Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

COLUNA DO MESTRE LUIZ ORLANDO, NO JB DE HOJE

18 novembro 2004

Transcrevo aqui, mais uma vez em prol da nossa cultura jazzística, a coluna do nosso "Mestre-remoto" - geograficamente, claro, pois mora nos nossos corações e mentes - Luiz Orlando Carneiro, que lança mais alguma luz na discussão sobre as reais qualidades/habilidades de Brad Mehldau.


"Jazz em ótimos lançamentos"

"No apagar das luzes de um ano em que as edições no Brasil de discos de jazz lançados lá fora foram raras e irrelevantes, surgem no mercado CDs marcantes de dois músicos extraordinários, embora bem diferentes em termos de concepção e de importância na história do moderno piano jazzístico.

Live in Tokyo (Nonesuch/Warner) é um recital solo gravado, em fevereiro do ano passado, por Brad Mehldau - o sofisticado, altamente técnico e jovem (34 anos) mestre do chiaroscuro musical. A night in Vienna (Verve/Universal) registra o concerto realizado há um ano, no Musikwerein de Viena, pelo quarteto do monstro sagrado Oscar Peterson (79 anos), na comemoração do 175º aniversário dos pianos Bösendorfer (Peterson ganhou dos fabricantes, tempos atrás, um Imperial feito especialmente para ele, com uma oitava a mais).

Há duas semanas, no Tim Festival, em São Paulo, Brad Mehldau apresentou-se com o trio que lidera há 11 anos. E reafirmou, com notável criatividade, que o tema - desde que melodicamente atraente - é um mero pretexto para a arte da improvisação, num nível de excelência bem próximo ao atingido por Keith Jarrett, o imperador do jazz trio nos últimos 20 anos.

Em Live in Tokyo, Mehldau vagueia, à vontade ou solenemente, durante 70 minutos, pelas variadas paisagens que inventa a partir de oito temas, dos quais apenas Intro (dois minutos e meio) é de sua pena. Os outros sete são: Someone to watch over me e How long has this been going on? (Gershwin); Things behind the sun e River man (Nick Drake); From this moment on (Cole Porter), Monk's dream (Thelonious Monk) e Paranoid android (Radiohead).

Nos temas de Gershwin, o pianista dá ênfase à sua verve romântica, ao lado mais contemplativo de sua personalidade, que agora desabrocha, depois de abafado pelo virtuosismo incontido do Mehldau dos primeiros discos da série The art of the trio. Mesmo assim, o forte ego do intérprete acaba por escancarar a porta ao virtuose nos três minutos finais de Someone to watch, quando o ostinato sombrio da mão esquerda e as variações no agudo da mão direita tornam-se mais veementes. From this moment on é desconstruído e reconstruído de modo mais introvertido, com uma economia de notas digna do saudoso John Lewis (1920-2001).

A erudição de Mehldau não pode evitar que em suas telas musicais surjam vultos de Bill Evans e Beethoven, de Keith Jarrett e Brahms. As meditações do pianista não comprometem o swing que - mais explícito na moldura habitual do trio - é intenso nas variações solitárias altamente percussivas sobre o tema de Monk (7m 59s) e torrencial nos 20 minutos de Paranoid android. Nesta faixa - um tour de force de improvisação contrapontística, também iniciado com um simples episódio musical - Mehldau presta homenagem ao genial Keith Jarrett, deixando claro ter ouvido muitas vezes o célebre Köln Concert (1975).

Quanto ao recente álbum de Oscar Peterson (talvez o pianista de discografia mais extensa nos anais do jazz), roga-se que seja apreciado com o mesmo espírito dos ouvintes da celebração de Viena. O crítico Richard Palmer, ao comentar o DVD do concerto, observou: ''As tomadas do auditório são tão reveladoras e importantes como as do palco. A audiência realmente queria estar ali, não para ser vista num acontecimento social, mas para assistir ao aparecimento, em sua cidade, do último dos indiscutíveis mestres do jazz, cuja arte tocou milhões de vidas''.

Em 1993, Peterson sofreu um derrame, que deixou a mão esquerda semiparalisada. Fez muita fisioterapia mas, evidentemente, ficou incapacitado de continuar a usar as duas mãos e os dez dedos para gerar seus caudalosos rios de arpejos e runs paralelos de acordes cheios. Nem a articulação dos dedos da mão direita é a mesma dos discos antológicos das décadas de 60 e 70.

Mas o handicap teve um certo mérito - o de tornar mais reflexiva e menos exibicionista a arte do gigantesco (em todos os sentidos) pianista. Além disso, Peterson lidera um quarteto em que dois músicos excepcionais - o dinamarquês Niels ''Nhop'' Pedersen (baixo) e o sueco Ulf Wakenius (guitarra) - compensam suas atuais deficiências harmônicas. E o também fiel escudeiro Martin Drew (bateria) está sempre de prontidão no suporte rítmico.

Oscar Peterson assina seis das nove composições desse CD, que tem um tom de despedida acentuado por Requiem, que ele dedica a Ray Brown, John Lewis, Milt Jackson e Norman Granz, falecidos no período 2001-2002.

O pianista está particularmente feliz em Wheatland (da suíte Canadiana), Cakewalk e The backyard blues. Os problemas de articulação são mais visíveis em Sweet Georgia Brown, na introdução em duo com Wakenius, que tem muito espaço para mostrar suas qualidades de grande improvisador em quase todas as faixas. Infelizmente, o fantástico contrabaixo de ''Nhop'' está mal captado no mix."

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