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Luiz Orlando Carneiro no JB de hoje, sobre Jorge Guinle

11 março 2004

Como dizem nossos confrades advogados - que se não são a maioria absoluta entre os CJUBianos, têm os melhores argumentos - peço venia ao nosso futuro-membro-satélite, mestre remoto e excelente figura, Luiz Orlando Carneiro, para transcrever aqui sua coluna desta data no JB, sobre figura das mais queridas das hostes jazzófilas deste blog. Aí segue:
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"O jazzófilo Jorginho Guinle

Os amigos jazzófilos de Jorge Guinle - o lendário mestre do savoir vivre, que nos deixou, aos 88 anos, com uma tocante lição de savoir mourir - sempre insistiam com ele para que deixasse registradas em livro as memórias do mais profundo e estável de seus relacionamentos - o casamento de mais de 70 anos com o jazz.

Em 2002, a José Olympio resolveu reeditar o seu Jazz panorama, o primeiro livro didático sobre o assunto em língua portuguesa, publicado em 1953. Fui convidado para escrever a introdução à terceira edição. Mas ponderei que seria mais interessante publicar, como apêndice do livro, uma entrevista com Jorge sobre sua convivência com músicos de jazz.

A entrevista - gravada em dois relaxados encontros, no apartamento em que Jorge estava morando, na Gávea - saiu como um espécie de contraponto ao texto de Jazz panorama, de acordo com original projeto gráfico de Sérgio Liuzzi e Flavio Sendin.

A seguir, alguns highlights (como Jorge teria dito) dessas breves memórias do brasileiro que viveu, com mais intimidade do que qualquer outro, grande parte da história do jazz:

LOC - Como e quando o jazz entrou no seu ouvido, passou pela sua mente e atingiu o seu coração?
JG - Foi em 1928. Eu tinha 12 anos de idade e ouvi um disco de Duke Ellington. Era, eu me lembro, Jubilee stomp. Tem até aquele finalzinho que ainda é uma improvisação coletiva a la Nova Orleans. O disco me impressionou tanto que eu quase entrei em transe. ''Não é possível o que estou ouvindo! Não acredito!''

LOC - Portanto, você ouviu Duke Ellington antes de Louis Armstrong e de Joe ''King'' Oliver...
JG - É verdade! Armstrong logo depois de Ellington. Foi em 1928 que Armstrong gravou West End blues , com o segundo Hot Five e com o pianista Earl Hines. Essa gravação significa para o jazz aquilo que a Mona Lisa significa para a pintura.

LOC - Então, pode-se dizer que lá pelos 15, 16 anos, você já tinha ouvido bastante jazz?
JG - Ah, sim! Em 1934, quando li o livro de Hughes Panassié [Le Jazz Hot], que foi, aliás, editado por um brasileiro, o Alvim Corrêa, vi que, modéstia à parte, eu entendia tanto de jazz quanto ele. Modéstia à parte...

LOC - Pessoalmente, como você conheceu Louis Armstrong?
JG - (...) por intermédio de Bud Freeman. Ele esteve lá em casa, no Rio, com a banda dele. Aquela turma toda: Trummy Young, Arvell Shaw, Edmond Hall... Conversamos muito, e até lhe mostrei um disco, daqueles antigos de dez polegadas, do Bunk Johnson. Give me the record. Pegou o disco e escreveu na etiqueta: ''Bunk had always a beautiful tone''. Assinado: Louis Armstrong. Não foi propriamente uma dedicatória. Ele quis fazer, no selo do disco, um statement, uma declaração.

LOC - Qual foi a primeira vez que você foi aos Estados Unidos para ouvir jazz?
JG - Abril de 1939.

LOC - E o que ficou na sua memória?
JG - Meu primeiro dia de jazz em Nova York. Eu me precipitei para a Rua 52. Estavam por lá um triozinho do Bud Freeman e acho que um quinteto do Pete Brown. Depois, saímos Bud Freman, Pete Brown e eu e fomos para o Café Society, em Downtown. Quem cantava na orquestra era Billie Holiday. A banda era do trompetista Frankie Newton. O pianista da casa era Art Tatum. Além disso, havia três pianistas tocando boogie-woogie - os grandes James P. Johnson, Albert Ammons e Meade Lux Lewis. Imagine! Tudo isso na primeira noite! Billie Holiday cantando Strange fruit! Foi demais!

LOC - E você saiu com a Billie Holiday?
JG - Não, nunca saí, infelizmente. Gostaria muito de ter pelo menos conversado com ela sobre jazz. Ela se sentou à mesa, mas não houve nenhuma conseqüência - jazzística ou de qualquer outro tipo.

LOC - (...) você passou décadas curtindo o chamado jazz clássico e, de repente, passou a botar no toca-discos álbuns de Ornette Coleman, Don Cherry, Eric Dolphy e John Coltrane?
JG - Foi diferente. Eu achei interessantíssimo no começo, mas não era a coisa de que eu mais gostava que botava na vitrola. Eu preferia, honestamente, ouvir um disco do Lester Young a um de Ornette Coleman. Entre um Duke Ellington e um Mingus - que, aliás, tem uma relação muito forte com Ellington - eu preferia o Duke. Mas, depois, logo assimilei o negócio e gostei muito.

Estas são apenas algumas das respostas dadas pelo inesquecível Jorge Guinle a 105 perguntas nessa entrevista que ele me concedeu há dois anos, inserida na última edição de Jazz panorama.

Quem quiser saber os discos que ele teria levado na bagagem, para ouvir em sua derradeira viagem, é só consultar o livro."
Jorginho Guinle e Arlindo Coutinho no tributo que o CJUB lhe prestou, Nov 03

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