Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

OS SOLOS INESQUECÍVEIS

29 fevereiro 2004

Vou logo dizendo que a motivação inicial deste post pouco tem a ver com o jazz, em sentido estrito.

Todo garoto que percebe ter aquele gosto a mais por música e começou ouvindo rock (acho que, à exceção do Raf e Goltinho, todos do CJUB), sentiu-se magnetizado pelos solos, naquele caso provavelmente de guitarra ou bateria. Nossos decanos, a seu turno, também se prenderam, em sua juventude, aos choruses mágicos, só que dos cats do jazz, gênero que, até o fim dos anos 50, foi tão hip quanto - perdôem o trocadilho - o hip-hop é hoje para a nova geração e o rock foi para a nossa.

Na verdade, tudo começa quando você descobre que, além do ritmo, da letra, do convite a dançar, namorar, ou chorar que aquela canção tem, há também aquele solo sensacional que passa a atrair quase tanto quanto as estrofes e o refrão da própria música.

Confesso que foi essa descoberta, aliás, a responsável por ter-me bandeado do rock e do clássico, para o jazz.

Sempre gostei de bateria e dos solos dos ícones do (bom) Metal (Ian Paice, Bonzo) e do Progressivo (Neil Peart, Brufford, Alan White, Carl Palmer).

E passei a prestar atenção, cada vez mais, aos solos de grandes guitarristas do rock (Page, Blackmore, T. Iommi, Beck, Clapton, etc., etc.), até me dar conta que, embora já tivesse decorado as músicas - tantas as audições - sempre descobria algo de novo nos solos.

Quando enjoei de rock, fiquei uns dois anos ouvindo só música clássica. Mas senti saudades de ritmo e, como gostava de bateria e de solos, comprei um disco do Art Blakey (Oh By the Way, Timeless, 1982), porque já me haviam dito que o jazz era a música dos solos e o cara era um bam bam bam do instrumento.

Ouvi uma, duas, três vezes, e não entendi nada: o disco era de um baterista e não tinha um solo sequer de bateria ? Por outro lado, que acompanhamento era aquele, variando e comentando praticamente a todo tempo ? Era como se ele "solasse acompanhando", ou vice-versa, sei lá.

Era demais pra mim, naquele primeiro momento. Depois de alguns meses na prateleira, peguei de novo para ouvir e, aí sim, me de dei conta de que eu me apaixonara pelo swing, pela batida do jazz.

Mais que isso, aquela música tinha tudo que eu queria: o foco na improvisação, temas maravilhosos, ritmo irresistível. Me achei no jazz, aos 18 anos e o resto vocês já sabem, virei, como alguns dos colegas de blog, um feliz compulsivo do estilo.

O post tinha pouco a ver com jazz ? Explico: meu intuito aqui é render uma homenagem aos grandes solos que passaram a praticamente se confundir com as músicas que ilustram. A homenagem, na verdade, dirige-se aos gênios que, muito anônimos, criaram linhas melódicas inesquecíveis, em poucos compassos, que, de tão lindas, a gente memoriza nota por nota e até fica cantarolando.

Por exemplo, quem foi o autor do maravilhoso solo "baba" de "After You've Gone" (Earth, Wind and Fire) ? E quem não lembra do tenor rasgado daquele ruivo hilário do Supertramp, em "My Kind of Lady". Entre nós, o solo em "Superhomem", do Gil, ? lindo, isto para citar um. Aposto que cada um de nós, o CJUB e os leitores, guarda alguns na mente e terá prazer em revelar.

Muitas vezes, monstros da improvisação no jazz não conseguem emplacar um solo simples e emblemático como os citados, o que, claro, não os diminui, mas, ao contrário, engrandece exatamente os desconhecidos.

Verdade, também, que famosos já imprimiram sua marca em improvisações históricas: o que seria de "Stairway to Heaven" sem o solo do Page ? E o Van Halen na dançante "Beat It", de M. Jackson ? Que tal Brandford Marsalis no "Bring on the Night" e no "Nothing Like the Sun", do Sting ? Wayne Shorter impressiona num dos discos ao vivo do Milton, "A Barca dos Amantes", com uma intervenção fabulosa em "Tarde". E por aí vai.

Falo, como vocês viram, dos solos que ficam nas suas cabeças.

Vindo (ou voltando) para o jazz, fica brincadeira !

Vários dos solos do Parker são, nota por nota, praticamente uma música autônoma daquela que os originou. Prova disto é que Jon Henderson apôs letras em alguns.

Os choruses de Coltrane na gravação original de "Giant Steps" ainda não foram superados; acho que sei de cor todos - todos mesmo - os solos de "So What" na versão original do "Kind of Blue" (falando a verdade, bem provável que saiba quase todo o "Kind of Blue" de cor).

Isto sem falar nos improvisadores perfeitos (aqueles, como o Mestre Raf costuma dizer, que nunca fizeram um solo "ruim" ou "fraco") dos quais destaco, de modo absoluto, Milt Jackson, a quem tive o privilégio único de assitir (e pasmar) por três vezes. Lembro também, do concerto de Joe Henderson, quando aqui esteve no Free Jazz: tudo o que ele tocou foi absolutamente relevante, nenhuma nota "a mais" ou "a menos".

E, além dos solos propriamente ditos, incluo na homenagem, as famosas introduções criadas por solistas, que, não pertencendo à melodia original, passaram, a partir de seus criadores, a integrar as canções, nas sucessivas versões que outros músicos lhes emprestaram. Caso, p.e., das clássicas aberturas de "All the Things You Are", por Parker, e "Autumn Leaves", do disco "Somethin' Else" (Cannonball/Miles Davis).

Enfim, aos anônimos e famosos, que fizeram história com solos apaixonantes e tão importantes quanto as próprias canções, meu tributo.

E fica o convite aos amigos: quais são os solos que a memória de vocês eternizou ?

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