Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

Wanda Sá & João Donato

12 abril 2004

Transcrevo, abaixo, crítica capturada no site www.nominimo.com.br, de autoria de Paulo Roberto Pires, sobre o novo disco de nossa musa honorária, Wanda Sá, em parceria com o grande João Donato:

" "Wanda Sá com João Donato" fez o caminho difícil que é cada vez mais familiar a tantos músicos brasileiros de qualidade: foi pensado e gravado para o público japonês, lançado lá em 2003 e só agora, quase um ano depois, chega por aqui como novidade pela Deckdisc. E que novidade. Do repertório aos arranjos, é um disco primoroso, que certamente vai freqüentar lojas de todo o mundo na sessão "bossa nova", mas a rigor deveria estar entre os lançamentos de jazz, gênero que tanto a cantora quanto o pianista mais se aproximam neste que é seu primeiro trabalho conjunto.

É preciso pedir licença aos clichês para falar de um e outro. Desde a estréia com o surpreendente e juvenilíssimo "Vagamente", em 1964, Wanda Sá só fez melhorar. Sempre cantou bem e afinadamente, mas ganhou com o tempo aquele peso que só a vida pode dar a uma voz. Em 2002, lançou com menos repercussão do que merecia "Azul da cor do mar", um disco de extremo bom gosto em repertório e arranjos que, no entanto, parece um esboço se ouvido lado a lado com este novo.

João Donato, cada vez mais prolífico, tem gravado demais - no bom e mau sentido. Vem de uma experiência surpreendente com Emilio Santiago, no último disco produzido por Almir Chediak para o selo Lumiar. É uma baita parceria piano e voz, freqüentando as latitudes caribenhas de Donato e levando a belíssima voz de Emílio para onde ela merece, longe do inferno dos pot-pourris e dos mela-cuecas em série. Mas, assim como o trabalho anterior de Wanda, acaba um tanto ofuscado pelo disco produzido por Kazuo Yoshida - o melhor, aliás, de uma carreira pontuada por bons discos como de Wanda.

Jamil Joanes no contrabaixo e a bateria de Robertinho Silva já garantiriam a qualidade da cozinha musical, mas o disco traz ainda, além do próprio Youshida na percussão, o auxílio mais do que luxuoso do mítico J. T. Meirelles, pilotando sax e flauta em discretas e memoráveis intervenções em duas das 14 faixas - com comentários ao hino donatiano "Minha saudade" e um memorável solo na ultraromântica "O que é amar", uma pérola de Johnny Alf que, em suas harmonias sofisticadas, vira uma festa para o instrumentista mais impressionante, em virtuosismo e criatividade, dos que saíram do Beco das Garrafas.

Ambas dizem, aliás, do gosto e da qualidade do repertório, que vai além das pérolas do próprio pianista (a metade das canções) e do período áureo da bossa nova, navegando ainda pelos mares sempre tranqüilos e às vezes surpreendentes - quando bem percorridos - do american songbook. Levar standard em ritmo de samba é sempre risco, aqui conjurado por uma citação de "Perdido" (adequadamente unida ao "Samba torto") e versões mais do que adequadas para os Gershwin de "But not for me" e "There will never be another you", esta última perfeita, como se Harry Warren e Mack Gordon a tivessem composto num terraço à beira mar - de Copacabana, é claro - com um solo arrebatador de Donato.

Ao lado de um clássico como "É com esse que eu vou", Wanda e Donato trazem de volta uma preciosidade pouco gravada, "Cartão de visita", samba de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes sacado da trilha sonora original do musical "Pobre menina rica". A própria Wanda já a havia gravado, com Roberto Menescal, no songbook de Vinicius de Moraes, encontrando aqui um sotaque mais jazzístico e suingado insuperável.

No grande capítulo "donatiano", tem clássico para todos os fãs do compositor, que a cada disco gravado as reinventa, como na melhor tradição jazzística. "Sambou , sambou" ganha versão memorável, com brincadeiras sutilíssimas de voz, piano e percussão. A gozação "Daquele amor nem me fale", parceria deliciosa com Martinho da Vila, vem mais convencional, no clima de festa de sempre" e "Quem diz que sabe" encerra os trabalhos com a letra de Paulo Sergio Valle. No maior risco de clichê, a dupla sai-se mais do que bem com a jam session armada para "A rã", um primor na dosagem de improviso vocal e instrumental.

O único senão do disco é mesmo o título. Não se trata de um álbum "de" Wanda Sá "com" João Donato - ou vice-versa. Trata-se de uma gravação, rara, em que um e outro têm peso igual, que ambos comparecem com suas maiores virtudes e longe de seus eventuais e costumeiros tropeços. Um primor que não cabe em nenhum rótulo e muito menos no de "bossa nova".

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