Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

MARIA RITA MARIANO, 29/4/2003, MISTURA FINA - @@

30 abril 2003

ELIS REGINA, 29/4/2003, MISTURA FINA - @@@@@

Após sentida ausência, Elis Regina retornou aos palcos cariocas em breve temporada no Mistura Fina, mostrando, mais uma vez, por quê continua sendo, até hoje, a única cantora brasileira a ostentar a aura de mito.

Estrela maior de nossa constelação vocal, Elis nunca deixou de renovar-se, mas, agora acompanhada pelos jovens Tiago Costa (piano, destacadíssimo), Marco da Costa (bateria) e Giba Pinto (baixo elétrico), todos de São Paulo, preferiu repetir a receita que a consagrou, mesclando compositores da sua e atual gerações, com arranjos simples - porém eficientes - do trio, e do antigo colaborador, César Camargo Mariano.

“Seduzir” (Djavan) abriu o espetáculo, seguida de “Menininha no Portão” (Wilson Simonal), “Só de Você” (Rita Lee) e “Vero” (Nathan Marques). Viriam, ainda, canções de Lenine, Zélia Duncan, Lula Barbosa e do próprio César Camargo, entre outros.

Para quem, por tantos anos, esperou para rever a “Pimentinha”, estava tudo lá: o timbre inconfundível; o gestual característico; o humor debochado ao dizer algumas das letras; a segurança na emissão, ameaçada paradoxalmente pela voz às vezes embargada, como, por exemplo, no dueto com o convidado especial, Milton Nascimento, em “Tristesse”, do último disco deste, “Pietá”.

Elis não canta “com” emoção. Elis É a própria emoção.

O “bis”, emblemático, rendeu homenagem ao melhor Milton e “Encontros e Despedidas” fez os olhos, já marejados, transbordarem.

Mas, se “tem gente a sorrir e a chorar”, a verdade é que a vida é “assim, chegar e partir”; “o trem que chega é o mesmo trem da partida” e “a hora do encontro é também despedida”.

Desculpe, Elis, de você nunca nos despediremos.


- §§§ -

Mas não era Elis. Não ? Não. Era Maria Rita. Maria Rita Mariano, filha de Elis.

Para quem conseguiu abstrair, tudo bem. Mas, quem conseguiu ? Quem conseguiria ?

E aí as coisas mudam, infelizmente.

O apelo da nova cantora, comum aos filhos de famosos que resolvem enveredar pela mesma arte dos pais, é o de sempre: evitar comparações - “ela é ela, eu sou eu”.

Como, se Maria Rita faz de tudo para parecer-se com a mãe ? Não bastasse o timbre praticamente igual, os gestos, a maneira de cantar e mais, de interpretar, tudo é igual. Literalmente.

O que não deixa de ter um (único) lado positivo, pois dezenas vem tentando há décadas imitar Elis, mas, só agora, uma foi capaz de conseguir, aliás, com perfeição. Só Maria Rita pôde e pode fazê-lo, sem soar “cover”, pois, no caso dela, é tudo “genético”, “hereditário”.

Pode ser, mas a verdade é que Maria Rita só não é “cover” de vez, porque as músicas que canta são diferentes das do repertório da mãe.

Afinal, chorou o público pela qualidade das músicas, pelo talento da jovem intérprete, ou, era mesmo, de saudade de Elis ?

O que não era toda aquela emoção coletiva senão a dolorosa nostalgia da diva cuja morte precoce a todos atordoou, numa catarse precipitada pelo teatro de semelhanças a que - masoquistas alguns, ingênuos outros - acorremos.

Em Elis, tudo era legitimamente original ou intuitivo. Tudo era verdade. Num “sósia” - qualquer um - parecerá premeditado, como ficou claro ontem, embora só depois de passada a turbulência psicológica em que toda audiência foi lançada.

Maria Rita mandou o recado errado pelos jornais. O show é, acima de tudo, a comparação. As vezes, só isso.

É claro, de todo modo, que ela mostra a inclinação e os recursos para tornar-se uma grande cantora. Ninguém que não fosse grande imitaria Elis tão perfeitamente e com resultados tão impressionantes.

Entretanto, devem avisá-la, com urgência, que o caminho da originalidade - da verdadeira arte - enfim, passa longe do lugar-comum “não admito comparações”, a que tanto faz questão de se apegar.

Muito melhor assumir todas as semelhanças e, como a mãe sempre fez, arriscar, ousar, aceitar o desafio: “Sigo de onde ela parou”.

Aí sim, teremos uma nova Elis Regina: Maria Rita Mariano.

Bene-X

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