Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

RON CARTER QUARTET, 2º SET, MISTURA FINA, 11/4/2003

13 abril 2003

Noite fabulosa experimentou a mesa do CJUB, sexta passada, diante do quarteto de Ron Carter, na habitual passagem que o grupo faz pela cidade (praticamente) todos os anos, sempre visitando o palco do Mistura Fina. MauNah, Sazz, DeFrag e Bene-X formaram a - felizarda - Reportagem. Segue resenha.

No deserto jazzístico em que transformou-se o Rio nas últimas décadas, prestigiar a vinda de um músico como Ron Carter, passou a ser, pelo menos para os fãs do gênero, quase uma obrigação, um verdadeiro "dever de casa" para os aficcionados.

Sabe-se que Carter, por diversas vezes, ultrapassou as fronteiras do Jazz, participando de milhares de gravações, várias fora daquele estilo, do qual, entretanto, tornou-se, sem dúvida, o mais famoso dos baixistas, dividindo o posto, talvez, com Charles Mingus apenas.

Participou do inovador "2º quinteto" de Miles Davis, que, nos anos 60, projetou, também, Herbie Hancock, Wayne Shorter e Tony Williams, todos buscando, depois, em seus projetos individuais, agregar, em maior ou menor escala, elementos do "fusion".

Voltou a flertar, porém, com a Música Clássica - ambiente de sua formação original, como violoncelista de orquestra - em álbuns de resultado dúvidoso, exercitando-se, em outras oportunidades, no Piccolo Bass (irmão bissexto do tradicional Upright) cuja sonoridade, principalmente ao pizzicato, assemelha-se à do cello tocado, outrora, p.e., por Oscar Pettiford e Sam Jones.

Na década passada, retornou ao mainstream com um quarteto que permanece ativo, tendo Stephen Scott ao piano, Steve Kroon na percussão e Payton Crossley, integrado, nos últimos anos, em lugar de Lewis Nash, na bateria.

O grupo deu mostra, ontem, de impressionante vitalidade, mostrando um nível de interação elevadíssimo, que só combos "extra-classe" conseguem atingir.

O setlist foi apresentado de forma inusitada, concentrado em forma de uma suíte que, com 50 minutos, tomou quase toda a 2ª sessão e teve em Seven Steps to Heaven sua abertura, encerramento e a bridge para diversos temas, como Blue in Green, Willow Weep for Me, Blue Bossa e Estate, entre outros, servindo ora a desenvolvimento maior, ora, muitas vezes, como mera citação.

Stephen Scott é, como tantos jovens jazzmen de hoje, um músico completo, requisitadíssimo por young lions e giants. Seu mérito indiscutível é possuir, tão cedo, um qualificado fraseado característico, um "som só seu", que, gostos à parte, o distingue dos colegas e revela seu talento superior.

Payton Crossley mostra-se prudente e eficaz, responsivo aos estímulos do piano e do líder, na mesma medida de seu par rítmico, Steve Kroon.

Todos catalisam e reagem quase que intuitivamente à usina sonora representada pelo baixo de Carter, senhor absoluto do instrumento, dono de intrincada digitação e "abusando" de acordes, originalidade ímpar nos glissandos e intervalos, trinados impecáveis e tudo o mais capaz de levar a platéia, em geral, ao delírio, e os baxistas, ao desatino.

O conjunto encerrou o set com You and the Night and the Music, trazendo, com ela, o ponto alto da noite, um solo do líder, como há muito aqui não se ouvia, sem interrupção do tempo da música, ou seja, um solo dentro do trilho do walking bass, incrivelmente inventivo e energético, à moda dos baixistas anteriores a Scott LaFaro.

My Funny Valentine foi o gentil encore eleito para a convocação final, a de que todos, ano que vem, aficcionados ou não, façamos o "dever de casa", acorrendo ao Mistura no "holyday in Rio" de Ron Carter.

Bene-X

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