Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

4. Strange Fruit

06 fevereiro 2003

A eleição de "Strange Fruit" entre minhas músicas favoritas se deve basicamente a dois motivos: em primeiro lugar, e por óbvio, incluir Billie Holiday; depois, e igualmente importante, pelo contexto histórico da música. Vamos por partes.
Billie Holiday é companhia frequente em minha vida, desde minha infância, quando, me recordo, papai chegava em casa diariamente com um disco e um livro. Naquele dia em que o vi com o "Songs for Distingué Lovers" percebi que ali estava a tradução mais perfeita do que eu poderia considerar como sentimento. Aquela voz rascante, que denunciava a mais sofrida das existências, me conquistou de imediato, e, ainda que o repertório daquela "bolacha" não incluísse a música aqui eleita, as baladas que o recheiam me causam arritmia desde então.
Confesso, ainda, que a música de Lady Day que mais emociona é "The Man I Love", uma canção que agrega, para mim, todas as nuances que a conjugação música/emoção pode oferecer.
Com "Strange Fruit", entretanto, acho que Billie deu a largada na onda de manifestos contra o infinito preconceito racial que havia (?) na sociedade americana. Na histórica noite de 20 de abril de 1939, no Café Society de Nova Iorque, Billie cantou esta balada pela primeira vez, antecipando, em décadas, a marcha que viria ser liderada por Martin Luther King em 1964. Muitos anos se passaram até que a música fosse cantada novamente, dada a repercussão contrária a partir daquela apresentação.
De letra tristíssima, as "frutas estranhas" eram, na verdade, os cadáveres de negros linchados e pendurados em árvores, e traduziam a indignação mais pujante contra a segregação social.
No disco Lady Day (1939-1944), selo Commodore, encontra-se a gravação da histórica noite no Café Society, em gravação que a Columbia se negou a registrar, e, se me fosse dada a capacidade de resumir o significado desta inesquecível canção, faria minhas as palavras de Tony Bennett: "Quando se ouve Billie Holiday cantando Strange Fruit é como ter uma audição de sua própria autobiografia".
Que felicidade ter a companhia de Billie Holiday durante toda uma encarnação...

"Southern trees bear a strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black body swinging in the Southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar tress (...)".

Nenhum comentário: