios vocais, sempre dando coloraturas elegantes aos seus - poucos, é verdade - momentos em solo.

Uma noite para se guardar na memória, que teve como presenças destacadas, Durval Ferreira, Vítor Biglione (próxima atração do CJUB, em 25 de novembro próximo, com um "Histórico da Guitarra no Jazz") e de Roberto Muylaert, renomado jornalista e produtor musical, responsável pela primeira edição do Festival de Montreux no Brasil, em 1978. Foi Muylaert quem pediu, na hora do bis, que Wanda novamente cantasse "Solitude", de Duke Ellington e arrepiasse todos os braços outra vez, como havia feito no primeiro set, quando a justeza de sua voz de timbre grave se adaptou maravilhosamente à composição, eletrificando o Mistura Fina.

Acho que Wanda Sá, depois dessa experiência, foi definitivamente inoculada pelo vírus do jazz. Diz ela ter sido eu o responsável por isso, ao convidá-la a ser a primeira pessoa a cantar, se e quando decidíssemos abrir essa vertente dentro do projeto iminentemente instrumental do CJUB. Assim foi, e aceito a acusação com muito orgulho. Ao fim, acho que foi o mundo que ganhou uma nova e promissora intérprete jazzística.

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