Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

6º CHIVAS JAZZ LOUNGE - MISTURA FINA, 29/10/2003 - @@@@

05 novembro 2003

A felicidade de José Domingos Raffaelli, com justiça reverenciado pela turma do CJUB como Mestre - e ele o é, de todos os jazzófilos brasileiros - justificou-se amplamente.

Afinal, o 6º CJL, a ele dedicado pelo produtor Luiz Carlos Fraga, disse a que veio, com o excepcional Tributo a Charlie Parker engendrado pelo produtor, que para o desafio escalou o operoso baixista Adriano Giffoni e seu quinteto, formado por Idriss Boudrioua (sax alto), Altair Martins (trompete e flugelhorn), Felipe Poli (guitarra) e Amaro Júnior (bateria).


O grupo, que dispensou o piano em busca de uma proposta harmônica mais ousada, com a guitarra liderando a seção rítmica, passou com louvor na prova maior que representa enfrentar o songbook parkeriano, verdadeira bíblia do jazz moderno.


Um set list com nada mais nada menos que 9 (nove) temas de Parker já valeria o ingresso e dispensaria comentários adicionais, tal a vitalidade das ações de Bird, clássicos para sempre, à altura dos "fundamentos" do passado, Bach, Mozart e Beethoven.


Mas o modus adotado pelo combo, esse sim mereceu atenção ainda mais especial.


A desenvoltura de Adriano Giffoni é por todos os seus colegas conhecida e reconhecida, como dão prova suas atuações ao lado das mais importantes figuras da música popular e instrumental brasileira. Sua inesgotável capacidade de ancorar os mais diferentes arranjos, sempre de modo sólido e competente, repetiu-se, com êxito total, em ambos os sets. O surpreedente, de certa forma, foi constatar que Giffoni é, também, um solista de jazz excepcional.


Se, de um lado, é verdade que a chamada "única arte original dos EUA" revelou dezenas de contrabaixistas geniais no dom de harmonizar e "pulsar" a música americana, não será absurdo dizer, de outra parte, que poucos deles se destacaram no dificílimo ministério dos "solos", até porque estes, em princípio, nasceram, a exceção do piano, para os instrumentos melódicos, e estes para aqueles.

Giffoni, porém, mostrou uma verve de idéias luminosas ao longo de seus chorus e uma "limpeza", quase que "pré-ordenada", na execução destes, que, de fato, causou sólida impressão, ainda mais se confrontadas estas virtudes com a difuldade técnica que impunha àquelas belíssimas frases.


De Idriss Boudrioua pouco resta a falar, já que, desde muito antes do 1º CJL - ao qual também atendeu no quinteto de Dario Galante - o saxofonista vem ratificando musicalmente aquilo que costuma responder aos que dizem-se saudosos de seu sax-tenor: "o alto é meu 3º braço, já nasci com ele". De fato. Boudrioua é o Phil Woods brasileiro, o que não é pouco, diante do estatura do maior discípulo de Parker vivo. Raciocínio supersônico, bom gosto à toda prova, noção exata de como construir as improvisações e domínio total do universo bebop foram alguns de seus predicados em maior evidência naquela noite.


A seu lado, Altair Martins apresentou desenvolvura mais que suficiente para alinhá-lo com os grandes nomes do trompete brasileiro de hoje. Sua compreensão dos arranjos e o modo muitas vezes original como alternou-se ao saxofone em contraponto nas harmonizações, associado a inventivos improvisos, tanto no som aberto quanto usando as surdinas, deram-lhe destaque à parte no concerto.

Felipe Poli é dono de um timbre rico, muitas vezes casado com o som de Kenny Burrell, em especial em ambiente mainstream. Sua competência não deixou qualquer saudade do piano, instrumento ausente no formato escolhido pelo líder. Ao contrário, o guitarrista contribuiu decisivamente para o frescor dos arranjos, cujo grande achado foi o de manter a "pressão" natural dos temas, sem abrir mão da originalidade em sua leitura.

Já por em nada destoar de tão valoroso conjunto, tal, por si só, qualificaria a ótima performance do baterista Amaro Júnior, o que, se considerada sua juventude, multiplica exponencialmente seu potencial como instrumentista, a ser logo percebido, é certo, pelos gigantes de nossa música.

Além das obras do homenageado, que preencheram todo o 1º set e boa parte do 2º, Giffoni mostrou, na sessão seguinte, três composições próprias, a balada "Tema da Tarde", o "sambaião" "Nem Lá, Nem Cá" e a didática "Duo Número Um" (só baixo e bateria), todas com inspiração bastante para arrancar aplausos tão efusivos quanto aqueles dispensados aos temas mais familiares à inflamada platéia.

O Tributo não esqueceu de clássicos da música americana cujas versões de Bird ficaram célebres como All the Things You Are e Laura, esta última oferecida no bis ao produtor da noite, que presente melhor não poderia sonhar em receber. Foi o ápice de uma noite luminosa, que superou todas as expectativas e consolidou no cenário artítisco o papel do CJUB como uma das forças motrizes da boa música na cidade.

Que venha o Jazz Panorama de Marcelink !

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