Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

31 dezembro 2004


A TODOS, UM ESFUZIANTE ANO NOVO, LOTADO DE "RIFFS", "CHOPS" E "STRIDES", SEM NENHUMA "BLUE NOTE". "KEEP SWINGIN´"!
©CJUB

FECHANDO O ANO MUITO BEM:
NOSSO MESTRE REMOTO E SEUS ARTIGOS INESQUECÍVEIS

30 dezembro 2004

Aqui vai, devidamente copiada do Jornal do Brasil de hoje, o último artigo do ano de 2004 do nosso Grão-Mestre-Remoto, o querido e enciclopédico Luiz Orlando Carneiro, que nos presenteou com uma colunaça digna de se baixar as portas desse período tão interessante em termos jazzísticos, como o ano em vias de acabar e não fazer mais nada. Quem não leu no JB pode recolher aqui os bons fluidos que seus escritos emanam para as cabeças interessadas no jazz. Uma verdadeira aula, que atingiu em cheio a este mural com seu curioso título que, se não for coincidência, muito nos alegrou. Vide a coluna fixa da esquerda deste blog... que aliás, está em fase de votação para expressar, o quanto antes os novos 10 discos que, por votação dos editores, seriam indispensáveis para uma ilha deserta. Aliás, em tempos como os de hoje, talvez fosse mais sensato levá-los para uma caverna no alto de uma montanha. Aproveitem a aula:

"Primorosos discos para a ilha deserta dos jazzófilos"

"O ano não poderia terminar, nesta coluna, sem uma alusão ao 50º aniversário da gravação de dois discos indispensáveis à sobrevivência de jazzófilos em uma ilha deserta. Miles Davis & The modern jazz giants (Prestige 7150), o primeiro grande ''pronunciamento'' do legendário trompetista, registrado por Rudy Van Gelder no seu estúdio de Nova Jersey, na véspera do Natal de 1954; e Horace Silver and the Jazz Messengers (Blue Note 461420), gravado 11 dias antes, também por Van Gelder, e que é a certidão de nascimento do célebre conjunto-universidade do qual o baterista Art Blakey foi reitor por mais de 35 anos.

The man I love (dois takes de cerca de oito minutos cada), Swing spring e Bemsha Swing, gravados na tarde de 24/12/54, são momentos supremos da história do jazz. Miles demonstrava, afinal, ter dominado por completo a técnica e o som que dele fariam, logo depois, o "príncipe do jazz", à frente do quinteto com John Coltrane, do sexteto de Kind of Blue (1958), e como solista das peças orquestrais para ele escritas por Gil Evans, entre 1957 e 59 (Miles Ahead, Porgy and Bess e Sketches of Spain).

A sessão do Natal de 54 ficou também célebre pela suposta troca de socos entre Miles e Thelonious Monk - donos de temperamentos nada ortodoxos, de concepções musicais diferentes e que tocavam juntos pela primeira (e única) vez. Miles desmente em sua autobiografia a luta corporal com Monk - que sempre viveu num mundo tão à parte como a sua música assimétrica e politonal, tida na época como "extravagante". Os outros "gigantes" eram Milt Jackson (vibrafone), Percy Heath (baixo) e Kenny Clarke (bateria).

Sobre a "briga" com Monk, Miles conta o seguinte: "Apenas mandei que ele ficasse de fora, que não me acompanhasse, a não ser em Bemsha Swing, composição dele. É que Monk jamais soube acompanhar um trompetista (os únicos instrumentistas de sopro que teve e tocavam bem com ele foram John Coltrane, Sonny Rollins e Charlie Rouse). O trompetista precisa de uma seção rítmica quente, mesmo quando toca uma balada. Mandei que ele ficasse de fora enquanto eu solava, porque não me sentia à vontade com suas passagens. Eu queria ouvir a seção rítmica passear, sem ouvir o som do piano. Queria ouvir o espaço na música". Miles acrescenta: "Fizemos grande música nesse dia, e o disco se tornou um clássico (...). Mas foi em Modern jazz giants que comecei a compreender como criar espaço deixando o piano de fora...".

O que o egocêntrico trompetista não disse (nem reparou) é que Monk, ao inserir de maneira esparsa as quatro notas básicas de The man I love, em tonalidades inesperadas, e nos breves clusters finais do segundo take, criava um clima mágico entre espaços silenciosos e compassos ricos em termos rítmico-melódicos. Os solos de Milt Jackson, ao dobrar o tempo nos dois takes, são primorosos. Martin Williams escreveu sobre os takes de The man I love na contracapa da reedição de 1969: "Quaisquer das belas e brilhantes abstrações de Miles Davis desse tema devem ficar entre suas melhores e mais pessoais paráfrases melódicas, ou seja, entre as melhores da história do jazz".

O primeiro registro fonográfico relevante do hard bop foi feito no Birdland, Nova York, em fevereiro de 1954 pelo quinteto formado por Art Blakey, Horace Silver, Clifford Brown, Lou Donaldson (sax alto) e Curley Russell (baixo). Os dois LPs de 10 polegadas A night at Birdland (Blue Note) anunciam o surgimento dos Jazz Messengers.

Dez meses depois, Blakey e Silver reuniram-se com Kenny Dorham (trompete), Hank Mobley (sax tenor) e Doug Watkins (baixo) para gravar quatro peças típicas do bop bem soul do pianista-compositor: Doodlin', Room 608, Creepin' in e Stop time. A sessão de 13/12/54 foi completada em 5 de fevereiro de 1955 com mais três temas de Silver (The preacher, To whom it may concern, Hippy) e outro de Mobley (Hankerin'). O LP histórico foi editado em 12 polegadas como Horace Silver and The Jazz Messengers, juntando os discos de 10 polegadas.

Na verdade, o título The Jazz Messengers já era usado por Blakey. Mas o primeiro álbum do conjunto que atravessaria quatro décadas, com o nome do baterista como líder, é de novembro de 1955: The Jazz Messengers at the Cafe Bohemia, Vol. 1. A formação era a mesma de dezembro de 1954, mas Silver passara a ser sideman de Blakey. Horace Silver formaria o seu primeiro quinteto estável em 1958, com Blue Mitchell (trompete), Junior Cook (sax tenor), Louis Hayes (bateria) e Gene Taylor (baixo). Foi o também icônico conjunto que gravou, para a Blue Note, Finger poppin' (janeiro de 1959) e Blowin' the blues away (em setembro)."

Assim disse nosso Mestre e assim eu copiei. Obrigado!

Feliz 2005, com muito jazz para todos!

FELIZ NATAL A TODOS!!!

24 dezembro 2004

O CJUB deseja a todos os seus membros, amigos e leitores em geral um Feliz Natal, repleto de boas notícias e muitos presentes, claro que de preferência na forma de discos, vídeos, DVDs e livros, fotos e cartazes obviamente sobre jazz e seus personagens. No mínimo, que todos consigam "aqueles" tão perseguidos downloads de valiosos mp3s há tanto tempo almejados.

Saúde e muitas felicidades!

HÉLIO DELMIRO - COMPASSOS - @@@,5

23 dezembro 2004

O guitarrista Hélio Delmiro lançou seu último CD, Compassos, depois de um razoavel tempo fora dos holofotes - por inúmeros problemas pessoais, Delmiro chegou a passar algum tempo em privação de liberdade, o que acabou dando margem em certo momento, inclusive, a um bonito movimento de seus pares para arrecadar valor que pudesse devolvê-lo à circulação e onde parece, Lulu Santos teria tido um papel muito nobre e mesmo decisivo - e o fez de uma forma soberba.

Não tendo em mim até agora um de seus maiores entusiastas, já à primeira audição de Compassos comecei a rever meus conceitos.

HD abre o CD, no qual assina cinco dos doze temas, majoritariamente voltado para interpretações intimistas, com My Favorite Things, clássico de Rodgers e Hammerstein, com uma tocada muito elegante, onde tangencia-se mui suavemente a bossa-nova na abertura e no solo de Bruno Cardozo nos teclados, quando este se utiliza de divisões muito criativas. Delmiro retorna então com timbre sofisticado, arredondando com sua perfeita escolha de notas a esse tema já muito batido, mas que se renova em suas mãos.

Segue-se então a elegante "Alabastro", de sua autoria, em uma ótima demonstração de como se apresentar com maestria jazzística a um tema totalmente brasileiro. Novamente aqui Cardozo aparece em belo diálogo com Delmiro, presente ao fundo a atuação segura de Jurim Moreira. A se notar, a ausência, na mixagem, do contrabaixo acústico de Jorge Helder, apenas intuído.

Em seguida, a rendição de Hélio Delmiro de Witchcraft, de Leigh e Coleman, é uma das mais elegantes interpretações dessa balada que já tive a oportunidade de ouvir, com a citação explícita de Garota de Ipanema remetendo mais uma vez aos bons tempos e climas da bossa-nova, e suas oitavas "westmontgomerianas" dando ao todo uma sofisticação digna de nota.

Ponteio, de Edu Lobo e Capinam vem em seguida e interfere no clima até ali contido do CD, permitindo a Cardozo, Hélder - finalmente bem audível - e a Jurim demonstrarem suas qualidades.

Em outra de suas composições, Esperando, Delmiro demonstra sua total maturidade artística. Embora eu ache questionável a utilização do "pitch bend" no teclado ao longo de toda a boa intervenção de Cardozo, o tema não destoa do clima pretendido.

Já em Espada de Fogo, também do líder, HD mostra que mesmo em andamentos mais rápidos consegue manter intactos seu lirismo e sua levada impecavelmente limpa, sem ruídos estranhos a afugentar os aficionados por sua arte. Infelizmente aqui se repete o fenômeno da abdução do baixo, pontificando ainda o bom ritmo imposto por Jurim Moreira ao grupo.

Uma Round Midnight "comme il faut" é a sétima faixa. Clássica, elegante e românticamente executada, e pronto, o recado está dado.

Segue-se então a faixa TP, provavelmente (e aqui peço o auxílio dos confrades e demais leitores) composta por Delmiro para o jovem e já então incrivelmente promissor Heitor Teixeira Pereira, hoje consagrado por seus anos de participação no conjunto pop Simply Red - onde, a despeito do prestígio jamais conseguiu, a meu ver, demonstrar totalmente sua grande arte - e uma bela carreira de instrumentista em Los Angeles. Jorge Hélder pontua ali com um baixo elétrico, perfeitamente audível nesse tema mais para o fusion, genero que pontificava na noite "jazzística" do Rio então, e HD aparece solto e criativo, com swing invejável, utilizando todos os tricks"de seu vasto arcabouço.

Na faixa seguinte, O Morro Não Tem Vez, de Jobim/Vinícius de Moraes, Delmiro usa com belo efeito a técnica de ferir duas cordas para uma mesma nota, sendo uma delas milimetricamente destoada da sua parceira, criando uma sensação mágica. A levada, próxima ao samba, contrapõe HD, Jurim e Cardozo. O desperdiçado craque Jorge Hélder, infelizmente, resta imperceptível ainda nesta faixa.

Itapê, de Cardozo, é outro tema intimista de bom desenvolvimento pelo tecladista, complementado sem maiores surpresas por Delmiro.

Compassos, de Delmiro, penúltima faixa do CD, não foge ao clima geral e apresenta o líder em plena forma, alternando os solos entre notas únicas e acordes, sempre criativo na execução.

Fechando o disco, Hélio Delmiro entoa bastante razoavelmente Ilusão À Toa, em um tributo ao gradecíssimo mas muito pouco reconhecido expoente da boa música produzida no Brasil, o craque Johnny Alf.

Para quem não amava Delmiro, encontrá-lo em tão boa forma nesse seu Compassos, foi uma bela surpresa, à qual classifico com @@@ e meia.

A BATALHA ENTRE KRUPA E RICH NO JATP

19 dezembro 2004

Aqui está uma peça que buscava há tempos, a famosa batalha de baterias entre Gene Krupa e Buddy Rich, no JATP. Conforme mostrado num documentário exibido recentemente no Canal GNT, que me deixou ávido para encontrar e ouvir esse famoso encontro - quando a imensa legião de admiradores de Rich declarou-o vencedor, fato controverso, como poderão constatar -, a pancadaria é vigorosa e altamente inflamável. Os urros e assovios da platéia ensandecida por antecipação, pela perspectiva de presenciar algo memorável, como de fato foi, permeiam toda a faixa. Aumentem o volume ao máximo e sintam a eletricidade transmitida pelos dois monstros das baquetas.

(Este post é dedicado a todos os bateristas brasileiros interessados pelo jazz como forma de arte).

Enjoy!!!

PRIMEIRÍSSIMA MÃO: ROY HARGROVE NO RIO EM JANEIRO

17 dezembro 2004

Esta ninguém sabe ainda: o trompetista Roy Hargrove e seu conjunto se apresentarão no Mistura Fina dia 20 de janeiro, com possibilidade de dobrarem dia 21.

Uma ótima pedida para os jazzófilos ouvirem jazz de verdade.

Esta será a segunda vez que Hargrove tocará entre nós. A primeira foi no Free Jazz Festival de 1995, lembram ?

Enjoy everybody,
Raf

O FENOMENAL - E QUASE DESCONHECIDO -
JOVEM SAXOFONISTA FRANCESCO CAFISO

13 dezembro 2004

Está aqui, no final do post, um raro vídeo do jovem fenômeno italiano Francesco Cafiso, tocando com Wynton Marsalis em Lucca, na Itália. A gravação, embora esteja no site oficial de Cafiso, parece ter sido feita de algum lugar da coxia, pois a tomada é lateral e pouco privilegia os movimentos das mãos de ambos os solistas. Deve ter sido feita por algum familiar do garoto.

Independente disso, o som é bom e pode-se ouvir o imenso talento do pequeno saxofonista que destemidamente enfia um solo de cerca de 3 minutos, dando tudo de si e sendo saudado efusivamente por aplausos - não fosse a platéia majoritariamente italiana - por mais de uma vez.

Se continuar com essa garra e mantiver seus estudos, o que deve estar negociando com Marsalis, que é hoje uma grande personalidade não apenas musical mas diretamente voltada para o ensino, a divulgação e o reconhecimento do jazz como matéria a ser incluída no currículo básico das escolas americanas, esse pequeno prodígio ainda nos trará inúmeras alegrias.

Baixem o vídeo daqui.

FREVO-JAZZ, JAZZFREVO, FREJAZZ OU JAZZFRE?

10 dezembro 2004

Quem teve a chance de ver o Bom Dia Brasil de hoje, na TVGlobo, sabe do que se trata. Quem não viu, explico: é uma big-band de Recife, claro, que vem interpretando os frevos mais famosos dos principais compositores pernambucanos com um algo mais: o espaço para que cada solista tenha espaço para a livre improvisação e expresse suas arte e técnica dentro do enquadramento melódico principal, o que dá um clima totalmente jazzístico às apresentações.

O resultado geral é muito interessante, principalmente pelos andamentos em velocidade assombrosa, característica do frevo. Os músicos - e foram retratados no curto segmento jornalístico pelo menos três bons solos - tem de estar muito bem preparados tanto física como mentalmente, para atuarem sem falhas em suas "janelas".

O maestro, dublê de saxofonista-tenor, informou que a banda vem recebendo convites para tocar pelo Brasil afora e que já tocou algumas vezes no exterior, sempre com sucesso.

A experiência é positiva e dá a exata compreensão de como o jazz, mesmo sendo uma forma de arte americana, permeia e influencia inúmeros outros tipos de música de todo o mundo há mais de noventa anos, sendo antes de tudo um modo de tocar, no qual cada improvisador está desempenhando ali seu papel de compositor-instantâneo.

O jazz, definitivamente, não conhece barreiras.

Para ler a matéria original, clique aqui.

DIANA KRALL BRILHA EM NOVO DVD
RECOMENDADA PELO GRANDE OSCAR PETERSON

07 dezembro 2004

(transcrição; tradução livre)
por Angela Pacienza, Canadian Press
7 de Dezembro de 2004

TORONTO - Quando Diana Krall tinha 16 anos, sua mãe lhe fez uma jaqueta de cetim azul para que a aspirante a pianista usasse num concerto de seu ídolo, Oscar Peterson.
Anos depois, foi Peterson quem a cumprimentou quando Diana lançou seu último DVD, "Diana Krall: Live at the Montreal Jazz Festival". A lenda do piano surpreendeu Krall escrevendo uma dedicatória para as "liner notes" da caixa do DVD. Ali, ele escreveu: "Adoro o calor de Diana, tanto como cantora quanto pianista, mas também adoro a verdade inegável de sua percepção jazzística na medida em que usa esses talentos para encantar seus ouvintes".
O vídeo foi filmado na noite de abertura do 25º aniversário do festival, no verão passado, diante de uma lotação - esgotada com meses de antecedência - de 15 mil pessoas. É seu segundo DVD, após o muito vendido "Live In Paris".
Com seu foco intenso, Krall está bem adaptada ao formato. Desta vez, sem a orquestra que a acompanhava no Live In Paris, o espectador tem mais tempo para fixar-se em sua destreza musical, da faixa inicial, a instrumental "Sometimes I Just Freak Out" até os momentos suaves da última sua interpretação, em "Departure Bay". As músicas foram tiradas, em sua maioria, do seu último disco "The Girl in the Other Room", em colaboração com o marido Elvis Costello.
"Senti uma boa vibração," lembra-se Krall, em recente entrevista dada numa parada de sua turnê pela Alemanha. "É um festival de jazz, e isso é que foi o mais importante para mim. Olhar para o chão e ver escrito Montreal Jazz Festival. Isso me deu permissão para tocar e não me preocupar com mais nada. Ela [a vibração] vinha de todos os lugares em volta, ali mesmo onde eu tinha começado".
A cantora, natural de Nanaimo, na Columbia Britanica, tem uma longa história relacionada com seu primeiro evento. Foi lá que ela começou a cantar as canções de Nat King Cole que lhe renderam a inspiração para o seu disco indicado ao Grammy, "All For You". Diana debutou no festival de 1995, num minúsculo teatro de comédias com apenas 150 pessoas. Acelerando para 2004, Krall recebeu 15.000 fiéis entalados numa arena de "hockey". "Fiquei abismada com aquilo tudo. Foi muito legal", ela disse.
Krall, aos 40, nota que ficou totalmente embevecida que alguém da estatura de Peterson a tivesse endossado publicamente. "No início, fiquei chocada quando soube. Mas depois fiquei tão feliz quando li suas palavras", desabafou Krall.
Ela usou isso como uma desculpa para telefonar para Peterson, tendo ligado umas nove vezes e desligado em seguida. "Finalmente ganhei coragem de discar e falar-lhe por um bom tempo, sobre (o compositor) Duke Ellington e (o baixista) Ray Brown. Foi simplesmente extraordinário." E fez questão de dizer-lhe como ele havia mudado sua vida quando, ainda adolescente, ela pôde ver sua performance com Ella Fitzgerald no Vancouver Orpheum.
"Legal que ele esteja apoiando artistas," disse do pianista de 79 anos nascido em Montreal. "Há gente assim de quem ainda podemos aprender. Sou sua discípula eterna, assim como minha banda".
Com seu material original, "The Girl in the Other Room" talvez tenha livrado Krall finalmente do estigma de "rosto bonito com boa voz" que tanto atrapalha sua carreira. Ela parece concordar. Lembra-se de uma recente resenha sobre um concerto seu, no qual o crítico parecia ter-se surpreendido favoravelmente com Diana, ao declarar "nós sempre achamos que [suas interpretações] eram algum tipo de embuste".
Ela disse: Caramba, demorou todo esse tempo? O que será que eles achavam que eu estava fazendo? E o pior é que eu mesma nunca imaginei que as pessoas estivessem pensando assim. Eu não estava tentando provar nada. Eu sei o que estou fazendo e apenas quero fazer as pessoas sentirem alguma coisa."
Diana Krall vai continuar seu tour até maio, com uma pequena pausa no Natal. Depois disso disse ter um par de idéias na manga. "Sinto que posso fazer o que quiser e que o mundo está aberto para mim. Não me sinto presa numa caixa", disse. No momento, está usando seu tempo vago estudando seus favoritos. E diz que seu IPod está abarrotado com as gravações, pela gravadora Capital, do trio de Nat King Cole.
"Voltei a ser uma louca pelo, e do jazz", termina com uma gargalhada.

- TRIUNFAL APRESENTAÇÃO DO VICTOR BIGLIONE ORGAN TRIO NO XVII CONCERTO DO PROJETO CHIVAS JAZZ LOUNGE -

01 dezembro 2004

Noite do Harlem na Lagoa carioca. É isso mesmo. Aconteceu no concerto do Victor Biglione Organ Trio no Mistura Fina, quinta-feira, dia 25 de novembro, com a inédita formação guitarra-órgão-bateria em apresentações de músicos brasileiros de jazz no Rio de Janeiro. Os conjuntos com essa instrumentação eram muito populares nos Estados Unidos nos anos 50, 60 e 70. Eram liderados por Milt Buckner, Wild Bill Davis, Jimmy Smith, Bill Doggett, Jackie Davis, Shirley Scott, Charles Earland, Jack McDuff, Jimmy McGriff, Johnny “Hammond” Smith e outros luminares do órgão. E por quê noite do Harlem ? Porque esses conjuntos apresentavam-se com enorme sucesso nos clubes enfumaçados do Harlem, entre eles o Slugs, Prelude, Smoke e Count Basie’s.

A idéia de apresentar essa formação nasceu de um sonho do produtor David Benechis, carinhosamente chamado de Bene-X, um dos cabeças coroadas do CJUB. Quando David arregaçou as mangas colocando mãos à obra (e quando se decide, nada o detém), saiu em busca de um órgão Hammond em inúmeros locais do Rio e adjacências. Finalmente encontrou um de propriedade do colecionador Fabio Fonseca, de Itaipava, que se dispôs a cedê-lo. David desejava apresentar o guitarrista Victor Biglione com o organista José Lourenço e o baterista André Tandeta, que atuam juntos há muito tempo - embora em contextos diferentes -, para ilustrar a trajetória da guitarra moderna no jazz. Acertados os detalhes, David e os músicos selecionaram o repertório após avaliarem inúmeras composições, pesando detidamente as possibilidades de cada uma dentro do contexto a que se propunham.

O sucesso da noite ultrapassou a expectativa mais otimista. Para quem nunca ouvira Biglione tocar jazz, foi uma revelação. Virtuoso do seu instrumento, ele toca qualquer frase que imagine em andamentos supersônicos ou nas baladas, inserindo nestas graciosas variações, passagens harmonicamente complexas ou arpejos judiciosamente colocados. Os acordes que insere embelezando algumas canções, aliados às frases melodicamente evocativas e sedutoras, resultam numa experiência enriquecedora proveniente de uma fonte fértil de idéias e inspiração. Em uma única frase, Biglione faz o difícil parecer fácil.

Lourenço deu seu toque pessoal ao grupo, ensejando ao público apreciar as variadas sonoridades do órgão, instrumento que a grande maioria raramente ouve. Ele é um dínamo de contagiante entusiasmo, balançando exaustivamente a cabeça e o corpo, como se fossem partes integrantes da sua execução. Seus movimentos com a cabeça lembram exatamente os do saudoso Ray Charles. Seus prolongados acordes geram momentos excitantes (seu solo em “Au Privave” foi absolutamente negróide, com balanço efervescente que a platéia acompanhou com assumida excitação), além dos acompanhamentos integrados aos solos de Biglione, especialmente nas baladas, complementando as frases do líder com bom gosto.

O correto André Tandeta foi o complemento ideal para essa formação. Com um equipamento de apenas dois pratos, além do hi-hat e três caixas (ou tambores, se preferirem), extrai mais sons e ritmos que os pseudo-bateristas que se escondem por trás de uma infinidade de tambores, penduricalhos e apetrechos extra-musicais, arvorando-se em virtuosos através de extensos solos cansativos, barulhentos e de total mau gosto. Tandeta conhece o segredo de quando deve e quando não deve acentuar seus movimentos, especialmente por trás de um guitarrista e um organista, que nos momentos de rara delicadeza exigem um baterista que saiba discernir a hora precisa de complementar, evitando embaralhar ou embolar o som coletivo. Em solo ou nas febris trocas de quatro compassos, suas oportunas intervenções colocaram muita lenha na fogueira.

Biglione possui ótima presença de palco, expressando-me com simpatia e genuína dose de humor. Algumas das suas tiradas provocaram boas gargalhadas. Falando em gargalhadas, o sempre alegre e irreverente cejubiano José Sá, nosso querido Sazz ou Sazinho, sacou a maior tirada da noite. Sempre ligado no que acontece, não perde uma chance para um comentário jocoso em cima do laço. Sazz não perdeu a vez, arrancando gargalhadas homéricas ao comentar o fato de Biglione estranhar que seu microfone tivesse dois dispositivos para ligar e desligar o som. Irônico e sempre ligado, seu comentário incisivo e hilariante sobre o microfone fez muita gente rir sem poder parar, como foi o meu caso e de Coutinho, nosso Goltinho, outro cejubiano de boa cepa que acende e aumenta a chama do entusiasmo. Lamentavelmente, o oportuníssimo e pra lá de jocoso comentário de Sazz é impublicável, mas ficará para sempre no anedotário do CJUB.

A noite ofereceu outra surpresa que pegou muita gente desprevenida, inclusive eu. Foi a justa e merecida homenagem a Luiz Carlos Antunes, batalhador incansável pela divulgação do jazz como produtor e apresentador do programa “O Assunto É Jazz”, que esteve no ar durante três décadas na Rádio Fluminense-FM. Infelizmente, fui apanhado de surpresa, tomando conhecimento da homenagem na hora do concerto. Caso soubesse com antecedência, teria providenciado o prefixo do seu programa para tocar quando ele subisse ao palco.

E a música, como foi ? Foi fulminante, um verdadeiro tratamento de choque sonoro que arrebatou a platéia. Todavia, por haverem solicitado esta resenha após o concerto iniciado, não fiz as anotações de praxe, razão pela qual reservo-me a alguns comentários esparsos.

Como em todo repertório de jazz, não faltaram os blues básicos (e que blues!), que sempre chamei de "alma e coração do jazz". “Bags Groove”, de Milt Jackson, “The Tokyo Blues”, de Horace Silver, “Au Privave”, de Charlie Parker, três músicos geniais que ilustram a diversificação tonal, melódica e rítmica de um idioma aparentemente simples de 12 compassos, além de “Cape Verdean Blues”, outra obra de Silver.

Desfilaram ainda “Seven Come Eleven” (velho opus de Charlie Christian e Benny Goodman sobre as harmonias de “I Got Rhythm”), o soul-church-bluesy “Work Song” (de Nat Adderley), o medley unindo “Batida Diferente” e “Estamos Aí” (clássicos da bossa nova de Maurício Einhorn e Durval Ferreira), as conhecidas “All the Things You Are” (com a introdução clássica de Charlie Parker) e “My Favorite Things”. Também a registrar o medley com os clássicos "What Are You Doing the Rest of Your Life", de Michel Legrand, e "The Shadow of Your Smile", de Johnny Mandel.
Merece especial menção a sensível interpretação de Biglione em “The Gentle Rain”, que, em minha opinião, foi uma obra-prima. Gostaria de ouvir a gravação para confirmar esta impressão. O trio encerrou o concerto com uma versão mais que supersônica de “Baby Elephant Walk”, de Henry Mancini, deixando todos pedindo mais.
Sem dúvida foi um dos mais bem-sucedidos concertos da vitoriosa série Chivas Jazz Lounge.

AGRADECIMENTO

Após 2 anos de convivência no CJUB, conhecí pessoas interessantes e pude aprender muita coisa referente ao jazz.
Porém, os inúmeros compromissos profissionais e pessoais, além do meu horário de trabalho, que é sempre ao contrário de todos os outros companheiros, me impedem de continuar neste projeto.
Quero agradecer imensamente a todos, com quem aprendí muitas coisas, e desejo que todas as propostas do CJUB
se tornem realidade.
Quero, também, dizer que continuarei a disposição para ajudar no que for possivel.
Deixo aqui o meu abraço e um pouco adiantado, desejo um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de alegria e muita paz.

JHF

TIM FESTIVAL, 7/11/2004, SÃO PAULO

30 novembro 2004

DAVE HOLLAND BIG BAND @@@@

Billy Kilson foi a estrela (e a "orelhinha", consequentemente) faltante na constelação que formou o combo de Dave Holland (baixo), desde 2002 exitoso em todos os círculos jazzísticos (mídia, festivais, polls) e agora prestes a lançar album novo, algo antecipado na abertura da terceira e última noite do TIM Festival 2004.

Não que Nate Smith (bateria) tenha decepcionado, muito ao revés: formou uma rhythm-section abençoada ao lado do líder e do avançadíssimo vibrafonista Steve Nelson, ancorando as estantes de metais, brilhantes, por igual, individual e coletivamente.

O "problema" é que não há baterista, hoje, ao menos entre os das gerações mais novas, tão importante para o Jazz quanto Kilson, cuja inimitável polirritmia e inventividade, derivada dos estilos de Roy Haines e, principalmente, Jack DeJohnette, aflora, como em nenhum outro conjunto, nas bandas de Dave Holland.

Do premiadíssimo disco "What Goes Around" (2002, ECM), o baixista pinçou, para abrir o set, as duas primeiras faixas, Triple Dance e Blues For C.M. (C.M. = Charles Mingus), ficando claro que sua big band orienta-se pelo alfabeto Ellingtoniano, não na forma ou arranjos, claro, mas na constante intenção de dirigir os temas para a livre expressão e destaque de um ou determinados solistas.

Perfeito exemplo disto foi Mental Images, originalíssima composição de Kevin Eubanks (trombone), que, não à toa, o teve featured em primeiro plano, ao lado do irmão, Dwaine Eubanks (trompete), pupilo talentoso e fiel, no timbre e fraseado, de Freddie Hubbard.

A também inédita A Rio, dedicada à rival pobre - mas ainda (e sempre) maravilhosa - da capital paulista, cativou pelo desdobramento hipnótico de suas harmonias, compensando a evidente fragilidade da melodia inicial.

Fechou o set a title-track do CD de 2002, deslanchada por uma introdução arrepiante - e "impossível" - no baixo, levando a riffs puxados por Chris Potter (sax tenor) e Kevin Eubanks, logo seguidos dos demais metais.

Dave Holland é, todo o tempo - e a um só tempo - totalmente harmônico e totalmente melódico, em igual medida, o que parece realmente desafiador mesmo para os mais virtuosos de seus colegas baixistas. Parece não haver limite para a diversidade (e beleza) das linhas de condução que emanam de seu instrumento, e do qual dependem, de modo visceral, todo o coletivo.

De outra parte, só mesmo um combo fora-de-série pode se dar ao luxo de escorar-se nas harmonias imprevisíveis de Steve Nelson, distante, muito distante, do mainstream que domina, por décadas, o vibra-harp, inobstante os avanços nele operados pelos gênios de Milt Jackson, Bobby Hutcherson e Gary Burton.

Last Minute Man, merecido encore, demarcou, de vez, a linha que separa a seção rítimica, de um lado, dos metais, de outro, como que duas units em constante desafio mútuo, que resulta em maravilhoso contraponto e inesquecível sinergia. Brilharam, aqui, de novo os irmãos Eubanks, o trompete de Alex Sipiagin e o sax alto de Jaleel Shaw, mágica revelação, cujo "cartão de visitas" já recebêramos um dia antes, na jam promovida por B. Marsalis.

Só faltou mesmo Billy Kilson para a perfeição.



BIRÉLI LAGRÈNE GIPSY PROJECT @@@@1/2

Empunhando sua semi-acústica "cigana" (cordas de aço), quem chamaria para um duelo Biréli Lagrène ? Penso que nem Django Reinhardt, seu mentor e moto perpétuo de inspiração, a tanto se aventuraria.

O guitarrista, polivalente na discografia, encontra evidente conforto neste tipo de formação - guitarra solo (Lagréne), contra-baixo (Diego Imbert), guitarra rítmica (Hono Winterstein) e sax soprano e tenor (Franck Wolf) - aparentemente "simples", mas ontológica e antologicamente jazzística.

Atacando temas clássicos de Django, antigos standards como This Can´t Be Love e Cherokee, bem como originais, inclusive Parkerianos, Lagrène contagiou o Festival com o mais intenso, pulsante, extrovertido e sincero jazz que naquele palco se viu ao longo dos três dias do evento.

Enfim, puríssimo jazz "na veia", não só pela desenvoltura do líder e sua técnica olímpica, mas em grande parte pela descoberta do sensacional saxofonista Franck Wolf, de cujo cadinho de influências extraiu um impensável blend dos estilos de Benny Goodman, Sidney Bechet e Pee Wee Russel. Isto no soprano, principalmente, mas, acreditem, também no tenor, onde, aí, também Lester Young fez-se presente, solene, mas sem jamais perder a alegria que determina a música deste conjunto.

O concerto, impulsionando o lançamento do CD "Move" (2005, Dreyfus), trouxe um tufão de emoções para verdadeiros jazzófilos e, valeria, ele só, por um festival inteiro.


ART VAN DAMME QUINTET @@1/2

Lenda viva do Jazz, Art Van Damme, embora fragilizado em razão da idade, conseguiu realizar um concerto digno de sua história e importância, à frente de seu correto quinteto, cuja formação, com a substituição do piano pelo acordeón do líder, é a mesma dos clássicos conjuntos de George Shearing (vibrafone, guitarra, baixo e bateria).

Composto basicamente de standards e originais "standardizados", o set list promoveu um passeio pela sólida carreira de Van Damme e seus encontros com alguns dos maiores nomes do gênero, refletidos na originalidade dos improvisos que o virtuoso ainda consegue, com grande categoria, enfileirar, provando a majestade que nunca dele se retirará na evolução do instrumento e, de resto, do próprio Jazz, notadamente na incorporação de novos timbres e sonoridades para o gênero.

Um fecho emblemático para o Festival, que primou pelo acerto na escolha de um cast, no geral, de altíssimo nível artístico, avaliação válida, claro, exclusivamente para o palco Club, com a devida licença das demais "tendas" e suas respectivas "tribos".

BILLY ECKSTINE (1914 / 1993 )

29 novembro 2004

Mais um vinil, lançado pela Sigla em 1979, o disco chamado "Momento Brasileiro", gravado há 25 anos entre o Rio de Janeiro e Hollywood, com arranjos e orquestração do Oscar Castro Neves, traz Billy Eckstine em grande forma, cantando com elegância e sofisticação, um surpreendente repertório, começando com Cidade Maravilhosa (de fato ela ainda o é), em uma levada jazzística e num ritmo mais lento que o tradicional; em resumo, uma interpretação emocionante e pouco conhecida.

Seguem-se, neste repertório verde/amarelo, Corcovado, Dindi, Dora, Vivo Sonhando, Você e Eu e finalmente Insensatez; ou seja, a fina flor de nosso cancioneiro, aliás objeto de gravações de outros intérpretes, como Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan, ambas, no entanto, contando com maior divulgação e inclusive relançamentos em CD, o que, infelizmente, não aconteceu com esse trabalho de Billy Eckstine, a meu ver o melhor discípulo do maior de todos, Johnny Hartman.

NIVALDO ORNELAS e KIKO CONTINENTINO no TRAITEURS DE FRANCE

Nesta quinta-feira, 2 de dezembro, o excelente saxofonista NIVALDO ORNELAS se apresentará em DUO com KIKO CONTINETINO, pianista e arranjador de Milton Nascimento, no bistrot TRAITEURS DE FRANCE , na Gávea.
Estes dois músicos se apresentaram num dos mais concorridos concertos produzidos pelo CJUB, num tributo a
John Coltrane.
O bistrot fica na Rua Mq. de São Vicente n. 86 ( a 100m do Shopping da Gávea) tel: 22590408 , as 21:00 h.

É isso aí...

69 th DOWNBEAT READERS POLL 2004

26 novembro 2004

Doa a quem doer transcrevo abaixo a votação dos leitores da "DB", indicando os 3 primeiros por categoria e o correspondente número de votos, a saber:

Jazz Artist - 1) Dave Holland (301); 2) Dave Douglas (168) e 3) Joe Lovano (164)
Jazz Album - 1) Dave Holland "Extended Play" (276); 2) Dave Douglas "Strange Liberation" (158) e 3) Keith Jarrett "Up For It" (83)
Acoustic Bass - 1) Dave Holland (381); 2) Ron Carter (204) e 3) Christian McBride (174)
Acoustic Piano - 1) Brad Mehldau (377); 2) Keith Jarrett (183) e 3) McCoy Tyner (152)
Alto Saxophone - 1) Phil Woods (394); 2) Kenny Garrett (231) e 3) Lee Konitz (177)
Arranger - 1) Maria Schneider (404); 2) Dave Holland (192) e 3) Bill Holman
Baritone Saxophone - 1) James Carter (409); 2) Gary Smulyan (262) e 3) Ronnie Cuber (166)
Big Band - 1) Dave Holland (411); 2) Diva Jazz Orchestra (211) e 3) Charles Mingus Big Band (139)
Clarinet - 1) Don Byron (429); 2) Buddy DeFranco (290) e 3) Eddie Daniels (254)
Composer - 1) Wayne Shorter (338); 2) Dave Douglas (212) e 3) Dave Holland (151)
Drums - 1) Roy Haynes (364); 2) Jack DeJohnette (255) e 3) Elvin Jones (118)
Electric Bass - 1) Steve Swallow (354); 2) Christian McBride (171) e 3) Marcus Miller (165)
Electric Keyboard - 1) Joe Zawinul (360); 2) Herbie Hancock (297) e 3) Chick Corea (162)
Female Vocalist - 1) Diana Krall (308); 2) Nancy Wilson (148) e 3) Madeline Eastman (108)
* Ithamara Koorax é a 12a e última (20)
Flute - 1) James Moody (334); 2) Frank Wess (310) e 3) James Newton (173)
Guitar - 1) Pat Martino (390); 2) Jim Hall (222) e 3) Russell Malone (219)
Male Vocalist - 1) Kurt Elling (346); 2) Mark Murphy (290) e 3) Andy Bey (125)
Organ - 1) Jimmy Smith (447); 2) Joey DeFrancesco (405) e 3) Lonnie Smith (149)
Percussion - 1) Airto Moreira (138); 2) Poncho Sanchez (105) e 3) Thiago de Melo (83)
Soprano Saxophone - 1) Wayne Shorter (417); 2) Steve Lacy (341) e 3) Dave Liebman (93)
Trombone - 1) Steve Turre (421); 2) Robin Eubanks (303) e 3) Wyclife Gordon (226)
* Raul de Souza é o 12 e último (15)
Trumpet - 1) Dave Douglas (411); 2) Roy Hargrove (230) e 3) Tom Harrell (181)
* Claudio Roditi é o 6 (48)
Vibrafone - 1) Bobby Hutcherson (372); 2) Stefon Harris (250) e 3) Gary Burton (218)

É isso aí...

TIM FESTIVAL, 6/11/2004, SÃO PAULO

21 novembro 2004

DAVID SANCHÉZ QUARTET - @@@@

No segundo dia do Festival, aportou, afinal, o Jazz "so to speak" (em que pese o emocionante canto do cisne de Nancy Wilson, na véspera).

Já aos primeiros acordes da apresentação do quarteto de David Sanchéz, saxofonista de reputação construída nos círculos do Latin Jazz americano, de logo se anteviu uma jornada preponderantemente post-bop, sem prejuízo do lirismo com que algumas baladas preencheram corações e mentes numa noite memorável e surpreendente.

De freaseado fluente e muito influenciado por Sonny Rollins, Sanchéz já pode ser tido como um gigante do Jazz atual.

Só pelo direcionamento do set list, baseado em seus últimos discos, principalmente Coral (2004, Sony), com a inclusão de temas brasileiros (Villa-Lobos, variações sobre o 2º movimento da Bachiana 4, Coral; Jobim, Eu Sei que Vou te Amar; Edu Lobo, Pra Dizer Adeus) e outros de inclinação nada "afro-cuban" - como dele talvez esperassem - Sanchéz provou estar apto a declamar em qualquer idioma do swing, sem necessariamente estar vinculado a combos latin.

Não bastasse, trouxe para o TIM músicos que estiveram iluminados durante todo o concerto, como Edsel Gomez (piano) e Adam Cruz (bateria), ambos com inventividade em alta ebulição, Hans Glawichnig (baixo), todavia, em patamar bastante inferior.

Originais como Just a Piece e Adoracion, este de Eddie Palmieri (notadamente baseado em Blue Bossa, de Dorham), abundaram em modernidade, revelando um líder maduro em todos os sentidos, e que, inclusive, mostrou, nas baladas, o quão inesgotável é - e deve ser sempre, para os mais jovens - a puríssima fonte de Ben Webster e Dexter Gordon.

Em contraponto à tamanha maestria, uma humildade franciscana, ao final, a todos concitou para o apoteótico concerto de Brandford Marsalis, a quem também considera como um de seus ascendentes musicais.


BRANDFORD MARSALIS QUARTET - @@@@1/2

Ninguém imaginaria a conexão, mas dedicar o primeiro tema ao trombonista Robin Eubanks - uma composição de nuances intrincadas, na exata trilha do post-bop que marcou os últimos 20 anos de carreira deste magistral saxofonista (ao menos na sua discografia como líder de conjuntos de jazz) - não deixou de ser uma bela pista da surpresa armada por Brandford Marsalis para o ápice de sua apresentação.

Do disco novo (Eternal, 2004, Rounder), plácido e, de certo modo, uma ruptura com o avant-garde de outros trabalhos, Marsalis e seu inspirado quarteto (Joey Calderazzo, piano; Eric Revis, baixo; e Jeff "Tain" Watts, bateria) tocaram apenas as duas primeiras faixas do álbum, The Ruby and the Pearl e Reika's Loss, baladas espraiadas em constante lirismo e lúcidas inflexões.

O tour-de-force para o quarteto ficou, todavia, para algo como " Vaudeville", dificílima composição a la Mingus, com tempos deslocados, entremeados com improvisações individuais e coletivas, em constante desafio para a interação do grupo, que se mostrou intacto num interplay praticamente telepático.

Marsalis, além dos cristalinos timbres e emissão tanto no soprano quanto no tenor, é um virtuoso à altura de todos os cats que o antecederam na história do jazz. Seus (bons) flertes com o pop e mesmo com rap e a música eletrônica em nada, nada mesmo, obscurecem a grandeza de sua arte - jazzística por excelência - e sempre falada em primeira pessoa.

Calderazzo é o mais novo mestre da escola dos pianistas vigorosos - Tyner, Mabern e Hicks - a eles pouco ou nada devendo, sem contar as vivas cores, pinçadas de sua rica palheta, de Hancock e até Corea.

Jeff "Tain" Watts jamais permite que o loudness constante de seus pratos e tambores seja confundido com vazio de sutilezas ou pobreza de idéias. Ele é tudo o que Bobby Previte sonhou mas dificilmente conseguirá ser.

Eric Revis, o mais novo na banda (substituiu Bob Hurst, há alguns anos), já demonstra firmeza e talento de um young lion, a todo o tempo dele se demandado o pulso necessário para o hard swinging atômico do grupo.

Mas e a conexão, o ápice ?

O quarteto estremeceu o público com o clássico e irresistível blues Sonnymoon for Two (S. Rollins), para o qual surgiram do backstage - delírio geral - três "sopros" da big band de Dave Holland (Jaleel Shaw, alto; Chris Potter, tenor; e Robin Eubanks, trombone), num primeiro momento, e, em seguida, David Sanchéz (tenor) e seu pianista Edsel Gomez, improvisando, cada um a seu turno, e, ao fim, todos juntos, coletivamente (como no traditional), com sucedânea troca de fours, riff principal, e muitos, muitos sorrisos de infinita realização comungados por músicos e audiência.

Foi o nosso Jazz at the Philarmonic, experiência única a que todo jazzófilo sonha um dia testemunhar.

Depois desta inesquecível experiência, nenhum bis teria o que adicionar, mas ele veio, com o original In the Crease (do álbum Contemporary Jazz, 2000, Columbia), saciando, de vez, olhos e ouvidos desde então eternamente gratos à magnitude e generosidade de Brandford Marsalis.

VEJA RIO

20 novembro 2004

Victor Biglione Organ Trio é a atração do próximo Chivas Jazz Festival ( ??? ) com um repertório que transita pelo jazz e pela bossa nova. Mistura Fina , Quinta (25) as 21h.

É o CJUB dando carona a tudo e a todos.


BOMBA, BOMBA!!! - NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA

19 novembro 2004

Segundo nota publicada no site Advillage, publicada por Zeca Castellar nesta data e transcrita abaixo, teremos no próximo ano - leia-se Rio e São Paulo - o 1o. Playboy Jazz Festival do Brasil, evento tradicional nos Estados Unidos. A produção será do nosso conhecido - e competente - Toy Lima e vai utilizar a estrutura do récem-descontinuado Chivas Jazz Festival. Segue a íntegra:

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"Vem aí o Playboy Jazz Festival

A Abril bateu o martelo e está dando início aos preparativos para seu 1º Playboy Jazz Festival, que deve acontecer no final de agosto e início de setembro do ano que vem. O evento fará parte das comemorações dos 30 anos da revista Playboy no Brasil, que começam em janeiro. "Mas nossa idéia é mantê-lo em nosso calendário anual", diz ao Advillage o diretor de marketing da Unidade Jovem da Abril, André Felipe D'Amato. "A Playboy americana realiza um festival desse tipo há 25 anos, em Los Angeles, e estivemos lá no 1º semestre para acompanhar", comenta.

Segundo D'Amato, a estrutura do Chivas Jazz - que está sendo interrompido pela Pernaud-Ricard após 5 edições - deve ser aproveitada. "Convidamos o produtor do Chivas, Toy Lima, para fazer o festival conosco", diz. "E estamos acertando as datas com o Directv Music Hall, em SP, e com a Marina da Glória, no Rio". Alguns nomes do primeiro time do jazz devem se apresentar, como a cantora Cassandra Wilson, o saxofonista Wayne Shorter e o pianista Herbie Hancock.

O festival pode ser exibido ao vivo em um canal por assinatura, dependendo das negociações de direitos autorais com artistas."E já tivemos uma primeira reunião com o pessoal da TV Cultura", adianta D'Amato. No Chivas, a emissora vinha gravando os shows para exibição em sua faixa "Jazz & Cia". O custo estimado do evento, por enquanto, gira em torno de R$ 2 milhões."

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É isso.

Victor Biglione Organ Trio se apresenta no CJL
dia 25 de novembro, 21 h, no espetáculo Jazz Guitar

18 novembro 2004


COLUNA DO MESTRE LUIZ ORLANDO, NO JB DE HOJE

Transcrevo aqui, mais uma vez em prol da nossa cultura jazzística, a coluna do nosso "Mestre-remoto" - geograficamente, claro, pois mora nos nossos corações e mentes - Luiz Orlando Carneiro, que lança mais alguma luz na discussão sobre as reais qualidades/habilidades de Brad Mehldau.


"Jazz em ótimos lançamentos"

"No apagar das luzes de um ano em que as edições no Brasil de discos de jazz lançados lá fora foram raras e irrelevantes, surgem no mercado CDs marcantes de dois músicos extraordinários, embora bem diferentes em termos de concepção e de importância na história do moderno piano jazzístico.

Live in Tokyo (Nonesuch/Warner) é um recital solo gravado, em fevereiro do ano passado, por Brad Mehldau - o sofisticado, altamente técnico e jovem (34 anos) mestre do chiaroscuro musical. A night in Vienna (Verve/Universal) registra o concerto realizado há um ano, no Musikwerein de Viena, pelo quarteto do monstro sagrado Oscar Peterson (79 anos), na comemoração do 175º aniversário dos pianos Bösendorfer (Peterson ganhou dos fabricantes, tempos atrás, um Imperial feito especialmente para ele, com uma oitava a mais).

Há duas semanas, no Tim Festival, em São Paulo, Brad Mehldau apresentou-se com o trio que lidera há 11 anos. E reafirmou, com notável criatividade, que o tema - desde que melodicamente atraente - é um mero pretexto para a arte da improvisação, num nível de excelência bem próximo ao atingido por Keith Jarrett, o imperador do jazz trio nos últimos 20 anos.

Em Live in Tokyo, Mehldau vagueia, à vontade ou solenemente, durante 70 minutos, pelas variadas paisagens que inventa a partir de oito temas, dos quais apenas Intro (dois minutos e meio) é de sua pena. Os outros sete são: Someone to watch over me e How long has this been going on? (Gershwin); Things behind the sun e River man (Nick Drake); From this moment on (Cole Porter), Monk's dream (Thelonious Monk) e Paranoid android (Radiohead).

Nos temas de Gershwin, o pianista dá ênfase à sua verve romântica, ao lado mais contemplativo de sua personalidade, que agora desabrocha, depois de abafado pelo virtuosismo incontido do Mehldau dos primeiros discos da série The art of the trio. Mesmo assim, o forte ego do intérprete acaba por escancarar a porta ao virtuose nos três minutos finais de Someone to watch, quando o ostinato sombrio da mão esquerda e as variações no agudo da mão direita tornam-se mais veementes. From this moment on é desconstruído e reconstruído de modo mais introvertido, com uma economia de notas digna do saudoso John Lewis (1920-2001).

A erudição de Mehldau não pode evitar que em suas telas musicais surjam vultos de Bill Evans e Beethoven, de Keith Jarrett e Brahms. As meditações do pianista não comprometem o swing que - mais explícito na moldura habitual do trio - é intenso nas variações solitárias altamente percussivas sobre o tema de Monk (7m 59s) e torrencial nos 20 minutos de Paranoid android. Nesta faixa - um tour de force de improvisação contrapontística, também iniciado com um simples episódio musical - Mehldau presta homenagem ao genial Keith Jarrett, deixando claro ter ouvido muitas vezes o célebre Köln Concert (1975).

Quanto ao recente álbum de Oscar Peterson (talvez o pianista de discografia mais extensa nos anais do jazz), roga-se que seja apreciado com o mesmo espírito dos ouvintes da celebração de Viena. O crítico Richard Palmer, ao comentar o DVD do concerto, observou: ''As tomadas do auditório são tão reveladoras e importantes como as do palco. A audiência realmente queria estar ali, não para ser vista num acontecimento social, mas para assistir ao aparecimento, em sua cidade, do último dos indiscutíveis mestres do jazz, cuja arte tocou milhões de vidas''.

Em 1993, Peterson sofreu um derrame, que deixou a mão esquerda semiparalisada. Fez muita fisioterapia mas, evidentemente, ficou incapacitado de continuar a usar as duas mãos e os dez dedos para gerar seus caudalosos rios de arpejos e runs paralelos de acordes cheios. Nem a articulação dos dedos da mão direita é a mesma dos discos antológicos das décadas de 60 e 70.

Mas o handicap teve um certo mérito - o de tornar mais reflexiva e menos exibicionista a arte do gigantesco (em todos os sentidos) pianista. Além disso, Peterson lidera um quarteto em que dois músicos excepcionais - o dinamarquês Niels ''Nhop'' Pedersen (baixo) e o sueco Ulf Wakenius (guitarra) - compensam suas atuais deficiências harmônicas. E o também fiel escudeiro Martin Drew (bateria) está sempre de prontidão no suporte rítmico.

Oscar Peterson assina seis das nove composições desse CD, que tem um tom de despedida acentuado por Requiem, que ele dedica a Ray Brown, John Lewis, Milt Jackson e Norman Granz, falecidos no período 2001-2002.

O pianista está particularmente feliz em Wheatland (da suíte Canadiana), Cakewalk e The backyard blues. Os problemas de articulação são mais visíveis em Sweet Georgia Brown, na introdução em duo com Wakenius, que tem muito espaço para mostrar suas qualidades de grande improvisador em quase todas as faixas. Infelizmente, o fantástico contrabaixo de ''Nhop'' está mal captado no mix."

TIM FESTIVAL, 5/11/2004, SÃO PAULO

11 novembro 2004



CHICO PINHEIRO QUINTETO - @@@

Depois de revelar o furacão do marketing Maria Rita, Chico Pinheiro segue carreira, com técnica rebuscada e elogiável destemor na concepção e arranjos de sua música. Num set em que, além do líder, brilharam Teco Cardoso (sax soprano e flautas) e Andre Nehmari (piano), Pinheiro provou estar no caminho certo, tanto como instrumentista quanto como compositor, em que pese a dispensável concessão para temas cantados ou vocalizados pela convidada especial Luciana Alves.


BRAD MEHLDAU TRIO - @

Não à toa irritam tanto Brad Mehldau as constantes comparações com os trios de Bill Evans e Keith Jarret. Após ouvir alguns de seus discos, cheguei até a dizer, neste mesmo espaço, que Mehldau seria uma espécie de "Sub-Evans" ou "Sub-Jarret".

Mas depois da enfastiante e charlatanesca jornada de sexta-feira, vejo que também eu cometi imperdoável pecado ao dar a ele a dignidade de estar de algum modo associado, ainda daquela forma diminutiva, ao universo de gênios com tamanha envergadura.

Ultraja comparar o farsante Brad Mehldau às realezas Bill Evans e Keith Jarret, como, de resto, a qualquer outro músico de jazz.

Sua música não passa de ego-trip rasa, mais adequada às prateleiras da new age.

Porque jazz, definitivamente, não faz parte do dicionário de Mehldau.

Um pianista que despreza o swing não merece a alcunha de jazzista.

Não se fala, aqui, do swing "movimento do jazz" (pre-bebop), ou do swing "4/4" para o qual incautos "moderninhos" (moderninhos dos anos 70, ainda ?) torcem o nariz.

Falo do axioma Ellingtoniano que qualquer verdadeiro jazzófilo tem como bússola ao identificar, ou não, uma música como "jazz": "It don ´t mean a thing, if it ain´t got THAT swing". Desnecessário lembrar que Ellington foi o MAIS moderno e completo músico de jazz de todos os tempos.

Como fio condutor do tédio, entretanto, que se presta até a sonoterapias, o trabalho de Mehldau aparenta alcançar pleno êxito, inclusive porque emoldurado em capacidade técnica induvidosa.

Mas o kit de ilusionista amador que deve ter recebido dos pais quando criança, vem-lhe servindo bem para entreter platéias mundo afora - nem sempre tão leigas assim - carentes, talvez, frente a tantas aventuras post-boppers (algumas intimidadoras), de um melodismo simplório e apelativo, entremeado de melismos gelados, que temerariamente se pretende alçar à condição de "improvisos".

Ora, não basta formar um trio acústico de piano, baixo e bateria, ou tocar standards para ser jazz.

Não basta dedilhar Alfie ou More Than You Know lânguida e espaçadamente e muito menos amanteigar roqueiros como Beatles ou Radiohead, para filiar-se à nobre arte do improviso.

Suportamos pouco mais de uma hora de aridez musical absoluta, em que o pianista debochava do ouvinte sério, insistindo em divagações pueris e digressões pointless nas oitavas centrais do teclado, em que fixou-se ao longo de todo o "concerto", fazendo soar quase unívoco o timbre do piano, em esforço diretamente proporcional às suas limitações criativas.

De seus pares, resta dizer da irrelevância de ambos para os "objetivos" do líder, salvo por mascarar, com este tipo formação, a imagem de um trio jazzístico.

O atrapalhado Jorge Rossy (bateria), até que se esforçou, mas Larry Grenadier (contrabaixo), francamente, bem poderia buscar outro mister, tal o mau gosto na condução e a absoluta ignorância acerca do que represente a dinâmica (alterações na intensidade do tocar: piano, médio ou forte, p.e.), ainda mais quando o "moto perpétuo" do "patrão" é o mood "baladeiro".

Em síntese, uma apresentação, de fato, "para não esquecer jamais", como advertiram tantos críticos.

Para não esquecer do profético Duke Ellington e sua clarevidência.



NANCY WILSON & TRIO - @@1/2

Um espetáculo emocionante, fundado muito mais na classe, categoria e experiência, do que propriamente no esplendor vocal, ofereceu-nos Nancy Wilson e seu trio, no qual destacou-se o veterano baterista Roy Mcurdy, vestido a rigor, como os colegas, numa elegância plenamente ajustada à despedida da cantora dos palcos, que aqui se anunciou.

Temas clássicos, que pontuaram a carreira de Nancy - em que pese o tom convencional dos arranjos - foram sempre por ela interpretados com competência e inventividade, revelando, inclusive, a fonte em que beberam, no modo de improvisar, promessas, como, por exemplo, a exuberante Rachel Farrell.

Um But Beautiful sublime, "miopemente" (ela não sabia de onde viera o pedido) dedicado a José Sá (nosso confrade Sazz), acabou sendo um dos highlights da apresentação, que, felizmente, fez ressurgir, no Club, o jazz ignorado por seu antecessor de palco.

Nancy Wilson teve uma carreira da qual pode se orgulhar, e a todos nós deu o prazer de com ela dividir a celebração de sua arte.

WANDA SÁ - NASCE UMA CANTORA DE JAZZ

O Mistura Fina, na noite do dia 28 passado, propiciou, como verdadeiro club de jazz que é, o ambiente ideal para uma perfeita demonstração de que em matéria de musicalidade, nossos astros, comprometidos com o profissionalismo, não ficam devendo nada a ninguém. Muito pelo contrário, podem dar aulas de como fazer um concerto bem feito. Tudo está registrado em vídeo e em fita de áudio digital, e a apresentação de Wanda Sá torna-se desde já uma relíquia histórica, em testemunho de uma noite memorável.

Wanda subiu ao palco com uma missão pela frente. Já tendo vencido todos os seus desafios no que tange à musica brasileira, principalmente a bossa nova, tinha ali uma batalha pessoal a enfrentar, desde que aceitara o convite para cantar jazz para uma platéia composta não apenas por amigos e seu público fiel mas que incluía indivíduos exigentes como o grupo de loucos por jazz deste CJUB - do qual faz parte seu irmão Sazinho (Sazz), um dos fundadores e co-produtor da experiência. Wanda houve-se com maestria e fez um espetáculo para os anais do CJUB, do Mistura e de sua própria trajetória pessoal.

Tendo recebido a incumbência de um concerto no qual cantaria exclusivamente temas jazzísticos, seguindo a orientação do programa desejado, nem mesmo vacilou. Topou na hora a empreitada e dedicou-se, segundo seus elevados padrões artísticos e profissionais, a decorar as letras de cerca de 14 músicas que interpretaria. Isso mais os ensaios com a banda onde repetiu, e repetiu à exaustão, as passagens mais complicadas para não titubear, não tergiversar, não deixar transparecer que em toda a sua vida profissional como cantora-musa-diva-símbolo da bossa nova, jamais tinha entoado três compassos desta refinada arte norte-americana, e assim Wanda sonhou por três semanas exclusivamente com jazz.

E, simplesmente, detonou. Com apoio do diretor musical e contrabaixista Dôdo Ferreira, valorizada pelo belíssimo piano de Adriano Souza e com a marcação precisa de João Cortez, Wanda em pouco tempo transformou o Mistura Fina no quintal de sua casa, tal sua segurança, inventividade e sua inescapável bossa pessoal. Parecia uma menina descobrindo a gaveta de maquiagem da mãe. Wanda foi, cantando jazz, a mesma grande intérprete da bossa nova que sempre nos encantou. Desta feita, em inglês e de forma perfeitamente jazzística. Suas interpretações de "Solitude", "Don't Get Around Much Anymore", "The Way You Look Tonight" e "All of Me", estas duas últimas em ritmo mais próximo de suas origens bossanovísticas, poderiam seguramente figurar num próximo CD dedicado ao jazz.

Adriano Souza, ao piano, foi revelação saída da cartola de Dôdo Ferreira. Praticamente um desconhecido de grande parte do público, Adriano acompanhou Wanda com a experiência de um veterano "sideman" americano e quando fez solos, os fez elegantes e criativos, a ponto de arrancar aplausos ainda em meio à sua execução.

Uma bela descoberta do sempre antenado Dôdo, que além da direção musical do programa, manteve seu sempre criativo contrabaixo à frente do grupo, incentivando e marcando com firmeza a apresentação de Wanda, com quem apresentou-se em dueto em "Just Squeeze Me", também de Ellington.

João Cortez foi o baterista seguro e elegante de sempre, mantendo seu instrumento em pulso rítmico intimista e pontuando com vigor nos entremeios vocais, sempre dando coloraturas elegantes aos seus - poucos, é verdade - momentos em solo.

Uma noite para se guardar na memória, que teve como presenças destacadas, Durval Ferreira, Vítor Biglione (próxima atração do CJUB, em 25 de novembro próximo, com um "Histórico da Guitarra no Jazz") e de Roberto Muylaert, renomado jornalista e produtor musical, responsável pela primeira edição do Festival de Montreux no Brasil, em 1978. Foi Muylaert quem pediu, na hora do bis, que Wanda novamente cantasse "Solitude", de Duke Ellington e arrepiasse todos os braços outra vez, como havia feito no primeiro set, quando a justeza de sua voz de timbre grave se adaptou maravilhosamente à composição, eletrificando o Mistura Fina.

Acho que Wanda Sá, depois dessa experiência, foi definitivamente inoculada pelo vírus do jazz. Diz ela ter sido eu o responsável por isso, ao convidá-la a ser a primeira pessoa a cantar, se e quando decidíssemos abrir essa vertente dentro do projeto iminentemente instrumental do CJUB. Assim foi, e aceito a acusação com muito orgulho. Ao fim, acho que foi o mundo que ganhou uma nova e promissora intérprete jazzística.

EG GIS & QUINTETO VILLA LOBOS NO CCBB

10 novembro 2004

Após a maratona sonora do Tim, nada como assistir no teatro II do CCBB super lotado de estudantes, aposentadas (grande maioria) e desempregados (meu caso), ao concerto do Egberto Gismonti com o Quinteto Villa-Lobos na série chamada "Musica Sem Fronteiras", o que foi muito bem justificado, pois os musicos em questão tocando temas (9) do Egberto romperam os limites do clássico, passando pelo jazz e dialogando com o popular.
O concerto foi aberto pelo Quinteto composto por Antonio Carrasqueira (flauta), Luis Carlos Justi (oboé), Paulo Sergio Santos (clarineta), Philip Doyle (trompa) e Aloisio Fagerlande (fagote), que interpretaram "Karatê" e "Memória e Fado", com a entrada triunfal do Egberto ao violão de 10 cordas; hoje na minha modesta opinião o maior violonista brasileiro e entre os 3 do mundo, fizeram "Sonhos", "Palhaço na Caravela", e o publico a flutuar.
A seguir Eg Gis em piano solo mostrou que também é monstro no instrumento, fazendo diversas citações jazzísticas no tema "Meninas", arrebatando de vez a platéia do CCBB.
Dando sequencia convidou novamente o Quinteto ao palco, para uma homenagem a H.Villa-Lobos tocando em medley "Dansa" das Bachianas n.4, "Realejo" e Lundu".
Para terminar "Dança dos Escravos", quando voltaram para o bis já com o pequeno teatro de pé para o clássico tema "Frevo", lavando a alma dos presentes e para aqueles que gostam da musica deste, que com certeza esta entre os maiores musicos do nosso país merecedor a muito de um evento quem sabe no Municipal, pois é em locais do genero que tem se apresentado ao redor do mundo...


TIM FESTIVAL OU MISSÃO SÃO PAULO 2

08 novembro 2004

Confirmando as resenhas anteriores, aqui estamos de volta para alguns comentários e avaliações a respeito do excelente acontecimento jazzístico do último fim de semana realizado no Jockey Clube de São Paulo, no teatro tenda onde foi armado o palco Club bem afastado dos demais, para impedir que o vazamento dos bate estacas ou outros sons desta natureza atrapalhassem a qualidade sonora do Club.
A primeira noite foi aberta pelo violonista local Chico Pinheiro, que ao lado de seu quarteto foi para mim uma grata surpresa, pela tecnica apresentada pelo lider, bem como por sua simpatia e simplicidade não perdendo o brilho mesmo com a chamada ao palco da cantora Luciana Alves que ainda tem muito chão para caminhar.
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A seguir apresentou se o Brad Mehldau trio (Larry Grenadier - baixo e Jorge Rossy - bateria), cujas definições dos críticos a respeito da performance foram desde; "Magnífico" do nosso querido amigo Luiz Orlando Carneiro (JB) a "Memorável" do Antonio Carlos Miguel (Globo), passando ainda pela curiosa "Antena da raça" do Cassiano Machado da Folha de São Paulo.
Isto posto só para corroborar com a minha avaliação de concerto simplesmente inesquecível, destacando se o "bis" com uma interpretação definitiva de "She's Leaving Home", de Lennon e McCartney do famoso album Sgt. Pepper´s...
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Fechando a sexta feira Nancy Wilson e seu elegante trio (todos de smoking), que fez uma apresentação dentro do que dela (eu) esperava, sem qualquer surpresa ou decepção, tendo até cantado uma musica a meu pedido "But Beautiful", que agradeci diretamente ao final da performance, pois não identificou exatamente de onde veio a solicitação.
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No sábado muito pouco a dizer do quarteto de violões Maogani que primeiro subiu ao palco, pois quase nada assisti e até porque acho, que estão no mínimo 30 anos atrasados em relação ao já extinto D'Alma, que tocou em 1974 no 1o Festival de Jazz em S.P., não apresentando nada mais moderno ou inovador inclusive no visual, que sugiro urgente repaginação.
sem avaliação
Dando sequencia, a meu ver a maior revelação do evento o saxofonista tenor David Sanchez que se apresentou com quarteto ao invés de quinteto, como anunciado inclusive no ingresso.
O porto riquenho quase americano,disse ser a nossa musica uma de suas principais fontes de inspiração fazendo um concerto notável demonstrando total domínio do instrumento, tocando composições proprias, Villa Lobos (Bachianas n.4), Jobim (Eu sei que vou te Amar) e Edu Lobo (Pra dizer adeus) essa no "bis".
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No final um set glorioso como dito por LOC, do Branford Marsalis com jazz para gente grande e em altíssimo estagio dando direito a uma jam ao melhor estilo JATP, que quem viu viu.
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Domingo ultimo dia do Tim com mais uma aula de modernidade em solo brasileiro, de um dos maiores musicos a meu ver da atualidade, o ingles Dave Holland e sua impecavel big band que so nao fez chover pois tal ja acontecia na terra da garoa.
Nao tenho muito como expressar em palavras talvez genial, soberbo, espetacular etc etc etc.
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Apos essa, confesso que perdi o interesse por qualquer outra apresentacao que se seguisse, razao pela qual deixo de avaliar a performance do virtuoso violonista frances Bireli Lagrene que sem duvida e o verdadeiro sucessor de Django Reinhardt que fez tremer o palco Club.
O mesmo vale para o Art Van Damme que nem sequer assisti, mais ate pelo cansaco do que qualquer outra coisa e para melhor absorver e armazenar as informacoes musicais recebidas.
Quanto a organizacao do evento muito boa,como sempre todo e qualquer servico na pauliceia e a lamentar o fato de nao ter sido aqui, embora houvessem muitos cariocas presentes pois nada como o nosso calor humano em relacao a paulistada.
Agradeco aos parceiros Mau Nah e Benex otimos companheiros de viagem (espero ter sido a primeira de muitas) a colega Bety(Fitipaldi)Girl, e Wanda presente no ultimo dia do Tim.

Valeu...

Sa

CJUB NO TIM FESTIVAL

04 novembro 2004

É, como não poderia deixar de ser estaremos em Sampa Mau Nah, Benex e o que vos escreve para esse "Festival", que vai de Brian Wilson a Pet Shop Boys passando por Bebel Gilberto, Kraftwerk e Soulwax entre outros, que obviamente não contarão com a nossa presença, pois estaremos no Palco Club curtindo a fina flor do jazz, que segundo nosso companheiro e critico Luiz Orlando Carneiro terá a melhor programação jazzística dos últimos anos, começando pelo Brad Mehldau trio junto com a Nancy Wilson, que fazem acontecer na 1a noite amanhã; Mehldau considerado hoje por muitos o melhor pianista vivo e dividindo o pódio com Keith Jarrett. ( Será ??? )
Na segunda noite Sábado Branford Marsalis Quartet, repetindo com o mesmo pessoal o sucesso de seu último cd "Eternal" que recebeu @@@@ da Down Beat, além do sax tenor porto riquenho David Sánchez, que confesso não conhecer.
Fechando no Domingo nada mais do que a orquestra de Dave Holland que ganhou todos os prêmios em 2003 com o cd "What Goes Around", tendo ainda o guitarrista francês seguidor do Django Reinhardt Biréli Lagrène e o decano do festival com 84 anos o acordeonista Art Van Damme, liderando seu quinteto.
Enfim paulicéia desvairada aí vamos nós ! onde também estive por ocasião do 1o Festival de Jazz realizado no Brasil, em que lá se vão alguns muitos anos...



MISSÃO: SÃO PAULO

"Music expresses that which cannot be said and on which it is impossible to be silent." (Victor Hugo)

Inspirados pelas belas palavras desse homme-savant, amanhã cedo sairá em direção à cidade de São Paulo - impossível não mencionar, espetacularmente resgatada e entregue pelo povo a mãos mais competentes do que as anteriores-, valoroso trio de representantes do CJUB para participar, como ouvidores e olheiros, da parte que interessa do Tim Fest.

Assim Mau Nah, Sazz e Bené-X lá estarão, pelas três noites, tratando de apreender, discutir (e como!), julgar e trazer suas impressões para os demais amigos e leitores em geral. Muito provavelmente, depois de ter ouvido as opiniões do Mestre Luiz Orlando Carneiro, que, segundo nossas melhores expectativas, também estará presente.


Aguardem as notícias aqui no mural.

ANIVERSÁRIOS DE NOVEMBRO

03 novembro 2004

Entrou novembro e logo no primeiro dia nosso "Embaixador Plenipotenciário Para as Planícies Sulinas", JoFla, completou uma virada no velocímetro. E qual cidade ele escolheu para comemorar a data com sua família e amigos?
Uma única chance, senhores: Floripa, São Paulo, Itacaré ou a violenta capital do Estado do Rio de Janeiro?
Acertou quem disse que, a despeito de suas incontáveis mazelas, nosso confrade escolheu o Rio para suas libações e recarga de baterias. Foi brindado, por esse gesto [in]sensato, com uma série de dias impecáveis. Esteve aqui conosco na noite da estréia da Wanda (que cantou jazz maravilhosamente, diga-se) no Mistura, foi muito à praia para descansar e aproveitou tudo a que tinha direito, em companhia da família. Parabéns, JoFla, muita saúde e felicidades!

No próximo dia 9, será a vez de cantarmos parabéns para a cjubiana, competente editora musical e "presidenta" da Delira Música LuPeg, pelo seu aniversário. Lu foi ausência muito sentida no último concerto do CJUB. Esperamos que possa nos avisar sobre sua agenda de compromissos para essa data!

Por outro lado, mencionando o último concerto, nossa musa primeira, Marzita, também não compareceu. Outro desfalque importante!

Meninas, suas presenças e participação no blog são sempre cercadas de muita expectativa. Afinal, suas opiniões são um termômetro importante na condução editorial deste espaço. Aguardamos notícias de ambas. E a BetGirl, que depois de voltar de Paris nunca mais deu as caras?

Para todas, como diz nosso Mestre Raf, muito mais adeqüadamente em se tratando de musas, "keep swinging"! E isso serve para você também, muso vitivinícolo JoFla.

MUSA DA BOSSA NOVA ESTRÉIA CANTANDO JAZZ
NO XVI CONCERTO CHIVAS JAZZ LOUNGE

22 outubro 2004

Pela primeira vez em sua vida, a cantora Wanda Sá, uma das musas da bossa nova, mostrará uma faceta do seu talento como cantora de jazz no XVI concerto do Projeto Chivas Jazz Lounge, patrocinado pela Pernod Ricard do Brasil, fabricante do uísque Chivas Regal, quinta-feira, 28 de outubro, às 21 horas, no Mistura Fina, com produção do CJUB.

Para esta grande novidade em sua carreira, Wanda e a produção capricharam no repertório selecionando alguns dos mais conhecidos clássicos de jazz e da música popular americana de todos os tempos. Ela será acompanhada pelo trio do conceituado baixista, compositor e arranjador Dôdo Ferreira, com o pianista Adriano Souza, uma grande revelação do seu instrumento, e o refinado baterista João Cortez.

Wanda Sá encantou-se com a bossa nova desde cedo, e aos 13 anos estudou na escola de violão de Roberto Menescal. Descoberta por Ronaldo Bôscoli, participou dos programas de televisão "Dois no Balanço" (TV Excelsior) e "O Fino da Bossa" (TV Record). Sua carreira profissional começou aos 19 anos, com o disco “Wanda Vagamente”, um dos primeiros trabalhos profissionais de Eumir Deodato e produzido por Menescal, no qual lançou a múaica "Inútil Paisagem”, que teve expressiva execução em rádio, além de composições de Edu Lobo, Marcos Valle e Francis Hime, em início de carreira. O lançamento do álbum aconteceu no programa “O Fino da Bossa”, em São Paulo. Anos mais tarde, o disco foi relançado no Japão com grande sucesso. E recentemente também foi relançado entre nós.
No final de 1965, Wanda passou a integrar o conjunto Brasil ’65, de Sérgio Mendes, que também contava com Jorge Ben e Rosinha de Valença, apresentando-se no Brasil e no circuito universitário dos Estados Unidos. Cantando numa boate de Los Angeles, foi descoberta por Dave Cavanaugh, produtor de Nat King Cole e Frank Sinatra. Sob orientação de Cavanaugh, gravou três discos nos Estados Unidos, sendo dois com o Brasil 65 e "Softly", em seu nome. Na volta ao Brasil, em 1966, atuou em shows com Baden Powell, Vinicius de Moraes, Miele, Luis Carlos Vinhas e o Bossa 3. Três anos depois gravou com Paul Desmond no álbum "Hot Summer".
Wanda casou-se com Edu Lobo, em 1969, retirando-se da cena musical para dedicar-se à família. No fim dos anos 80 voltou à atividade atuando em shows com Roberto Menescal e Miele. Gravou o disco "Brasileiras", em 1994, ao lado de Célia Vaz, e, no ano seguinte, lançou "Eu e a Música", com Menescal.
Ela uniu-se a Luís Carlos Vinhas, Tião Neto e João Cortez para gravar “Wanda Sá & Bossa Três”, interpretando clássicos da bossa nova e composições novas. Desfrutando de grande popularidade no Japão, lá realizou quatro temporadas no Sabbata Tokyo, transformando “Vagamente” num hit, alcançando o segundo lugar na parada de sucessos local. Em 2001, também participou do Fare Festival, em Pavia, na Itália, ao lado de Menescal, Marcos Valle, e Danilo Caymmi. Apresentou-se em Angola numa caravana de 36 artistas, entre eles Chico Buarque e Djavan.
A rica discografia de Wanda inclui “Amazon River” (com Célia Vaz), "Domingo Azul no Mar", "Estrada Tokyo-Rio" e “Jesusmania”, este privilegiando músicas com canções de teor religioso. Wanda Sá também participou de vários álbuns da conhecida série de songbooks de compositores brasileiros idealizada e produzida por Almir Chediak.

Dôdo Ferreira é um dos mais completos baixistas brasileiros com grande experiência em jazz, música popular brasileira e americana, rock e música clássica. Seu currículo inclui gravações e performances com Wagner Tiso, Leandro Braga, Vittor Santos, Tim Rescala, Marcos Leite, Paulo Moura & Martinho da Vila, Roberto Menescal & Wanda Sá, Claudette Soares, Marco Tommaso, Luiz Carlos Vinhas & Bossa Três, Celso Blues Boy (com B.B. King), João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, Alceu Valença & Jackson do Pandeiro, Garganta Profunda, Adriana Calcanhoto, Orquestra de Paulo Moura e muitos outros. Ele organizou o show In the Ellingtone liderando o trio que acompanhou a cantora Ana Zinger. Em 1992 reuniu-se com ex-companheiros dos Miquinhos Amestrados para formar a Love and the Lovers, uma banda de rockabilly que se tornou cult nas noites cariocas.
Ultimamente atuou nos musicais “Dolores”, “Somos Irmãs”, “Atlântida”, “O Reino da Chanchada”, “Theatro Musical Brasileiro”, “Clara Nunes/Brasil Mestiço”, “Carmen”, “Os Cantores do Chuveiro Cantam e Contam 100 Anos de MPB, “Luz, Chuveiro... Ação!” e "Orlando Silva, o cantor das multidões".
Seu trabalho de compositor engloba trilhas para cinema (“Como ser solteiro”), teatro musical (“Splish-Splash”), comerciais e programas de TV (abertura da novela “O Sexo dos Anjos”; abertura dos programas “Milk Shake”, da apresentadora
Angélica; e “Rolo Extra”, de Pedro Bial).
Em 1993 lançou seu primeiro CD solo, “Farofa Blues”, concorrendo ao Prêmio Sharp na categoria Revelação Instrumental. Seu segundo CD está em vias de ser lançado. Com seu quarteto apresentou-se no Restaurante Epitácio (2º concerto do Projeto Chvas Jazz Lounge), Mistura Fina, Jazzmania, BNDES e Festival de Jazz de Vitória.

Adriano Souza é um dos mais articulados e inventivos pianistas da nova geração. Ele organizou o conjunto Xekerê, com o qual gravou dois CDs, tocou com os saxofonistas Eduardo Neves e J. T. Meirelles, e a cantora Paula Santoro. Com esta última realizou uma turnê pela Europa, e outra com o grupo Brasiliana, apresentando-se na Alemanha, Suiça e Áustria. Em 2002 participou do programa "Late with Jools Holand" e do show "Forever Samba", em homenagem a Ary Barroso, com as cantoras Alcione e Paula Santoro, ambos em Londres. Sua experiência com big bands inclui atuações com a Rio jazz Orchestra e a do Maestro Cipó.
Contribuiu com seu talento para shows e gravações de Wanda Sá, Leny Andrade, Roberto Menescal, Orlando Moraes, Tito Madi, Durval Ferreira, Cris Delano, Elymar Santos, Pery Ribeiro, Danilo Caymmi, Ney Matogrosso, Leila Maria, Bibi Ferreira e Leila Pinheiro. Também participou dos musicais "Elis, estrela do Brasil", "Ópera do malandro" e, recentemente, "Orlando Silva, o cantor das multidões".


O experiente João Cortez integrou o grupo Modo Livre, que acompanhou Ivan Lins e Gonzaguinha na década de setenta. Entre inúmeras colaborações, tocou com Wanda Sá, Elizeth Cardoso, Rildo Hora, Emilio Santiago, MPB-4, Joe Carter, Quarteto em Cy, Alceu Valença, Roberto Menescal, Antonio Adolfo, Mauricio Einhorn, Lisa Ono, Gilson Peranzzetta e muitos outros. Lançou um disco solo com o violonista Sebastião Tapajós. Ao lado de Dôdo Ferreira participou da última formação do Bossa Três, de Luiz Carlos Vinhas. Considerado um dos mais refinados e sofisticados bateristas brasileiros pelo seu bom gosto e pela habilidade como emprega as vassourinhas, é conhecido entre os músicos como "Billy Higgins brasileiro".

Para este concerto que marca sua estréia como cantora de jazz, após cuidadosa triagem efetuada pela produção, Wanda Sá e seus músicos definiram o repertório com estas jóias:

1o Set : Composições de Duke Ellington:
1) Perdido (Juan Tizol & Ellington - Instrumental)
2) Mood Indigo (Ellington, Barney Bigard & Irving Mills)
3) Day Dream
4) Just Squeeze Me
5) Don't Get Around Much Anymore
6) Solitude
7) Satin Doll (Ellington & Billy Strayhorn)

2o Set : 1) Cotton Tail (Duke Ellington - Instrumental)
2) But Not For Me (George & Ira Gershwin)
3) There Will Never Be Another You (Harry Warren/Mack Gordon)
4) Someone To Watch Over Me (George & Ira Gershwin)
5) The Way You Look Tonight (Jerome Kern)
6) It Don't Mean a Thing (Duke Ellington)
7) All Of Me (Simon & Marks)

Em vista do ineditismo da noite, recomendamos aos fãs de Wanda Sá e aos aficionados por jazz que comprem seus lugares com antecedência, garantindo seus ingressos para esse que promete ser um Concerto maiúsculo dessa grande cantora. Para isso, pode-se adquiri-los seja pelo site da Ticketronics - www.ticketronics.com.br ou diretamente no Mistura Fina (Av. Borges de Medeiros, 2377 - Lagoa, fone 2537.2844).

A SAGA

Amigos,
Depois de um longo e tenebroso inverno, I'm back.
Quero relatar uma pequena saga. Na verdade, o cotidiano do povo brasileiro. Por acaso acabei de ler "Viva o Povo Brasileiro", do João Ubaldo.(Muito BOOOm)
Tudo começou com um email que recebi do nosso querido Free Shop.
Meus amigos do Freee Shop sempre me mandam emails com as novidades. No final de setembro recebi um que falava de uma grande oportunidade na casa do GLENFIDDICH.
Quase deletei, não por causa do Glenfiddich, que é um belo single malte. Acontece que ele é figurinha marcada, vc acha em qualquer (bom)supermercado.
Mas, curioso que sou, abri. Ele falava de um RARE WHISKIE, de 1937. Moçada, não foi erro de digitação, é 1937 mesmo. Total de garrafas no mundo:62. Aqui, 01. Preço: US 11300.
Bom, para quem não sabe, sou alucinado por single maltes e microempresário; na verdade, estou mais para MICOEMPRESÁRIO.
Pensei muito e resolvi procurar o o BNDES. Disseram que o meu projeto era bom, mas uísque era produto importado. Se fosse cachaça, liberavam até US 20000. Nos bancos particulares, existia um pequeno problema: eu não tinha US 20000 aplicados no banco, como garantia, como é que eles poderiam emprestar US 11300 .
Já tinha desistido quando vi a reportagem na televisão sobre os planos sociais do governo.
Éra a última cartada. Fui lá, preenchi a ficha e fui chamado para a entrevista. Estava quase tudo ok. Só faltava o título de eleitor. Saí para pegar o título e fui abordado por uma voluntária do baby que me ofereceu casa+carro+som por 200 x 1,89.
Eu perguntei se podia trocar o pacote pelo uísque, mas disseram para preencher um formulário.
Recebi um telefonema dizendo que se eu trocasse o meu título para Campos ou Nova Iguaçu, a tempo de votar nos candidatos certos no dia 31, estava aprovado e dariam uma carência.
Pensei um pouco e achei muito trabalhoso.
Entrei no site do Free Shop para uma última olhada na garrafa e, pasmo, não a achei. Segundo uma lenda urbana, a garrafa foi comprada com a verba do Fome Zero e degustada no planalto central.
Marcelon

MARC COPLAND, BALLADS

21 outubro 2004

Tradicionalmente, por influência nítida de Bill Evans, os trios de jazz costumam navegar em áreas mais intimistas às custas de "standards" e baladas. Mas nem sempre isso resulta em um trabalho de aceitação unânime. Há que se ter uma concepção arrojada de harmonia e, claro, bom-gosto, qualidades que o pianista Marc Copland reúne como poucos. " Haunted Heart & Other Ballads", CD de 2001 (hatHUT), no gênero, é arrebatador.
Marc Copland nasceu na Philadelphia, 1948, e teve o sax como primeiro instrumento. Já em Nova Iorque, tocou com John Abercrombie, Ralph Towner e Chico Hamilton, entre outros. Adepto no início aos sons eletrônicos, refez sua carreira ao estudar piano, influenciado por Bill Evans, Hancock e Jarrett. Voltou ao lado de Joe Lovano, James Moody e Wallace Roney, além de algumas gravações com o próprio Abercrombie. Seu primeiro trio tinha Gary Peacock e Billy Hart. Suas gravações surpreenderam os críticos pelo estilo , com harmonias sofisticadas e um trabalho incomum de pedais. "Haunted Heart & Other Ballads" é o seu CD mais aclamado - e obrigatório entre os jazzófilos mais exigentes. "Impressive performances that stay with the listener. A wonferdul recording" (Bill Bennett, Jazz Times).
O CD já começa original por trazer três versões distintas em solo para "My Favorite Things" (Rodgers), um exercício de habilidade em harmonia. Nas demais faixas, Copland é acompanhado pelo baixista Drew Gress e pelo baterista Jochen Rueckert, insuspeitos coadjuvantes. "Crecent" (Coltrane) valeria o CD pela versão empolgante, assim como o tradicional "Greensleeves". "Easy to Love" (Porter) e "It Ain't Necessarily So"(Gershwin) receberam igualmente um tratamento de gala. A criatividade do trio, em especial Copland, transborda em "When Whe Dance" (Sting), culminando com um instigante tema do próprio pianista, "Dark Territory", além do lindíssimo tema-título "Haunted Heart" (Dietz & Schwartz).
Marc Copland é um pianista acima de tudo moderno. Pouco interessado em exibir sua técnica. Mas sim preocupado em criar pelo caminho mais dificil e envolvente do jazz contemporâneo: a harmonia. "His harmonic sohpistication, his touch, his control of dynamics with the foot pedal have all become-well-the- stuff of legend. There are actually stories of young piano players who got to a Copland gig and then sit right near the stage to stare at his feet, to observe the nuance of how he works the damper pedal of the piano" (AllAboutJazz.com).


DON SEBESKY

18 outubro 2004

Pianista, maestro e arranjador entre outros de Wes Montgomery, Paul Desmond e Freddie Hubbard, tendo inicialmente tocado trombone na orquestra de Stan Kenton, conta hoje com gravações em CD e com grandes orquestras, de trabalhos para temas de musica clássica, além de tributos a Duke Ellington e Bill Evans, quase sempre sem nenhum apelo de mídia e muito menos dos críticos; no "Penguin Guide" por exemplo, só é citado como "sideman", não tendo por isso mesmo nem sua discografia publicada.
Discípulo ou seguidor mais fiel de Gil Evans, por não usar os tradicionais grupos de instrumentos solo em sequencia - trumpete, trombone e sax -, tem seu forte nos arranjos bastante originais e vigorosos.
Assim venho aqui resenhar um trabalho que me chamou a atenção e que desconheço o registro em CD, chamado "Full Cycle", pela gravadora Gnp Crescendo, com 6 "standards" (seus favoritos), que realmente é do mais alto nível e extremo bom gosto.
A abertura é com um dos mais conhecidos temas do J.Coltrane, "Naima" destacando-se o naipe de sopros liderados por Lew Soloff, Jon Faddis e Alan Ralph, em total simbiose com os pratos do baterista Jimmy Madison e o teclado de Sebesky, dando uma grande dimensão ao tema.
A segunda faixa é "Django" do saudoso pianista do Modern Jazz Quartet, John Lewis, aqui gravada em uma versão definitiva com 10:31 minutos, onde Sebesky deixa os musicos à vontade para os improvisos, notadamente e mais uma vez os sopros, bem como de seu irmão Keneth Sebesky na guitarra.
O terceiro tema é talvez o menos conhecido, sem deixar de ser um "standard" chamado "Intrepid Fox", de autoria do seu amigo fraterno Freddie Hubbard, e que é o mais curto (4:07 minutos) e vigoroso de todo o disco, com grande destaque para o baixo de Jay Leonhart.
A quarta musica é na verdade o retrato do Bill Evans, seu autor, a quem já dedicou um CD "I Remember Bill" (1998) e só poderia ser "Waltz For Debbie", que tem aqui uma versão bem particular que acho agradaria em muito ao proprio Bill, pois Sebesky manteve todo o lirismo, essencia maior do tema.
Em seguida, um dos clássicos do jazz e de Miles Davis "All Blues", que confesso não estar, a meu ver, no mesmo nível dos demais, por não trazer qualquer novidade em termos de arranjo, sem nenhum brilho ou participação individual, talvez por querer algo mais por se tratar de um dos meus favoritos.
Para terminar, um tema do Bud Powell chamado curiosamente "Un Poco Loco", que vem fechar o disco na maior pressão e cheio de dissonantes e com grande estilo.
Esse trabalho totalmente original de Don Sebesky, gostem ou não (este questionamento é principalmente para o Benexis, a quem já fiz uma cópia para melhor avaliação ???).



P.S.: Deixo ainda registrado aqui meu repudio a declaração do Marcelo Madureira no programa do GNT "Armazém 41", que para ele todos os jazzófilos deveriam ser colocados em um navio para ser explodido em alto mar, que não fariam a menor falta...
Falta sim de total sensibilidade de uma pessoa tida como formadora de opinião??? (esconjuro, Satanás...)

O DIA DO MESTRE

17 outubro 2004

Sexta-feira passada, dia 15, era o Dia do Mestre e assim foi comemorado em todas as escolas brasileiras e também e principalmente na que funciona no ambito deste CJUB. Coincidentemente, era o dia do aniversário do nosso amigo e principal mentor, José Domingos Raffaelli, o Raf.

Assim, nosso tradicional almoço realizado sempre nesse dia no restaurante da Associação Comercial do Rio de Janeiro, mais amistoso e animado do que nunca, foi uma rendição de homenagem a esse companheiro sobre cujos caráter, elegância e educação não é preciso discorrer. E cujo conhecimento sobre tudo o que se refere ao jazz - sem falar do futebol - o transforma numa enciclopédia de consulta quase inescapável por parte dos que o cercam, uma referência imediata e saborosíssima pois que todas as respostas vem abrilhantadas por sua visão histórica e sempre ricos comentários, sem falar de sua inesgotável paciência.

Com a mesa próxima de sua capacidade limite, e muito valorizada pelas presenças charmosas de LaClaudia e de PegLu, o Mestre foi saudado por Bené-X e pelo Goltinho em speeches de improviso e em seguida teve celebrada sua data com o parabéns tradicional cantado por todos, mais o Ramiro e os garções, apoiados pelo piano do Roberto que, para finalizar a homenagem, ainda tocou o Hino do Botafogo, time do coração de ambos.

A conversa, animada, sobre jazz e as realizações passadas e futuras do CJUB continuou a fluir e LaClaudia aproveitou para discorrer sobre as possibilidades do Copa vir a ser um possível templo de realizações musicais de porte e qualidade no futuro, se atendidos alguns requisitos ainda pendentes. A abertura da produção para os concertos cantados, que se iniciará com a próxima produção do CJUB no Mistura Fina, no dia 28 deste mes de outubro, quando Wanda Sá fará sua estréia mundial cantando temas jazzísticos, tomou então conta da mesa e foi motivo de inúmeras sugestões e pedidos pessoais ao produtor Sazz, com todos querendo incluir este ou aquele seu tema favorito para ouví-lo na voz da musa. A propósito, aguardem as próximas novas a respeito, aqui, em breve.

Foi uma bela tarde, registrada pelo Marcelink em vídeo e em fotos, que contou ainda com a presença do Marcelón. Manim, o outro aniversariante do mes que também seria ali saudado, não pode comparecer, preso a inadiável compromisso profissional. Poderá, entretanto, ver o que perdeu assistindo aos registros dessa memorável reunião.

Longa vida aos amigos! E, como gritava certo membro, hoje distanciado por motivos pessoais, CJUUUUUUUUB a todos!

MARCEL BADEN POWELL NO TRAITEURS DE FRANCE

13 outubro 2004

Nas próximas quintas feiras do mes de outubro, 14 , 21 e 28, o excelente violonista MARCEL BADEN POWELL, estará se apresentando no Bistrot TRAITEURS DE FRANCE , R. Mq. de São Vicente, n. 86, tel: 22590408.(100 mts. depois do Shopping da Gávea).
A apresentação está marcada p/ iniciar as 20:00h.

É isso aí.

Zénrik.

RED GARLAND ( 1923/84 )

Pianista que considero dos mais elegantes, ainda do "bebop", muito embora seja mais conhecido pelo fato de ter acompanhado Miles Davis e John Coltrane entre os anos 50/60, tem sua obra bastante completa como lider, principalmente na gravadora Prestige e nas mais diversas formações, sendo a grande maioria em trio com Paul Chambers (baixo) e Art Taylor (bateria). Assim, poderia resenhar, por exemplo, um dos seus "hits" como Groovy ou quem sabe Soul Junction com Donald Byrd e John Coltrane. No entanto, preferi um trabalho menos conhecido e divulgado, pois foi na epoca em que esteve recluso, nos anos 70, chamado "Equinox" (tema do Coltrane, por sinal), gravado na Fantasy em Agosto de 1978 e acompanhado de Richard Davis (baixo), - um dos meus tops - e Roy Haynes (bateria), aliás único trabalho do trio, que abre com "It's All Right With Me" (Porter), que dá de cara o recado de que trata-se de musica para quem gosta de fortes emoções. São apenas 7 temas além dos 2 já citados mais "Hobo Joe" (Henderson), "Cute" (Hefti), "Nature Boy" (E.Ahbez) em que Davis toca sempre de arco, em uma interpretação que simplesmente não deixa pedra sobre pedra, além dos clássicos "On a Clear Day" (Lerner-Lane) e "You Are Too Beautiful" (Rodgers-Hart).

Enfim, um disco que acho não pode faltar em coleções de quem tenha sensibilidade e paixão por essa musica chamada JAZZ.

DANIEL GARCIA LANÇA SEU CD

O excelente sax-tenor Daniel Garcia, que já se apresentou em produções CJUBianas em três oportunidades, a última num belíssimo Tributo a Dexter Gordon em julho passado, comunica que estará fazendo o lançamento de seu CD, Caminho, nesta sexta-feira, 15 de outubro, no Leblon Lounge, que fica no Rio Design Center do Leblon, às 19 horas.

Daniel apresentará então o repertório desse seu belo CD, na companhia dos músicos que formaram a seu lado na gravação: Dario Galante ao piano, August Mattoso no contrabaixo acústico e o Rafael Barata na bateria.

É um programa de primeiríssima categoria para os apreciadores da música instrumental e quando haverá oportunidade não apenas de conferir a bela integração musical do grupo como também de apreciar algumas composições originais de Garcia, num local civilizado que se firma, sob a batuta do querido Ruy Martinelli e dos irmãos Portinari, como ambiente com as qualidades necessárias e suficientes para uma bela audição de música de qualidade.

Todos lá! E os que forem sábios que reservem antes pois a afluência deve ser enorme.

GILLESPIE E O TRIO MOCOTÓ

12 outubro 2004

Por Arlindo Coutinho

Parece-me que foi em 1971, quando Gillespie voltou ao Brasil para uma série de apresentações. Ele tocaria no cinema Astoria (Ipanema), na mesma noite em que Charles Mingus daria um concerto no Teatro Municipal.

Naquela tarde, eu e Jonh (Gillespie) fomos almoçar com Maurício Quadrio, diretor da Polygram na época, que avisou sobre uma gravação reunindo "Birks" e o Trio Mocotó, a se realizar em São Paulo, para a qual, claro, fui convidado, mas a que, por questão de ética (eu então dirigia o Departamento de Imprensa da CBS), resolvi não assistir.

Dias depois, Gillespie me telefona, querendo marcar um encontro no Rio, pois estava de partida para Nova York, naquela noite.

Enquanto ele arrumava as malas, perguntei-lhe como tinha sido a gravação.

- Gostei, achei o trio com muito swing e todos extremamentes simpáticos. Acho que ficou muito bom, mas quanto a lançamento do disco, isso é com a gravadora, me disse.

Fui logo dizendo o quanto gostaria de ouvir aquele trabalho e, de repente, Gillespie abriu a mala, da qual tirou um tape profissional, que me entregou, pedindo que evitasse divulgar, e dizendo:

- Guarda isso com você. Na minha próxima vinda eu pego e levo comigo.

Após deixar Gillespie no aeroporto e levar a fita para casa, pedi a um amigo, engenheiro de som dos estúdios da CBS, que me deixasse ouvir o tal "tape" no estúdio de oito canais da mesma CBS. Nem na fita nem na caixa, estranhamente, havia label (relação das faixas e autores, e tempo da gravação).

Ouvi o tape duas vezes apenas. A primeira faixa achei sensacional, mas as demais, penso terem sido algumas das várias experiências musicais que John gostava de fazer com músicos de outros países.

Só não entendia o que aquela fita estava fazendo comigo.

Gillespie voltou várias vezes ao Brasil e, sempre que nos encontrávamos, eu sempre fazia a mesma pergunta:

- John, o tape está comigo; quer que lhe entregue ?
- Vai guardando com você que um dia eu pego, ele repetiria anos a fio, sem nunca me perguntar sequer se eu ouvira o tape. Mistérios de John Birks Gillespie.

Passaram-se os anos, Dizzy morreu, mas aquele trabalho ficou registrado e sob minha guarda, embora sempre mantivesse minha palavra, quanto a não divulgá-lo jamais.

No ano passado, porém, ligou-me Oswaldo Vidal, engenheiro de som na época da gravação e ex-vice-presidente de operações da Sony, dizendo que havia visto no Programa do Jô Soares uma entrevista com o Trio Mocotó, na qual se referiram ao sumiço de um certo tape contendo o encontro deles com Dizzy Gillespie.

Vidal, sabendo da minha amizade com Gillespie, perguntou se eu sabia do paradeiro da tal fita e aí resolvi abrir o jogo, não sem antes pedir-lhe idêntica discrição:

- A fita está comigo, não sei se há cópias e nem se esse tape é o original, disse-lhe, contando como a fita chegara às minhas mãos.

Levei o tape para sua casa, que abriga um estúdio, no Cosme Velho. Como engenheiro de som, ele garantiu não haver mixagem, que ficou de fazer, para, depois, digitalizar. Mas não tirou nenhuma cópia, tenho certeza.

Quanto ao Maurício (Quadrio), conforme instruções de Gillespie, nunca toquei no assunto com ele e não sei se há outra cópia da fita, como desconheço, aliás, o paradeiro de outro tape, do mesmo Gillespie com a Bateria da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Essa talvez estivesse com o Maurício, que, todavia, nos deixou ano passado.

Essa é a história definitiva, depois de tantas versões sobre o "sumido" tape de Dizzy com o Trio Mocotó, agora "encontrado" e de posse do CJUB.

Pelos menos essa é a minha versão.