Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

TIM FESTIVAL, 7/11/2004, SÃO PAULO

30 novembro 2004

DAVE HOLLAND BIG BAND @@@@

Billy Kilson foi a estrela (e a "orelhinha", consequentemente) faltante na constelação que formou o combo de Dave Holland (baixo), desde 2002 exitoso em todos os círculos jazzísticos (mídia, festivais, polls) e agora prestes a lançar album novo, algo antecipado na abertura da terceira e última noite do TIM Festival 2004.

Não que Nate Smith (bateria) tenha decepcionado, muito ao revés: formou uma rhythm-section abençoada ao lado do líder e do avançadíssimo vibrafonista Steve Nelson, ancorando as estantes de metais, brilhantes, por igual, individual e coletivamente.

O "problema" é que não há baterista, hoje, ao menos entre os das gerações mais novas, tão importante para o Jazz quanto Kilson, cuja inimitável polirritmia e inventividade, derivada dos estilos de Roy Haines e, principalmente, Jack DeJohnette, aflora, como em nenhum outro conjunto, nas bandas de Dave Holland.

Do premiadíssimo disco "What Goes Around" (2002, ECM), o baixista pinçou, para abrir o set, as duas primeiras faixas, Triple Dance e Blues For C.M. (C.M. = Charles Mingus), ficando claro que sua big band orienta-se pelo alfabeto Ellingtoniano, não na forma ou arranjos, claro, mas na constante intenção de dirigir os temas para a livre expressão e destaque de um ou determinados solistas.

Perfeito exemplo disto foi Mental Images, originalíssima composição de Kevin Eubanks (trombone), que, não à toa, o teve featured em primeiro plano, ao lado do irmão, Dwaine Eubanks (trompete), pupilo talentoso e fiel, no timbre e fraseado, de Freddie Hubbard.

A também inédita A Rio, dedicada à rival pobre - mas ainda (e sempre) maravilhosa - da capital paulista, cativou pelo desdobramento hipnótico de suas harmonias, compensando a evidente fragilidade da melodia inicial.

Fechou o set a title-track do CD de 2002, deslanchada por uma introdução arrepiante - e "impossível" - no baixo, levando a riffs puxados por Chris Potter (sax tenor) e Kevin Eubanks, logo seguidos dos demais metais.

Dave Holland é, todo o tempo - e a um só tempo - totalmente harmônico e totalmente melódico, em igual medida, o que parece realmente desafiador mesmo para os mais virtuosos de seus colegas baixistas. Parece não haver limite para a diversidade (e beleza) das linhas de condução que emanam de seu instrumento, e do qual dependem, de modo visceral, todo o coletivo.

De outra parte, só mesmo um combo fora-de-série pode se dar ao luxo de escorar-se nas harmonias imprevisíveis de Steve Nelson, distante, muito distante, do mainstream que domina, por décadas, o vibra-harp, inobstante os avanços nele operados pelos gênios de Milt Jackson, Bobby Hutcherson e Gary Burton.

Last Minute Man, merecido encore, demarcou, de vez, a linha que separa a seção rítimica, de um lado, dos metais, de outro, como que duas units em constante desafio mútuo, que resulta em maravilhoso contraponto e inesquecível sinergia. Brilharam, aqui, de novo os irmãos Eubanks, o trompete de Alex Sipiagin e o sax alto de Jaleel Shaw, mágica revelação, cujo "cartão de visitas" já recebêramos um dia antes, na jam promovida por B. Marsalis.

Só faltou mesmo Billy Kilson para a perfeição.



BIRÉLI LAGRÈNE GIPSY PROJECT @@@@1/2

Empunhando sua semi-acústica "cigana" (cordas de aço), quem chamaria para um duelo Biréli Lagrène ? Penso que nem Django Reinhardt, seu mentor e moto perpétuo de inspiração, a tanto se aventuraria.

O guitarrista, polivalente na discografia, encontra evidente conforto neste tipo de formação - guitarra solo (Lagréne), contra-baixo (Diego Imbert), guitarra rítmica (Hono Winterstein) e sax soprano e tenor (Franck Wolf) - aparentemente "simples", mas ontológica e antologicamente jazzística.

Atacando temas clássicos de Django, antigos standards como This Can´t Be Love e Cherokee, bem como originais, inclusive Parkerianos, Lagrène contagiou o Festival com o mais intenso, pulsante, extrovertido e sincero jazz que naquele palco se viu ao longo dos três dias do evento.

Enfim, puríssimo jazz "na veia", não só pela desenvoltura do líder e sua técnica olímpica, mas em grande parte pela descoberta do sensacional saxofonista Franck Wolf, de cujo cadinho de influências extraiu um impensável blend dos estilos de Benny Goodman, Sidney Bechet e Pee Wee Russel. Isto no soprano, principalmente, mas, acreditem, também no tenor, onde, aí, também Lester Young fez-se presente, solene, mas sem jamais perder a alegria que determina a música deste conjunto.

O concerto, impulsionando o lançamento do CD "Move" (2005, Dreyfus), trouxe um tufão de emoções para verdadeiros jazzófilos e, valeria, ele só, por um festival inteiro.


ART VAN DAMME QUINTET @@1/2

Lenda viva do Jazz, Art Van Damme, embora fragilizado em razão da idade, conseguiu realizar um concerto digno de sua história e importância, à frente de seu correto quinteto, cuja formação, com a substituição do piano pelo acordeón do líder, é a mesma dos clássicos conjuntos de George Shearing (vibrafone, guitarra, baixo e bateria).

Composto basicamente de standards e originais "standardizados", o set list promoveu um passeio pela sólida carreira de Van Damme e seus encontros com alguns dos maiores nomes do gênero, refletidos na originalidade dos improvisos que o virtuoso ainda consegue, com grande categoria, enfileirar, provando a majestade que nunca dele se retirará na evolução do instrumento e, de resto, do próprio Jazz, notadamente na incorporação de novos timbres e sonoridades para o gênero.

Um fecho emblemático para o Festival, que primou pelo acerto na escolha de um cast, no geral, de altíssimo nível artístico, avaliação válida, claro, exclusivamente para o palco Club, com a devida licença das demais "tendas" e suas respectivas "tribos".

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