Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

MICHEL LEGRAND, 18/3/2004, 1o. SET, MISTURA FINA - @@

20 março 2004


Michel Legrand, o songwriter, está acima do bem e do mal. Legrand, o cantor, abaixo da crítica. E o Legrand pianista, ontem pelo menos, passou por média, mas "raspando".

Difícil começar assim, porque, afinal, everybody loves Legrand.

A própria persona do compositor, carismático e sempre bem humorado, parece suficiente para conquistar a audiência. Na verdade, ele já entra com a platéia conquistada.

E não é para menos. Se já é uma glória para qualquer um, conseguir compor um único tema que perdure no inconsciente coletivo por mais de dez anos, imaginem aquele que emplaca 10, 20 canções por cinco décadas ! Canções que se provaram verdadeiras "cúmplices", às quais a gente recorre a todo momento, geralmente sem se dar conta, cantando ou assobiando.

No panteão dos songwiters, Legrand estará ao lado dos americanos clássicos - Gershwin, Porter, Rodgers, Berlin, Mercer, Kern, Ellington - além de Jobim, entre nós, e, mais modernamente, Stevie Wonder, McCartney e outros "contados nos dedos".

Todos donos não de uma, mas de uma série de melodias simples, mas de trama genial, capazes de resistir ao tempo e aos modismos, seduzindo ouvintes de ontem, hoje e amanhã.

Mas nem só de carisma vive um músico, muito menos um show, principalmente quando a carreira de Legrand quase sempre esteve associada também ao mister de pianista de jazz, embora nisto evidentemente ofuscada por sua excelência como compositor e arranjador.

O Legrand pianista a que assistimos, no mesmo Mistura, na década passada, estava em boa forma, preocupado em manter sempre criativas suas intervenções e sabendo usar dos resquícios da ótima técnica que outrora demonstrou, advinda de suas origens no piano clássico.

Aos 72 anos, o Legrand do 1o. set de ontem, entretanto, não parecia disposto a oferecer mais que uma costura de clichês jazzísticos, mal apoiados nos discretos Sérgio Barrozo (contra-baixo) e Kiko Freitas (bateria).

Até Idriss Boudrioua (sax alto), destaque habitual em qualquer contexto, viu-se "amarrado" a um ou dois choruses que os "arranjos" lhe destinaram. Quando, afinal, ganhou maior espaço, em Dingo Rock - na verdade um funk - o show perigou mudar de dono, ao menos para quem a música era o que realmente importava.

Além daquele, outros temas menos conhecidos integraram o set-list, como Dingo Lament, também da trilha sonora co-assinada por Miles Davis e acertadamente exposto em andamento mais lento; a fraquíssima Ray Blues; e Family Fugue, anunciada como Fuga em Ré menor e que, embora produto da já batida fusão do Jazz com o Barroco, serviu para provar a atração do compositor pelo cromatismo, principal ingrediente em inúmeros de seus sucessos.

E as "cúmplices" ? Vieram, claro, desde a abertura, com Watch What Happens, passando por La Valse des Lilas (com direito até a scat singing); What Are You Doing the Rest of Your Life; Summer of 42 ( L'été 42); terminando com Windmills of Your Mind (Le Moulins de Mon Coeur) no bis; ou seja, simplesmente quatro das baladas mais lindas já feitas até hoje.

Exatamente para elas - e só para elas - vão as duas "orelhas" (@@). O capricho da verdadeira arte é que a obra, por sua grandeza, acaba se independendo do criador. No caso do Legrand de hoje, a música resiste - em ambos os sentidos - ao performer.

Um tanto frustrado e já no carro, fui logo apertando o play e McCoy Tyner - apenas seis anos mais jovem que o colega francês, mas tocando como nunca (v. Tim Festival) - tratou de discorrer majestoso no idioma em que Michel Legrand um dia tão bem se exercitou.

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