Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

BALLADS NO PAREDÃO !

19 março 2004

A razão desse texto deve-se à lista dos 10 (dez) álbuns de jazz escolhidos pelo cejubiano Zé Henrique para acompanhá-lo a uma ilha deserta. Entre os eleitos estão 2 (dois) de um músico conceitualmente pop chamado Donald Fagen - leia-se Steely Dan também. Pergunto: afinal, o que é jazz?
Um instrumentista carimbado como jazzista necessariamente sempre faz um disco de jazz? Definitivamente não. Jazz não é apenas ritmo e melodia. O que mais vale é a intenção, ou melhor, a criatividade para se transformar o óbvio com harmonias anormais e, claro, solos improvisados. Kind Of Blue (59), de Miles Davis, é um exemplo de jazz em sua mais pura concepção. Além de um revolucionário tratamento harmônico, via Bill Evans, John Coltrane brilha com solos agressivamente emocionantes, não muito usuais para a época. Todas as faixas do então LP passam de 9 (nove) minutos em média, tempo suficiente para todos do grupo solarem. Outra dose inequívoca de jazz vem a seguir com os mesmos Miles Davis e John Coltrane em Someday My Prince Will Come(61), moldes idênticos e até, no meu conceito, melhorados. O próprio Coltrane, no mesmo ano, apareceria ao vivo no Village Vanguard ao lado de outras feras, como Eric Dolphy. Uma das faixas, Chasin' The Trane quase chega aos 17 (dezessete) minutos. Um exercício espetacular de improvisação, mola-mestre do jazz.
Chego em São Paulo e no tempo livre, claro, loja de discos importados. Vejo, em destaque, um novo álbum de um dos meus grandes ídolos - até hoje -, John Coltrane. Lacrado, mesmo assim vejo que os temas são standards. E só poderia ser - o disco tinha o título de Ballads. Não se pode abrir disco lacrado. E daí? Coltrane, McCoy, Elvin e Reggie (ou Jimmy Garrison) garantem a mercadoria. Em casa, empolgado, abro o LP. E o primeiro sintoma de dúvida surge: as faixas em média quase 4(quatro) minutos - uma delas com apenas 2:49. Antes de ouvir, adianto duas possibilidades: ou já entram improvisando - e aí me lembro do Bird em Just Friends, Charlie Parker & Strings - ou apenas a mera execução dos temas. E prevaleceu, para meu desespero, a segunda hipótese. Dia seguinte passei o LP prá frente. Foi fácil. Afinal, era um disco novíssimo do Coltrane.
Isto posto, e acho que bem - só se alguém me provar o contrário - se não há improvisos, ou estes são raros; se não há arranjos harmonicamente anormais; não tenho qualquer dúvida que os 2 (dois) álbuns selecionados pelo Zé Henrique e que envolvem Donald Fagen
são jazzisticamente bem mais honestos do que o tão badalado Ballads
do meu ídolo John Coltrane, que o próprio, por imposição da gravadora, estaria se vivo com vergonha do que fez. Ballads não é na essência jazz (ou apenas se tocar os temas como foram compostos é?). Trata-se de um chiclete musical. Na primeira mastigada, perde o gosto. Gostaria que o Coltrane estivesse ainda entre nós para contar a verdadeira história do disco.
PS: Conheci pessoalmente o saxofonista Zoot Sims em 72, Chicago, Rick's American Cafe. E conversamos sobre Coltrane, quando me arrisquei a dizer que tinha detestado o Ballads - em se tratando de Coltrane. E ele sorriu, comentando que entre os músicos - só entre eles - havia uma versão de que a Impulse (Bob Thiele)teria exigido um disco comercial ao Coltrane para compensar o fracasso daquele gravado ao vivo no Village Vanguard, quando ele pediu liberdade para fazer o que bem quisesse. E o próprio Zoot admitiu que entre os músicos o Ballads foi uma verdadeira piada. Será que o cara mentiria só para me agradar? Pouco provável.
PS 2: Confesso que desde que li o blog pela primeira vez e dei com o Ballads na ilha, sinto vontade de expor meu ponto-de-vista sobre o disco. E como percebo que ele vai voltar lá, não pude segurar esse quase desabafo. Em tempo, reconheço que serei contestado. Mas, pode um álbum normal do Coltrane com oito faixas durar somente 32 minutos?

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