Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

DANIEL GARCIA NO JB DE HOJE, NA COLUNA
DO MESTRE LUIZ ORLANDO CARNEIRO

26 agosto 2004

Transcrevo aqui com as devidas vênias, do JB e do Mestre e amigo Luiz Orlando Carneiro, sua coluna de hoje, na qual resenha o último disco desse músico cejubiano, Daniel Garcia, que esteve presente nas últimas duas edições das CJL prévias à da noite de hoje. E nosso CJUB faz parte da matéria.
Como observação, apenas a de que saiu grafado como Almir Martins o nome do trompetista Altair Martins, outro dos músicos que já se apresentou em nossas produções. Os grifos são nossos.


"Os caminhos do compositor Daniel Garcia

O saxofonista Daniel Garcia é muito respeitado e atuante no terreno demarcado da MPB instrumental. Na condição de músico profissional, ganha também a vida acompanhando em estúdios e palcos vozes tão populares e diversas como as de Elba Ramalho, Roberto Carlos, Maria Bethânia, Ed Motta, Alcione ou Beth Carvalho.

No entanto - como o trompetista Guilherme Dias Gomes, que lançou recentemente um ótimo álbum jazzístico, intitulado L'amour - o verdadeiro amor de Daniel Garcia é o modo de expressão musical em cujo Olimpo estão John Coltrane, Dexter Gordon, Hank Mobley, entre outros deuses do sax tenor.

No fim do mês passado, Garcia liderou um quinteto, no Mistura Fina, na série Chivas Jazz Lounge, promovida pela turma de experts do CJUB (Charutos Jazz Uísque Blog). A noitada, produzida por Arlindo Coutinho, foi uma bem-sucedida celebração de temas de autoria de Dexter Gordon ou recorrentes na extensa discografia do mestre do sax tenor bop, falecido em 1990, aos 67 anos. Ao lado de Daniel, estavam Dario Galante (piano), Augusto Mattoso (baixo), Rafael Barata (bateria) e Almir Martins (trompete).

Os mesmos músicos - menos Almir Martins - estão reunidos no CD Caminho, recém-saído do forno, e o primeiro disco com a assinatura de Daniel Garcia na qualidade de líder, intérprete e compositor. Das oito faixas do álbum de produção independente, seis são da pena de Daniel: a faixa-título, Jardim, Primavera, Kronos, Domingo e Estrela negra. O experiente e refinado pianista italiano Dario Galante, carioca desde 1986, contribui com Marakabop. A oitava peça, Mr. Big Dog, é do exímio saxofonista Idriss Boudrioua, que não participa da gravação. A seção rítmica, com Barata e Mattoso, é das melhores em atividade no Brasil, de nível nova-iorquino.

Garcia toca sax tenor em todas as faixas, exceto em Caminho, em que prefere um sax soprano incisivo, cortante, sem os ''orientalismos'' ornamentais muito empregados por quem tem problemas com a afinação e o sopro muito difíceis do instrumento introduzido no jazz por Sidney Bechet, e depois glorificado por Steve Lacy. A faixa de quase oito minutos dá o tom interativo do quarteto, no plano rítmico-harmônico, com destaque para Dario Galante e o brilhante Rafael Barata.

A partir de Jardim, mas principalmente em Primavera e Kronos, Garcia mostra, com técnica e sensibilidade invejáveis, sem quaisquer exibicionismos gratuitos, que o seu approach é decididamente melódico, tanto na exposição temática, como nos solos improvisados. O som é generoso, quase sem vibrato. Suas frases têm sujeito, objetos direto e indireto, e predicados apropriados. Ou seja, os fundamentos do estilo do tenorista podem ser encontrados nas ''declarações'' claras e fluentes de Dexter, no fraseado legato e pungente do Coltrane não-radical, e na arte melódico-harmônica de Hank Mobley - um dos mais depreciados músicos da escuderia Blue Note dos anos 60.

Primavera (faixa de 6m25s) tem como ponto de partida o langoroso fragmento melódico inicial da Sagração da primavera, de Stravinsky. Como o tema é bem conhecido dos que têm alguma intimidade com a música erudita, o desenvolvimento que o quarteto dá à peça é um bom exemplo do estilo do líder - um explorador da melodia em desdobramentos mais horizontais do que verticais, embora sem deixar de usar, aqui e ali, exclamações tipicamente coltraneanas.

Kronos é o ponto alto do primeiro CD inteiramente jazzístico do saxofonista. Nas notas do álbum, Arlindo Coutinho destaca a ''belíssima construção melódica de Dario (Galante) na introdução da balada, abrindo caminho para a melodia de largas notas expostas por Daniel''. José Domingos Raffaelli, por sua vez, sublinha que a balada ''enseja a Daniel expor seu lado lírico, em contraste acentuado com a veemência que projeta no final da faixa''.

Essa ''veemência'' é precedida de um interlúdio cheio de contrações e alongamentos rítmicos criados por Galante, Mattoso e Barata. Em pouco mais de oito minutos, Garcia e a seção rítmico-harmônica constroem a peça mais rica do CD.

As outras peças de Garcia são também envolventes e bem estruturadas, como Domingo - marcada por uma cálida batida basicamente bossa nova, com intervenções ágeis e assimétricas de Barata, que fazem parecer que o tempo fica sempre em suspense, aberto às observações cuidadosas de Galante e ao fraseado elegante do saxofonista."

por Luiz Orlando Carneiro

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